quinta-feira, 16 de julho de 2015

Ouro sobre azul

Ouro sobre azul. Foi esta a expressão que me veio logo à cabeça quando se começou a falar no contrato milionário que Maxi Pereira teria à sua espera no Porto. Na altura falava-se num contrato de 4 anos a valer cerca de 4,5M brutos por época, ao qual certamente se acrescentaria um chorudo prémio de assinatura para o jogador e uns generosos honorários pelos préstimos de Paco Casal. Entretanto soube-se hoje que afinal o contrato foi apenas de 3 anos, mas em contrapartida começa a ser insistente a notícia de que um outro jogador do empresário que rumará ao Dragão, à semelhança dos emplastros que o Benfica fez o favor de contratar aquando da última renovação do uruguaio.

Ouro sobre azul. Pelo melão causado aos lampiões mais bazofientos, pelo facto de ser uma saída de um jogador muito útil que já fazia parte da mobília dos bicampeões, mas sobretudo pelo encargo que representará para o Porto. Maxi é bom jogador, mas não vale nem de perto nem de longe os valores de que se falam.

Ouro sobre azul. Porque deixa à vista de todos que Vieira só é bom negociador enquanto tiver notas para colocar na mesa. A capacidade de negociação é 90% disponibilidade financeira para satisfazer as exigências de quem se quer contratar. São poucos os casos em que a lábia ou o talento para o bluff consigam superar uma proposta que seja financeiramente superior. Não estou a dizer que Vieira fez mal ao decidir não igualar a proposta do Porto - pelo contrário, seria uma irresponsabilidade fazê-lo.

Ouro sobre azul. O Porto é um clube que tem um défice operacional tremendo e, apesar disso, começou a apostar na contratação de jogadores com salários milionários e com uma probabilidade nula de virem a render uma mais-valia significativa numa transferência futura. Esta nova tendência junta-se ao velho vício dos TPO's (ou TPI's, como preferirem), em que parte significativa das eventuais receitas de uma futura venda já estão atribuídas a terceiros - nomeadamente dos atletas com maior potencial de valorização. E estarão para chegar mais jogadores nestas condições. Junte-se a isso o frenesim de contratar tudo o que mexe, independentemente de necessitarem dos jogadores ou não (André André, Sérgio Oliveira, Danilo Pereira chegarão a calçar este ano?).

Num ano em que para evitar prejuízo nas contas foi preciso venderem Mangala (ainda se está para saber o que foi dado à Doyen como contrapartida de terem abdicado de 8M da fatia a que tinham direito), Defour, Danilo e Jackson, para além da receita extraordinária de Casemiro (totalizando cerca de 110M), em que se irá contabilizar dois prémios de participação na Champions (2014/15 e 2015/16), e uma receita invulgar na mesma competição fruto de uma fase de grupos com 4 vitórias e 2 empates e uma carreira que chegou aos quartos-de-final, fica a dúvida de onde desencantarão na época que agora inicia as receitas extraordinárias suficientes para evitar um estrondoso prejuízo. Conseguiram contornar uma penalização do Financial Fair Play aumentando o capital social através da incorporação de metade do estádio na SAD, mas esse estratagema só poderá ser usado mais uma vez. Depois acabou-se.

O que não brilha tanto nesta história toda? É que o Porto está a formar uma equipa que só não será campeã se acontecer algum desastre - curiosamente era também o que se dizia na época passada. E ainda virão mais algumas trutas, a julgar pelos insistentes rumores. Mas sempre neste prisma - ou jogadores feitos com contratos milionários que não se valorizarão, ou jovens promissores que chegam com o patrocínio dos fundos amigos.

Está visto que será este o rumo que Pinto da Costa irá seguir até ao fim da sua presidência. Escolheu-o não porque o considere a estratégia ideal, mas porque simplesmente já não tem capacidade para recuperar as fórmulas de gestão desportiva que lhe valeram tantos encaixes milionários durante a última década. A decadência é clara e a tendência será para piorar, pois cada vez o buraco será mais profundo. Pobre do homem que tiver a pesada responsabilidade de o suceder.