terça-feira, 29 de março de 2016

As quatro fases emocionais do benfiquista no caso dos vouchers

Tem sido bastante interessante acompanhar a forma como a nação benfiquista tem lidado com a oferta de vouchers de refeições que o seu clube faz a árbitros, delegados e observadores. Em certa medida, faz lembrar a reação de um indíviduo a quem é retirada uma substância ou negado um hábito em que estava viciado. Normalmente, os especialistas falam em cinco fases emocionais na forma como se lida com essa perda: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação, não necessariamente por esta ordem.

No caso dos benfiquistas, se bem se lembram, a reação inicial à divulgação feita por Bruno de Carvalho foi... de raiva:


No dia seguinte, os benfiquistas entraram na fase da negação, afirmando categoricamente que não existia qualquer referência a refeições no dito voucher. Apenas estava contemplado, diziam, a visita a um espaço museológico:

Retirado de Hugo Gil e Benfica

Rapidamente, no entanto, se passou para a fase da negociação. Lá reconheceram que os vouchers incluíam mesmo jantares. Numa primeira versão, contava-se que apenas 7 vouchers tinham sido utilizados (e nenhuma dessas pessoas era árbitro) e faziam-se contas considerando unicamente o preço de custo do kit, que era de apenas 24 euros. Ou seja, muito abaixo do limite de 200 euros estipulado pela UEFA e pela própria Liga (na realidade o limite é de 200 francos suiços, ou seja, cerca de 180 euros).


Mais tarde, lá se soube que existiram mesmo árbitros a usufruir da refeição.


Uns meses mais tarde, já se falava de 10% de vouchers utilizados (ou seja, apenas em 2014/15, foram usufruídas cerca de 112 refeições de um universo de 1120 ofertas) e que as refeições contemplavam a sugestão do chefe. Mas, na realidade, não foi só o número de vouchers utilizados que aumentou. Por conveniência, o limite da UEFA também foi alargado para tamanhos XL.


Resta saber se, da mesma forma que existia um Kit Eusébio especial para árbitros, delegados e observadores, também existia uma sugestão do chefe específica para estes comensais.

E ficamos por aqui. A parte da depressão - considerando a total disponibilidade revelada por árbitros, FPF e Liga para enterrar o assunto tão rapidamente quanto possível - não chegou a ocorrer, nem nunca ocorrerá. Quanto à aceitação, bem, vamos em março de 2016 e os kits continuam a ser oferecidos sem qualquer pudor. 

Em contrapartida, a falta da depressão e aceitação pareceu ser compensada nos benfiquistas por um efeito secundário: uma grave de dificuldade na interpretação de textos. O jornal Sporting fez na semana passada um ensaio do valor que poderia ter uma refeição no estabelecimento em causa. Sim, foram ao restaurante, verificaram os preços, simularam uma refeição que poderiam ter feito se não tivessem que olhar a custos, e deixaram pistas suficientes no texto para que os leitores concluíssem que não consumiram de facto os produtos que mencionaram. Apesar disto, foram vários os benfiquistas a assumir que os jornalistas do Sporting gastaram mesmo 1000€.




O pior é que este efeito, aparentemente, contagiou jornalistas. É certo que eram jornalistas da CMTV - que, como sabemos, possuem um sistema imunológico contra a interpretação incorreta de factos, declarações ou textos que, por defeito, está altamente debilitado. Mas de qualquer forma, a bem do rigor científico, há que registar a ocorrência.

Raiva - Negação - Negociação - Problemas com o português: eis as 4 fases emocionais do benfiquista no caso dos vouchers.

(para mais sobre este assunto, recomendo a leitura de um post do blogue Bancada de Leão, AQUI)