quarta-feira, 13 de maio de 2015

A entrevista de Bruno de Carvalho

Empréstimo obrigacionista

Nada de novo foi revelado. Foi um momento de divulgação da emissão das obrigações do clube, cuja taxa é efetivamente atrativa. Gostaria no entanto que tivessem sido feitas duas perguntas ao presidente:

1) Dos 30 milhões, apenas 20 são para pagar o empréstimo obrigacionista que vence; os restantes 10 milhões terão que finalidade?

2) Serão tomadas medidas para garantir que não entramos num ciclo vicioso de empréstimos obrigacionistas com montantes a crescer gradualmente, tal como temos visto acontecer no Benfica e Porto?

Bruno de Carvalho realçou por várias vezes o facto de 6,25% ser a taxa mais baixa de sempre dos empréstimos obrigacionistas contraídos pelo Sporting. Pode parecer desajustado o presidente estar a puxar dos galões em relação ao facto de ser a taxa mais baixa quando as taxas de juro no sistema financeiro estão num mínimo absolutamente histórico, mas a verdade é que se as contas do Sporting não estivessem equilibradas teríamos provavelmente que pagar juros ainda mais altos para atrair subscritores.


Fair Play Financeiro

Bruno de Carvalho salientou que todo o esforço colocado pela direção no processo de reestruturação financeira e numa gestão rigorosa foi decisivo para a UEFA decidir não punir o clube com penas efetivas. Parece-me uma afirmação que não merece qualquer discussão, e a melhor prova disso pode ser encontrada comparando a forma como o Sporting (não) foi punido com as sanções aplicadas a todos os outros clubes que estavam sob avaliação da UEFA.


Auditoria de gestão

Bruno de Carvalho explicou o atraso pelo facto de o trabalho de obtenção de documentação e informações relevantes ter sido muito mais complexo e demorado do que inicialmente tinha sido previsto. Segundo o presidente não é uma auditoria qualquer: é a auditoria. Como tal, a qualidade do trabalho efetuado é a principal preocupação - por mais atrasos que isso possa implicar ao planeamento feito no momento em que foi os termos da auditoria foram anunciados.


Pavilhão

Este tema foi explicado de forma bastante esclarecedora por Bruno de Carvalho. Em primeiro lugar, não houve quebra de contrato porque nenhum contrato foi assinado. A 14 de janeiro o Sporting decidiu adjudicar a obra à Somague, houve posteriormente várias reuniões, o lançamento da primeira pedra foi realizado com a anuência da Somague a 27 de março, e a 2 de abril (pela primeira vez) a Somague fez à Ficope o primeiro pedido adicional de verba, recusando-se a assinar o contrato segundo os termos previamente acordados. A construtora deu como alternativa dividir a obra em duas fases, realizando a primeira e atribuindo a segunda fase a outro empreiteiro. 

Num projeto que o Sporting sempre afirmou ser obrigatoriamente de preço fixo e chave na mão, a atitude da Somague é obviamente incompreensível e inaceitável.

O contrato já foi assinado com outra empresa e os prazos deverão derrapar 3 meses devido a questões de licenciamento do projeto. A inauguração está agora prevista para março de 2017.

Bruno de Carvalho insinuou também que estas complicações colocadas pela Somague podem estar ligadas ao facto de o presidente da construtora fazer parte da administração do FC Porto.  


Rumores de transferências

Dos 27 jogadores falados pela comunicação social para reforçar a equipa, nem um corresponde à realidade. Em relação às saídas, Bruno de Carvalho reafirmou que o clube não quer nem precisa de vender ninguém.

"Qualquer dia um jogador compra um novo carro [e a comunicação social dirá que é] para acelerar mais na autoestrada para se ir embora".

Segundo o presidente, o Sporting está a olhar para o mercado com menos rapidez do que seria desejável porque ainda tem duas fontes de receitas importantíssimas não asseguradas: o patrocínio das camisolas e a incerteza da participação na Liga dos Campeões. Disse também que o Sporting não pode gastar o dinheiro que não tem, já que está sob avaliação no âmbito dos compromissos assumidos com a UEFA (Fair Play Financeiro) e credores (programa de reestruturação financeira).

Duvido que o Sporting não precise efetivamente de vender alguém, mas é normal que o presidente não se demonstre muito desejoso de vender. O que parece inevitável é que as contratações dependerão diretamente das vendas que venham a ser feitas.


Bilhetes para a final da Taça

O Sporting colocou à venda 9.284 bilhetes, que contrasta com os 5.246 (!) bilhetes que a anterior direção vendeu em 2012 para a final com a Académica. Todos os bilhetes disponibilizados para o Sporting foram colocados à venda, exceto aqueles que foram entregues ao abrigo de compromissos institucionais, acordos comerciais e patrocinadores, núcleos e claques. Bruno de Carvalho destacou também o esforço em realizar a venda dos bilhetes com regras claras e de forma altamente organizada.

Isto parece-me indiscutível.

Mais importante foi o recado para os sportinguistas que o presidente mandou no final: "Eu fico triste, muito triste, de não poder ter 100.000, 200.000 sportinguistas na final do Jamor, mas não posso deixar de dizer enquanto presidente do Sporting que fiquei muito triste, numa meia-final importantíssima que o Sporting necessitava de vencer para chegar a esta final, pouco mais de 19.000 pessoas decidiram ir a Alvalade apoiar a equipa. Nós temos que estar presentes na caminhada toda.". Chapeau.


Balanço geral da entrevista

Entrevista interessante e esclarecedora sobretudo em relação ao tema do pavilhão e ao ritmo de preparação da próxima época. Fico particularmente descansado por ver que a direção não está disposta a correr riscos na preparação da época assumindo pressupostos que poderão não se verificar. E mais uma vez Bruno de Carvalho demonstrou não ser o presidente populista que muitos gostam de o apelidar. Não tem medo de dizer a verdade, por muito que custe ouvi-las, doa a quem doer - nomeadamente aos próprios sportinguistas. Isto é a perfeita antítese do populismo.