quarta-feira, 13 de abril de 2016

A pré-época-de-fim-de-época do Porto

A entrevista que Pinto da Costa deu, na semana passada, ao Porto Canal, ficou marcada por duas ideias fortes: a primeira, de que o Porto bateu no fundo; depois, que os seis jogos do campeonato que então restavam eram para ser encarados como uma espécie de pré-época para 2016/17.

Tanto quanto me parece, a ideia do presidente portista em transformar o final desta época numa pré-temporada da próxima tem dois objetivos: baixar as expetativas dos adeptos para o que resta deste campeonato, o que ajuda a suavizar os efeitos de novos maus resultados em período eleitoral; e, sobretudo, tentar passar a ideia de que existe um plano, quando na realidade muito pouco no seu discurso leva a crer que exista realmente um plano (pelo menos dos bons).

Não creio que haja qualquer plano com pés e cabeça porque Pinto da Costa pareceu sobretudo preocupado em criar uma série de distrações para desviar as atenções do momento atual do clube. Por exemplo, o regresso anunciado de Josué na próxima época - que, para além de ser portista ferrenho e bater penáltis bem, não tem nada que André André, Herrera, Sérgio Oliveira ou Rúben Neves não ofereçam já - não pode ser visto como um ponto de partida para qualquer tipo de refundação séria do plantel. O mesmo para Rafa, que, apesar de ser um jogador de indiscutível potencial, será solução para uma posição para a qual já existe Layun, que tem sido apenas o melhor lateral esquerdo da liga portuguesa.

Para além das questões de médio/longo prazo envolvidas neste processo de intenções, existe um problema bem mais imediato: a mensagem que passa para os jogadores. Quando o presidente afirma que a época acabou, está também a dizer que já não espera grandes proezas desta equipa, o que seguramente não contribuirá para a recuperação anímica de um conjunto de atletas que está, visivelmente, num estado psicológico bastante frágil. O mote dado por Pinto da Costa fica ainda mais em causa quando o próprio diz, minutos mais tarde, que Peseiro não está confirmado como treinador para a próxima época. Uma pré-pré-época dirigida por um treinador que não escolherá quem fará parte da época seguinte não parece ser, à partida, um conceito propriamente vencedor.

Mas pior que a declaração da pré-época, foi a do "bater no fundo". Porque, na realidade, há sempre a possibilidade de as coisas ficarem piores. Qualquer sportinguista pode garantir isso, pela experiência adquirida num passado muito recente. Nomeadamente, se nada for feito para inverter um círculo vicioso que coloca o clube cada vez dependente de terceiros para realizar investimentos, se se mantiverem os vícios de determinados elementos da direção que olham primeiro para os bolsos dos seus protegidos e apenas depois para os interesses da instituição que estão a gerir, e se continuar a navegação à vista que tem sido levada a cabo nos últimos meses e tão maus resultados tem dado. Esta descrição aplica-se tão bem ao Porto atual como se aplicava ao Sporting no tempo de Godinho Lopes.

P.S.: Tudo isto, no entanto, não deve servir para nos incutir a ideia de que o Sporting terá a vida facilitada quando for jogar ao Dragão. O plantel do Porto pode ser desequilibrado, a qualidade do futebol praticado pode estar longe daquilo que se esperava, mas o problema neste momento é sobretudo psicológico e motivacional. Falamos da mesma equipa que, contra as expetativas da maioria das pessoas, foi ganhar à Luz. Se encararem o clássico como uma forma de limpar parte da má imagem deixada nas últimas semanas, então de certeza que só o melhor Sporting poderá conquistar os três pontos na sua deslocação ao Porto.