sábado, 26 de março de 2016

Via sacra e circo

Tradicionalmente, os jogos particulares da seleção são enlatados que suscitam um interesse muito reduzido. Vê quem não tem nada melhor para fazer, sabendo-se à partida que os acontecimentos presenciados serão chutados para um recanto pouco utilizado do cérebro, pois raramente produzem algo que valha realmente a pena reter. O jogo de ontem não foi diferente, pelo menos no que diz respeito ao futebol propriamente dito.

Os búlgaros foram um par de vezes à nossa área e marcaram sem saber como. Os portugueses acamparam no meio-campo adversário e falharam golos atrás de golos, também sem saber como. A quantidade de oportunidades criadas não podia, no entanto, ser mais enganadora em relação à qualidade da exibição da nossa seleção. Não existe uma equipa. É mais que evidente que, com esta (falta de) ideias de jogo, só iremos no Euro 2016 até onde Cristiano nos conseguir levar. A ideia de Fernando Santos em meter o meio-campo do Sporting até se compreende, mas só pode resultar se houver um sentido coletivo de qualquer espécie a ligar os vários setores. Talvez fosse mais eficaz meter um meio-campo composto por jogadores do Benfica (p.ex.: André Almeida / Renato / Pizzi) que, assim como assim, já estão habituados a viver no meio do caos tático e da inspiração do fora-de-série que têm lá na frente. Fica a sugestão.

De qualquer forma, já todos sabiam que, jogasse a seleção bem ou mal, ganhasse ou perdesse, pela margem mínima ou por goleada, os holofotes estariam todos apontados para a estreia de Renato Sanches. E, há que reconhecê-lo, o circo que estava anunciado não desiludiu.

Pelo contrário, fez completa justiça à histeria em massa que a comunicação social e o Benfica (passe a redundância) têm promovido desde que o miúdo entrou no onze de Rui Vitória. Começando pelas múltiplas referências da RTP a este momento histórico, a humildade que o repórter de campo sentiu em Renato enquanto este se preparava para entrar, as ovações do público sempre que tocava na bola e, para terminar de forma épica, a invasão de campo para o abraço que (previsivelmente) estará nas capas dos jornais de sábado. Uma coisa é certa: se Renato conseguir passar por isto sem se deslumbrar, é sinal que terá força mental para concretizar o potencial que tem. Caso contrário, será mais um para juntar a uma longa lista de enormes promessas benfiquistas que acabaram por não dar em nada. E não é porque o talento não estivesse lá. Simplesmente, há gente que nunca aprende.