quinta-feira, 17 de março de 2016

A fonte da impopularidade

Artigo de Joel Neto no jornal O Jogo

Desde que o Sporting contratou o proscrito Jorge Jesus - abortando o plano de carreira que o todo-poderoso Luís Filipe Vieira tinha para o treinador, e afirmando-se como uma séria ameaça à bipolarização a que Benfica e Porto davam como garantida -, qualquer sportinguista sabe que a época só pode terminar de duas formas: ou com uma enorme alegria, ou com uma enorme desilusão, em função da classificação final do clube no campeonato.

Os resultados internos rapidamente corresponderam às expetativas criadas - com a conquista da Supertaça e a obtenção da liderança do campeonato desde bem cedo -, mas para além da alegria natural de ver (finalmente) o Sporting a lutar efetivamente de igual para igual com os rivais, os sportinguistas nunca tomaram nada por adquirido. Jornada após jornada, todos sabíamos que na semana seguinte voltaria a estar tudo em jogo. Em cada semana, desejámos e acreditámos no melhor sabendo que o pior é sempre uma possibilidade. Assim tem sido até hoje e assim continuará a ser até maio, altura em que a nação sportinguista partilhará o melhor ou pior dos sentimentos que a competição desportiva pode suscitar.

O que os sportinguistas querem é ter um clube lealmente competitivo. Se a principal preocupação dos sportinguistas fosse ganhar um concurso de popularidade votado pelos adeptos de outros clubes, Bruno de Carvalho nunca seria presidente do clube. A sua eleição foi uma forma de expressão coletiva de quem estava farto de ver o clube ser considerado a Miss Simpatia do futebol português, de quem estava enjoado de ouvir benfiquistas e portistas proferirem vezes sem conta a mais hipócrita e condescente das frases: faz falta ao futebol português um Sporting forte.

Pois bem: o Sporting forte foi reaparecendo ao longo dos últimos três anos e, gradualmente, portistas e benfiquistas deixaram de nos achar tanta piada. E isso era uma inevitabilidade, independentemente do estilo de quem comanda o Sporting. Se Bruno de Carvalho fosse um menino de coro, é certinho que canalizariam o ódio para a arrogância de Jorge Jesus. Se Jorge Jesus fosse a mais humilde das criaturas, haveria sempre uma cotovelada / pseudo-cotovelada de Slimani ou um lançamento de João Pereira a pisar a linha para conjurar toda a espécie de sentimentos negativos contra o Sporting.

Daí achar que o texto de Joel Neto (colunista sportinguista que está demasiado habituado a escrever para portistas) refere, provavelmente, a mais irrelevante das consequências de um eventual fracasso. Fracasso a dobrar? Absurdo. Se o Sporting não ganhar o campeonato, a frustração será enorme e não dependerá do que os vencedores pensarão de nós. Muito menos dependerá do que os outros derrotados pensarão de nós. E para o ano cá estaremos novamente, mais fortes com a experiência e com a mesma vontade de vencer. Se, pelo contrário, o Sporting ganhar, festejará de uma forma que apenas um clube que sabe que anda de coluna direita pode fazer. E isso será algo que aqueles que nos odeiam nunca conseguirão compreender ou replicar. Se calhar, também é dessa incompreensão que vem uma boa fatia da tal impopularidade.