sábado, 26 de dezembro de 2015

O dia em que os estagiários tomaram conta das redações

Compreende-se que, na véspera de Natal, a maior parte dos jornais - não tendo nenhuma edição para publicar no dia 25 - dê descanso aos seus colaboradores mais seniores e proporcione aos juniores e estagiários o privilégio de ter um pouco mais de autonomia na redação. Supostamente, é um dia em que o caudal de notícias relevantes não será complicado de gerir.

Infelizmente, calhou ser o dia em que a Lusa - entidade que, nos últimos anos, tem parecido fazer questão em deitar abaixo a credibilidade que construiu no passado - enviou para as redações uma notícia sobre o Sporting com um título enganador: 

SPORTING TEM TRÊS DIAS PARA PAGAR À DOYEN

Ao contrário do que deixa subentender, este título não se refere aos 12 milhões de euros que o Sporting foi condenado a pagar ao fundo, mas sim à partilha com a Doyen da percentagem de mais-valia a que o clube terá direito caso o Manchester United venda Rojo por uma verba superior a 23 milhões de euros. Ou seja, o Sporting tem três dias para pagar à Doyen...

... se o Manchester United vender Rojo...

... e se a venda for superior a 23 milhões de euros...

... o que fará com que o Sporting tenha direito a 20% da mais-valia acima de 23 milhões de euros (ex.: se o Manchester United vender o jogador por 25 milhões, o Sporting terá direito a 20% de 2 milhões, ou seja, 400.000€)...

... e aí o Sporting terá três dias para entregar 75% da mais-valia que recebeu à Doyen (ou seja, no exemplo acima teria três dias para pagar 300.000€ à Doyen).

Como, pelos vistos, os jornalistas destacados no dia 24 de dezembro não têm competência (ou paciência) para ler o corpo da notícia (que incluía um texto divulgado pelo TAS com alguns detalhes da decisão), acabou por ser isto que invadiu as redes sociais e os sites da nossa comunicação social:






Mas o mais extraordinário foi o facto de terem existido alguns órgãos de comunicação social que conseguiram distorcer ainda mais o sentido da notícia:




Aquele que se aproximou mais da notícia verdadeira acabou por ser o Diário de Notícias. Mesmo assim o verbo utilizado não foi o mais claro:


Se eu escrevesse um título, teria optado por: "Sporting terá três dias para pagar à Doyen 75% de eventual mais-valia com Rojo". Mas, na realidade, é um elemento da decisão do TAS que nem sequer é suficientemente relevante para ser merecedor de uma notícia à parte - a não ser que o sensacionalismo seja o objetivo principal de quem tem o dever de informar o público.