terça-feira, 28 de julho de 2015

O maravilhoso mundo dos fundos de "investimento"

Notícias recentes dão conta de que o Benfica será obrigado a comprar os 50% do passe de Ola John que são propriedade da Doyen por cerca de 6 milhões de euros, caso o jogador não seja vendido até ao final desta janela de transferências.

O holandês foi adquirido pelo Benfica em maio de 2012. Na altura a imprensa divulgou um valor de transferência de €9M, podendo chegar aos €12M se determinados objetivos fossem cumpridos.

O R&C anual de 2011/12 da SAD benfiquista apresentou valores mais exatos: €9,15M. O montante aparece dividido em dois quadros diferentes, pois está organizado em função do prazo de pagamento acordado com o Twente (corrente = prazo inferior a 1 ano; não corrente = superior a 1 ano):



Na altura o Benfica ainda era proprietário de 100% do passe do jogador.


No relatório do 1º semestre de 2012/13, o Benfica já tinha concretizado a venda de 50% do passe de Ola John à Doyen, apresentando uma dívida no total de €4,713M em relação ao fundo.



O valor devido à Doyen tem vindo a aumentar. Desconheço se por uma questão de atualização em função dos objetivos cumpridos pelo Benfica que se tenham pago ao Twente, se por penalizações pelo facto de o jogador não ter sido vendido. Estou mais inclinado para a segunda hipótese, pois o aumento é sistemático e bastante linear - e duvido que a componente variável acordada com o Twente tenha tantos critérios e que sejam atingidos com tanta regularidade.

A evolução do valor devido à Doyen foi o seguinte ao longo dos trimestres:

Fonte: R&C da Benfica, SAD

O ritmo da evolução é consistente com os 6M que se diz que o Benfica terá que pagar caso não venda o jogador. Provavelmente, o valor que a Doyen pagou terá sido cerca de €4,5M, logo após o fecho da época 2011/12.

Como é conhecido, Ola John nunca se conseguiu impor no Benfica. A Doyen investiu €4,5M em 50% do passe, mas ao contrário daquilo que é normalmente considerado um investimento, o fundo não corre quaisquer riscos. Nem sequer tem gastos com os salários e prémios do jogador - esses ficam totalmente por conta do clube. 

Pelo contrário: na pior das hipóteses, em 2 anos e meio a Doyen conseguirá um lucro de 1,5M - que equivale a um juro anual de cerca de 10%. Qualquer um de nós ficaria encantado se os nossos investimentos tivessem este patamar mínimo de retorno.

Mas como é evidente, caso o jogador tivesse tido sucesso e vendido por uma verba avultada, o fundo estaria pronto a receber a sua fatia por inteiro. Com parceiros destes - que dividem os benefícios mas nunca o risco - quem precisa de inimigos?