quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A resposta de Bruno de Carvalho a Mr. Burns

Adore-se ou abomine-se o estilo, a mensagem que o presidente do Sporting publicou na terça-feira em resposta à campanha benfiquista liderada pelo seu diretor de comunicação foi, como qualquer resposta de Bruno de Carvalho, contundente e impossível de ignorar. Num par de frases conseguiu colocar o dedo na ferida e expor o modus operandi dos responsáveis benfiquistas: levantar uma cortina de fumo cerrada que afaste as atenções das decisões (muito) discutíveis que têm tomado nos últimos meses e de uma infinidade de histórias mal contadas que dificilmente resistiriam a um escrutínio mais apertado de quem de direito. 

Na minha opinião, o essencial da intervenção do presidente pode ser lido neste excerto:
"... um clube onde os próprios sócios estão "demissionários". Tudo vale na guerra do faz de conta. Aí são verdadeiros campeões. Eles manipulam datas de fundação, números de sócios,números de adeptos, números de campeonatos, capas de jornais, textos, opinadores e comentadores. Tudo serve para tentar encobrir a convulsão interna que vivem."

Que ninguém duvide: desde que Jorge Jesus decidiu assinar pelo Sporting, têm sido constantes as provocações e as notícias plantadas de forma a tentar inverter a responsabilidade do fim da Ligação entre Jesus e Benfica - decisão que partiu do presidente benfiquista e que foi tomada exclusivamente por uma questão de ego pessoal e não por motivos desportivos ou financeiros, como posteriormente quiseram fazer crer.

Só para dar alguns exemplos, começaram por dizer que o Sporting pagou €5M de prémio de assinatura ao novo treinador (falso), que o Sporting tinha oferecido um salário muito superior ao que o Benfica lhe pagava (falso, como poderão ver num post que publicarei em breve), que o Sporting tinha oferecido um salário anual de €6M base (falso, esse é o valor que poderá receber se conquistar todas as provas), para além das histórias mal amanhadas dos SMS (onde é que eles estão?) e do incumprimento de contrato, da tentativa forçada de imputar a responsabilidade das dezenas de flops a Jesus e as contratações de sucesso à estrutura (uma incoerência óbvia), e colar ao treinador a responsabilidade exclusiva da falta de aposta na formação (que tem que ser obviamente dividida com os responsáveis pelo futebol).

A referência a Mr. Burns - que já era utilizada com frequência nas redes sociais - teve o condão adicional de desorientar o alvo da chacota. João Gabriel encaixou a resposta da pior forma possível, escrevendo uma mensagem no Twitter que acabou por ter o efeito contrário ao que esperaria:


Para quem não está tão a par destas convenções das redes sociais, João Gabriel usou mal a hashtag #cretinos (uma hashtag usa-se para etiquetar uma mensagem, e nunca, nunca é usada para repetir a última palavra do texto), que é mais ou menos a mesma coisa que um diretor financeiro se enganar a fazer um lançamento contabilistico básico ou um diretor de informática não conseguir distinguir um DVD de um CD. A gaffe foi bem apanhada pela equipa de social media do Sporting...


... que repetiu propositadamente o erro, e a partir daí o resto do país pegou nisso e inundou as redes sociais com erros à João Gabriel. Da fama de ser um diretor de comunicação que não soube escrever uma mensagem numa rede social num momento crucial - algo que deveria fazer parte das suas competências básicas - já não se livra.

Em relação à alcunha de Mr. Burns, apesar de as semelhanças físicas serem notáveis, penso que se justificaria mais uma associação de João Gabriel e do seu exército de acólitos a estas personagens:

João Gabriel (em cima) acompanhado por (da esquerda para a direita) José Manuel Delgado, Carlos Daniel, Rui Pedro Braz, Fernando Guerra, Diamantino Miranda, Joaquim Rita, João Querido Manha, Octávio Ribeiro, Vítor Serpa, Nuno Farinha e José Nunes...
... e Pedro Guerra (ao fundo, à direita)

Mas voltando à resposta de Bruno de Carvalho propriamente dita, parece-me legítimo que os sportinguistas se questionem se se justificava uma resposta do presidente a um funcionário do Benfica. Que alternativas existiam?

1) Não responder. Não era solução. João Gabriel e os seus mínimos têm feito uma campanha continuada contra o treinador do Sporting desde que Jesus decidiu trocar de clube. Com essa campanha conseguiram desviar as atenções dos seus próprios problemas e colocar pressão sobre Jesus nos momentos mais inconvenientes possíveis. Pensar que iriam parar se fossem deixados a falar sozinhos seria pura ingenuidade.

2) Responder através de uma figura hierarquicamente equivalente. Só vejo duas hipóteses na estrutura do Sporting: Octávio Machado ou Mário Carneiro. Octávio é um homem frontal e corajoso, mas é mais eficaz quando os alvos são homens do futebol. Mário Carneiro seria a pessoa hierarquicamente certa, mas na minha opinião a sua ação deve limitar-se sobretudo a aconselhar o presidente, evitando tornar-se também num protagonista. Se João Gabriel quer ser (e mal) um protagonista, não somos obrigados a incorrer no mesmo erro.

3) Responde Jesus, pois é um problema entre ele e o Benfica. Falso. A partir do momento em que é o nosso treinador, passa a ser um problema nosso. E apesar de Jesus ser homem para responder a quem quer que seja, tem mais com que se preocupar numa altura em que há tanto em jogo para o clube dentro das quatro linhas. A estrutura tem que estar também ao serviço do seu treinador nestes momentos.

4) Responde Bruno de Carvalho de forma politicamente correta. Bem, aqui voltaríamos à questão de vermos o presidente a responder a alguém hierarquicamente inferior. E uma resposta politicamente correta em Bruno de Carvalho soaria sempre a falso, para além de dificilmente ter o mesmo efeito dissuasor.

A minha opinião é que não existia nenhuma forma 100% adequada para reagir (ou não reagir), a partir do momento em que a comunicação do Benfica assenta numa estratégia muito pouco ortodoxa: um presidente que se esconde nos momentos mais complicados, uma administração com uma política pouco clara de relacionamento com os sócios, e um diretor de comunicação provocador que gosta de aparecer e que usa constantemente as dezenas de avençados e serviçais ao seu dispor para gerar um barulho estridente em todos os canais existentes - desde os jornais, rádios, televisões até às redes sociais.

Eu preferia que Bruno de Carvalho se resguardasse. Que falasse menos e ganhasse mais, usando as suas próprias palavras após a conquista da Supertaça. Mas neste caso era mesmo necessário reagir, e a forma escolhida - não sendo elegante - é provavelmente a mais eficaz. Se Bruno de Carvalho tivesse que esperar por umas palavras de Luís Filipe "não me metam nestas confusões" Vieira para levantar a voz, só o voltaríamos a ouvir nas eleições de 2017.