quinta-feira, 13 de agosto de 2015

MaisTabaco sai em defesa da "estrutura"

Não deve haver nenhum adepto português que não se sinta nauseado com a falta de conteúdo da esmagadora maioria de programas sobre futebol das nossas televisões. Horas e horas a especular, a criar assuntos artificiais, tudo em nome dessa nobre atividade normalmente designada por encher chouriço. Mas dentro do carácter descartável que a maior parte destes programas apresenta, há um que consegue ser muito mais descartável que os restantes: o programa tridiário MaisTransferências, carinhosamente conhecido nas redes sociais por MaisTabaco.

A principal crítica feita ao MaisTab -- perdão -- MaisTransferências tem a ver com o facto de qualquer rumor servir para alimentar 10 minutos de conversa. E esqueçam a credibilidade das fontes desses rumores, porque o nível de exigência dos responsáveis por este programa não é propriamente grande: uma notícia no canto de uma página interior de um jornal, qualquer referência a um jogador ou a um clube português num site estrangeiro - por mais manhoso que seja - e até boatos colocados em fóruns de adeptos de clubes. Qualquer coisa serve para colocar três comentadores a explicar tudo o que (não) se passa - como as motivações dos jogadores, as consequências que sobrarão para outros atletas do plantel, os constrangimentos que isso causará aos cofres dos clubes -, tudo isto com uma postura tão séria como se estivessem a debater factos consumados. Absolutamente ridículo.

Os habituais titulares deste programa são:
  • José Manuel Freitas, ex-jornalista de A Bola de quem gostava e que, muito sinceramente, me tem desiludido muito pela fraca qualidade das suas intervenções desde que assinou pela TVI24;
  • Dani, especialista em lugares-comuns e com um aproveitamento médio de 0,0% em intervenções que acrescentem algo ao assunto a que se está a referir;
  • Rui Pedro Braz, um lampião (*) que, ao contrário da generalidade dos membros dessa espécie, é apresentável, bom orador e até carismático, capaz de direcionar com facilidade as conversas para onde lhe convém quando os seus colegas de painel têm uma personalidade tão forte como a de um cubo gelatinoso;
  • Pedro Sousa, que apesar da sua ligação à Doyen, é na minha opinião (de longe) o mais racional comentador do programa, e o único que não embarca nas cantigas de Rui Pedro Braz.
(*) pela 42923ª vez, não confundir lampiões com benfiquistas

Por direcionar as conversas, entenda-se abordar preferencialmente questões negativas relacionadas com certos clubes, e trazer temas mais animadores quando o emblema é outro.

Por exemplo, há uns dias atrás, um dos temas principais foi o impasse da renovação de João Mário. Os três participantes dissertaram prolongadamente sobre o dramatismo da situação contratual do médio sportinguista, que poderá ficar profundamente insatisfeito por não lhe serem dadas as condições que pretende. A sério? Alguém acredita que João Mário vá amuar até ao final do contrato, que é em junho de 2018? 

São sobretudo assuntos como este a que temos direito quando o tema é o Sporting: até a renovação de um jogador que tem mais três anos de contrato é um problema. Engraçado no entanto que não consigam encontrar problemas semelhantes em jogadores de outros clubes. Tanto quanto sei ninguém falou sobre o facto de Rúben Neves ganhar muito menos que Herrera ou Imbula, ou Gonçalo Guedes ter um salário inferior a Bilal ou Taarabt. Mas adiante.

Ontem, no entanto, o MaisTabac -- desculpem -- o MaisTransferências conseguiu superar-se e assumiu-se como um paladino em defesa da estrutura benfiquista, ao reclamar para os campeões nacionais a liderança do campeonato da contenção:


Graças aos cálculos feitos por Rui Pedro Braz, ficámos a saber que o Benfica é de longe a equipa mais poupadinha do verão. Vamos ouvir a sua explicação:


Rui Pedro Braz tomou a liberdade de reduzir os valores das contratações benfiquistas recorrendo a fontes que pelos vistos mais ninguém tem: Carcela afinal custou apenas 2,5M e não 4M, Diego Lopes custou 0,1M e não 1M, Ederson custou 0,5M e não 1M. Esqueceu-se de incluir Dálcio, que não foi contratação a custo zero. E os que foram a custo zero, foram mesmo a custo ZERO (já vão perceber mais à frente). Uma poupança de 2,9M + Dálcio, portanto. E se quiséssemos ser preciosistas, ainda poderíamos acrescentar a compra das percentagens dos passes de Ola John e Pizzi.

Vamos agora ver o quadro que Rui Pedro Braz preparou para o Sporting:


No caso do Sporting as contas já incluem 0,5M de comissões de Bruno Paulista (duvido que seja um valor tão grande), e amplia-se o valor de Bryan Ruiz de 1M para 2M. Curiosamente, retirando-se estes valores encontrados por Rui Pedro Braz, os "gastos" do Sporting passariam para 9,7M. O Benfica, sem as reduções agora efetuadas, passaria para 9,6M + Dálcio. Ou seja, dando de barato mais algumas incorreções, nunca se poderia dizer que o Benfica é assim tão pouco gastador quando comparado com o Sporting.

E para terminar, faltou ainda Dani dizer isto sobre Aquilani:



Justiça seja feita a Dani: ele sabe do que fala quando o tema são os perigos de Cascais. Mas há que dar um pouco mais de crédito ao jogador italiano: ao contrário de Dani, tem uma carreira para mostrar que pode ser útil. E não pendurou as chuteiras aos 26 anos.