sexta-feira, 8 de abril de 2016

Jogo de risco do Belenenses contra o Sporting?

Quando o Belenenses defrontou o Benfica, fiz determinadas observações à estratégia seguida por Velasquez (LINK e LINK). Coloquei um vídeo (não exaustivo, ou seja, coloquei apenas alguns dos casos mais flagrantes) que demonstrava a filosofia de risco que o Belenenses seguiu nessa partida. Para quem não viu na altura ou quiser rever, aqui fica o vídeo:


Apontei na altura quatro pontos que me pareceram pertinentes, e lancei a questão: voltaríamos a ver a mesma estratégia de risco contra o Sporting? Aqui fica a minha opinião, após o Belenenses - Sporting da passada segunda-feira.

1. Os defesas centrais

Rúben Pinto, o médio-ofensivo-convertido-em-central no jogo contra o Benfica, foi utilizado contra o Sporting... no meio-campo, com tarefas sobretudo defensivas. Na segunda parte, Rúben Pinto baixou por vezes para o meio dos dois centrais. Velasquez usou, contra o Sporting, a dupla formada por Gonçalo Brandão (que também foi titular contra o Benfica) e Gonçalo Silva (que ficou no banco contra o Benfica).


2. O comportamento da defesa com bola, sob pressão dos adversários, e
3. Saindo a jogar a partir de trás

Contra o Benfica, foram poucas as bolas bombeadas pelos jogadores do Belenenses para a frente ou para a bancada, independentemente da pressão que os adversários estivessem a impor nesses momentos. Na esmagadora maioria das situações, os jogadores do Belenenses tentaram manter a bola no pé, com várias tentativas de drible / circulação em zonas perigosas e com muitos atrasos para o guarda-redes que, muitas vezes, tentava distribuir de imediato a bola jogável para os seus companheiros.

Para além disso, foram muitas as ocasiões em que o Belenenses tentou construir a partir da sua defesa. Ventura tentava colocar num defesa sempre que possível (mesmo que em alguns casos existisse uma pressão forte do Benfica), e os próprios defesas raramente apostavam no passe longo, preferindo driblar ou passar curto. Tudo isto, repita-se, apesar da forte pressão benfiquista.

Contra o Sporting, vou fazer a análise separando a partida em três fases: 1) enquanto o resultado era 0-0; 2) entre o 1º golo e o intervalo; 3) 2ª parte. Para cada uma destas três fases mostrarei um vídeo exaustivo, com todos os lances em que o Belenenses tentou jogar sob pressão intensa, o seu comportamento nos pontapés de baliza e reposições do guarda-redes, e os momentos em que o Sporting conseguiu recuperar a bola no meio-campo do Belenenses.

Enquanto o resultado era 0-0


O Sporting marcou o 1º golo aos 23 minutos de jogo. Durante esses primeiros 23 minutos, havendo um mínimo de pressão de jogadores do Sporting, o Belenenses nunca tentou construir a partir da sua defesa. Recorreram quase sempre a pontapés longos para a frente perante o risco de perder a bola. Os pontapés de baliza e reposições foram sempre longas. Houve dois lances de calafrio, que aconteceram porque Ventura se atrapalhou ao tentar chutar a bola para a frente. O Sporting nunca conseguiu recuperar a bola nas imediações na área. No quadro seguinte, podem ver dois tipos de elementos: as setas a amarelo representam os passes de risco feitos por jogadores do Belenenses, e os pontos vermelhos que representam o local das recuperações de bola que o Sporting fez no meio-campo do Belenenses.


Como se pode ver, nestes primeiros 23 minutos, o Belenenses correu poucos riscos com bola. Não facilitou perante a pressão alta do Sporting, bombeando sempre a bola para a frente, e nunca perdeu a bola em locais comprometedores. O Sporting criou muito perigo, sim, mas sobretudo porque soube tirar proveito do adiantamento da linha defensiva do Belenenses. Destas três perdas de bola, uma delas ia resultando em golo (aquela em que William escorrega depois de contornar Ventura).


Entre o 1º golo e o intervalo

Neste período o Sporting marcou mais um golo, de penálti. Notou-se mais inquietação no Belenenses, que resultou num punhado de perdas de bola em locais mais próximos da área, mas de resto a equipa continuou a correr poucos riscos. Já houve alguma vontade em sair a jogar curto.


Ao intervalo, tinham sido estes os passes de risco e perdas de bola (acumulado de toda a 1ª parte):


Segunda parte

Velasquez fez duas substituições ao intervalo, e a equipa regressou do balneário disposta a jogar de pé para pé junto à sua área. Não de forma constante, mas mais do que na primeira parte. O Belenenses correu alguns riscos, mas nada que se compare com, por exemplo, aquilo que se viu na primeira parte contra o Benfica.


Passes de risco e perdas de bola no meio-campo do Belenenses acumulados em toda a partida:


Isto quer dizer que o Sporting recuperou muito poucas bolas? Não. O Sporting recuperou sobretudo bolas à entrada do seu meio-campo.

Fazendo o mesmo exercício dos passes de risco e perdas de bola no meio-campo do Belenenses no jogo contra o Benfica, apenas para os lances que aparecem no vídeo que coloquei no topo deste post (recordo que, nesta partida, não foram recolhidos de forma exaustiva), temos o seguinte:


Os riscos corridos pelo Belenenses contra o Benfica foram muito superiores. Foram tentados muito mais passes dentro do 1º terço de terreno com jogadores do Benfica por perto, e houve muito mais situações em que os defesas trocaram a bola de pé para pé sob pressão.


4. Os cantos

Contra o Benfica, aos 18 minutos de jogo, com o resultado ainda em 0-0, o Belenenses colocou 3 jogadores no meio-campo do Benfica num canto a favor do... Benfica. Não tenho memória de alguma vez ter visto uma equipa do nível do Belenenses correr tal risco contra um grande, numa altura em que tivesse um resultado favorável.

O Sporting teve 6 cantos a favor contra o Belenenses, e ainda 2 livres de posição lateral (um dos quais muito perto da bandeirola de canto). Aqui ficam imagens de todas essas situações:

1º canto: 11 jogadores do Belenenses na área

2º canto: 11 jogadores do Belenenses na área ou na meia-lua

3º canto: 11 jogadores do Belenenses na área ou na meia-lua

4º canto: 11 jogadores do Belenenses na área

5º canto: marcado de forma curta...

5º canto: ... com 11 jogadores do Belenenses na zona defensiva

6º canto: novamente marcado de forma curta...

6º canto: ... e novamente com 11 jogadores do Belenenses na zona defensiva

1º livre (canto curto): 11 jogadores do Belenenses na área ou nas imediações

2º livre (na zona de canto): 11 jogadores do Belenenses na área

Portanto, nas oito ocasiões, o Belenenses colocou todos os seus jogadores a defender o lance de bola parada.


Conclusão

Os factos são estes: no jogo com o Sporting, não houve adaptação de um médio "levezinho" a central; o Belenenses arriscou muito menos quando era alvo de pressão junto à sua área; houve menos tentativas de sair a jogar de pé para pé desde a sua área, recorrendo muito mais vezes a pontapés longos para a zona de meio-campo; no jogo com o Sporting, o Belenenses defendeu todos os lances de bola parada com todos os jogadores disponíveis.

Como tal, parece-me claro que a estratégia seguida nesta segunda-feira passou por, dentro dos princípios de jogo positivo que este Belenenses indiscutivelmente possui, reduzir de forma clara o nível de risco que foi assumido contra o Benfica. O motivo que levou a essa redução de risco fica ao critério de cada um.