quinta-feira, 24 de março de 2016

Três anos de presidência

Adore-se, goste-se, antipatize-se ou odeie-se Bruno de Carvalho, nenhuma pessoa que acompanhe o futebol português em geral e o Sporting em particular poderá negar que o clube está hoje incomparavelmente melhor do que estava no dia em que o seu mandato começou. Está melhor ao nível da sua saúde financeira, ao nível da sua capacidade desportiva, e na vitalidade demonstrada enquanto instituição desportiva de referência em Portugal.

Não é por obra do acaso que o clube está melhor. Isso deve-se ao facto de Bruno de Carvalho e a sua equipa terem encontrado soluções para inúmeros problemas que assolavam o clube. E é preciso haver muita desonestidade intelectual para se reduzir os méritos desta direção ao aproveitamento de uma reestruturação financeira que, segundo alguns, já estaria completamente definida por Godinho Lopes, ao aproveitamento da qualidade dos produtos da academia que tinham sido trabalhados nos anos anteriores, ou a uma escolha acertada de treinadores.

Por muito que custe a algumas pessoas, o clube só conseguiu sair do buraco em que estava metido porque houve capacidade para reconhecer os problemas, definir as prioridades certas e alocar de forma globalmente eficaz os poucos recursos existentes, tudo isto numa conjuntura de pesadelo em que não havia grande margem para errar. Uma má escolha de treinador, demasiado dinheiro desperdiçado em contratações inúteis, ou uma falha grave ao nível da gestão do clube, e todo o edifício poderia desabar de um momento para o outro.

Obviamente que foram cometidos erros, mas que não são muito significativos no panorama geral de tudo aquilo que foi alcançado. O clube regressou aos títulos que fugiam desde 2008, está efetivamente a disputar o título de campeão nacional com clubes que dispõem de muito mais recursos (dentro e, sobretudo, fora de campo), registou-se uma enorme valorização do plantel, recuperou-se a esmagadora maioria dos direitos económicos dos jogadores que tinham sido vendidos ao desbarato, e o clube voltou a apresentar lucros de forma consistente (apesar do prejuízo nas últimas contas semestrais, acredito que o ano vai acabar positivo) em contraste com os prejuízos anuais de 35, 40 ou 45 milhões que foram uma das imagens de marca das direções anteriores.

E há ainda que referir aquela que será, provavelmente, a maior vitória estratégica da equipa de Bruno de Carvalho até ao momento: impedir que os nossos rivais conseguissem concretizar uma bipolarização do futebol português que parecia irreversível. A rápida recuperação da competitividade da equipa de futebol e o aumento significativo do número de sócios e das assistências em Alvalade foram fundamentais para que o Sporting garantisse um contrato de direitos televisivos ao nível de Benfica e Porto. Não nos podemos esquecer que, há um par de anos, Benfica e Porto discutiam entre si um sistema de repartição do bolo de direitos que deixaria o Sporting com uma fatia aproximada à do Braga. Tivessem levado adiante os seus objetivos, e teria sido cavado um fosso orçamental para a próxima década impossível de ultrapassar.

Não menos importantes foram outras medidas estruturantes para o clube, como a construção do pavilhão ou a criação da Sporting TV. Há 3 anos não seriam mais que uma miragem. A Sporting TV é hoje uma realidade e o pavilhão está muito perto de também o ser.

A postura conflituosa de Bruno de Carvalho será, seguramente, a faceta mais controversa da sua presidência. Os processos colocados a antigos dirigentes, o episódio Doyen, a rutura com Marco Silva, a agressividade contra Benfica, Porto e outras figuras e corporações do futebol português, geraram muitos anticorpos - não só nos rivais, mas também em muitos sportinguistas. Há quem goste, por ver nisso um compromisso de defesa do clube face a quem o ataca. Há quem não goste, por ver banalizada a imagem e a palavra do presidente do Sporting. Falando por mim, não posso dizer que goste de ver, mas considerando a conjuntura parece-me que esta estratégia de conflito aberto é - apesar dos exageros que acaba por proporcionar - um mal necessário.

Bruno de Carvalho tem duas características que considero essenciais para se ser presidente do Sporting: um amor ao clube acima de qualquer suspeita e uma determinação de ferro. Moldaram o seu estilo de presidência e foram fundamentais para a recuperação do clube. Existem formas diferentes de se liderar um clube, baseando-se noutro tipo de estratégias e valências, mas duvido que o Sporting tivesse ultrapassado a pior crise da sua história com um presidente que não tivesse essas duas características em abundância. 

Em jeito de balanço destes três anos de mandato: considerando o trabalho feito, os antigos dirigentes que tivemos, e as pessoas que se mostraram disponíveis para liderar o clube em 2013, não tenho dúvidas que Bruno de Carvalho foi o homem certo que apareceu no momento certo para o Sporting.