sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Manuel José e o nível dos adversários dos três grandes na pré-época

Têm sido muito os comentadores particularmente benevolentes com os resultados da pré-temporada do Benfica, usando como justificação principal o nível dos adversários que os campeões nacionais têm tido na sua digressão no continente americano. Alguns desses comparam depois de forma depreciativa a qualidade das equipas que Sporting e Porto têm defrontado. 

Ou seja, o Benfica tem tido maus resultados porque tem jogado contra equipas fortes, enquanto que Sporting e Porto têm tido resultados melhores porque têm jogado contra equipas de menor qualidade. 

Dentro desse universo de opinadores, o mais despistado deles todos será seguramente Manuel José, que ontem, no programa Grande Área, foi o responsável por uma das mais fantásticas pérolas oferecidas ao público português dos últimos tempos:


Perdeu uma boa oportunidade para ficar calado.

Mas analisemos um pouco mais em pormenor os adversários dos três grandes para verificar se o raciocínio de Manuel José e de tantos outros comentadores é legítimo.

Em relação ao Sporting, há que dizer que não faz sentido considerar os confrontos com o Sporting B e Mafra como jogos. Foram apenas treinos, com duas partes de 60 minutos (pelo menos com o Mafra foi assim) e com várias interrupções para fazer as correções que a equipa técnica considerava necessárias.

Jogos propriamente ditos, o Sporting só teve 3: Ajax Cape Town (5º classificado na liga sul-africana), Crystal Palace (10º na liga inglesa) e Roma (2º na liga italiana).

O Porto defrontou, para além de equipas dos escalões secundários holandeses e alemães, o Schalke (6º na liga alemã), o Borussia Moenchengladbach (3º na liga alemã), o Valência (4º na liga espanhola) e o Stoke City (9º na liga inglesa).

E que jogos teve o Benfica? PSG (campeão francês), Fiorentina (4º na liga italiana), NY Red Bulls (atual 2º na conferência este da MLS, 5º no total de todas as equipas), America (2º no torneio clausura mexicano, atual 20º e último no torneio apertura ao fim de 2 jornadas) e Monterrey (12º no torneio clausura mexicano, atual 19º no torneio apertura ao fim de 2 jornadas).

Se excluíssemos o PSG, o nível médio dos adversários estaria mais ou menos em linha com os de Sporting e Porto. E na realidade até foi um PSG de segunda linha que se apresentou nesse jogo: dos onze que iniciaram a partida contra o Benfica, apenas Sabaly, Maxwell e Lucas Moura foram titulares regulares em 2014/15. Ou seja, 3 jogadores em 11.

Na realidade, os resultados nesta fase interessam muito pouco. O Benfica optou por uma digressão muito compensadora financeiramente que, na pior das hipóteses, os afetará apenas nos primeiros jogos oficiais. Este tipo de digressão é feita à semelhança - e há que reconhecê-lo - do que fazem muitas das equipas mais mediáticas do mundo, que não deixam de lutar pelos seus objetivos quando a bola a sério começa a rolar. Sim, é verdade que não são as condições ideais do ponto de vista desportivo para preparar uma época, mas é uma opção legítima que podia e devia ser assumida de forma natural.

Aliás, o único verdadeiro disparate foi terem aceitado participar na inauguração do estádio do Monterrey a menos de uma semana da Supertaça. Enfim, coisas de gente ligada ao setor da construção.

Acredito que podem ter sido as viagens sucessivas, as oscilações de temperatura e o facto de ter feito um jogo em altitude elevada tenham tido um peso não negligenciável na forma em que os jogadores se apresentaram. Mas se o Benfica não ganhou nenhum jogo, não foi seguramente devido ao nível dos adversários. Manuel José & Cª é que já podiam parar de inventar desculpas esfarrapadas.