quarta-feira, 20 de abril de 2016

Obrigações & cortinas de fumo

Não, este post não é sobre o empréstimo obrigacionista de €50M lançado pelo Benfica. É sobre a obrigação que o Sporting tem de ganhar o campeonato, segundo o artigo de opinião de Fernando Guerra publicado ontem no jornal A Bola.

(via @diniscosta)

"O Sporting ganhar o campeonato será normal pela aposta que a SAD fez. Surpresa será o contrário. Isto é, se Jesus não for capaz de dar vida ao sonho da família leonina". Foi este o mote dado por Fernando Guerra na sua página de opinião de ontem, em mais um exercício de desonestidade intelectual extrema.

Que o Sporting apostou forte nesta época, não há dúvidas. Contratou o treinador bicampeão nacional, num esforço financeiro significativo. Assegurou o concurso de jogadores consagrados, como Ruiz, Teo, Aquilani ou João Pereira, que acrescentaram importantes experiência e maturidade a um plantel formado maioritariamente por jogadores jovens. Renovou o contrato com vários jogadores que justificavam aumentos salariais significativos, em função do rendimento demonstrado em campo, como Slimani, William, João Mário, Carlos Mané, Rúben Semedo ou Tobias Figueiredo. Tudo isto provocou um inevitável e significativo aumento da massa salarial da equipa de futebol: o Sporting gastou praticamente o dobro em relação a 2015/16.

Mas será isto suficiente para se considerar uma surpresa se o Sporting não ganhar o campeonato? Vamos analisar:


1) A continuidade e experiência do plantel

Ambos os clubes mudaram de treinador. O Benfica manteve praticamente todo o plantel que venceu o bicampeonato. Do onze titular apenas saíram Maxi Pereira e Lima. Ou seja, manteve o núcleo duro da equipa, formado por jogadores habituados a ganhar. O Sporting, por sua vez, perdeu Nani e Cédric. Por aqui, existe um certo equilíbrio.


2) O investimento em novos jogadores

O Sporting contratou (em parêntesis o custo de aquisição, incluindo comissões): Azbe Jug (0€), Aquilani (€1M), Paulista (emprestado), Ruiz (€1,32M), Naldo (€3,01M), João Pereira (0€), Teo Gutierrez (€3,74M), Bruno César (€1,3M), Schelotto (€0,2M), Zeegelaar (€0,49M), Coates (emprestado, €0,075M) e Barcos (€0,08M). Ou seja, houve um investimento total de €11,215M.

Por sua vez, o Benfica investiu nos seguintes jogadores (nem todos os jogadores incluem comissão): Jimenez (€9,836M), Pizzi (€7,260M), Jovic (€7M), Carcela (€3,411M), Saponjic (€3M), Taarabt (€2,925M), Grimaldo (€2,2M), Bilal (€1,25M), Mitroglou (€0,8M), Murillo (€0,75M), Ederson (€0,5M), Diego Lopes (€0,1M), Marçal (0€) e Pelé (0€). Ou seja, houve um investimento total de €39,032M.

Em ano de contenção anunciado pelo seu presidente, o Benfica investiu praticamente 40 milhões de euros no seu plantel, mais do triplo em relação ao Sporting.


3) A massa salarial

Olhando para os custos com pessoal de ambos os clubes (ou seja, os salários de estrutura, equipa técnica e jogadores) reportados nos relatórios do primeiro semestre da época, temos:

Sporting: €23,481M
Benfica: €23,888M

Ou seja, as despesas com salários do Benfica são marginalmente superiores às do Sporting.


Comprovadamente, o Sporting fez uma aposta forte nesta época. Mas, por muito forte que possa ter sido, continua a gastar menos que o Benfica na equipa de futebol.

É fácil perceber o objetivo com que Fernando Guerra escreveu que será uma surpresa se o Sporting não vencer o campeonato: tentar ampliar o mais possível a desilusão que advirá desse eventual cenário, direcionando-a para os seus ódios de estimação (Jorge Jesus e Bruno de Carvalho), ao mesmo tempo que prepara uma cortina de fumo que ajudará a disfarçar o fracasso das opções de Vieira caso, nas últimas jornadas, o Sporting consiga recuperar a liderança e sagrar-se campeão. 

A desonestidade desta análise é óbvia, não só porque omite o facto de a aposta do Benfica ser, objetivamente, superior à do Sporting, mas também porque a fez numa altura em que faltam apenas 4 jornadas para o campeonato, com o Benfica a levar 2 pontos de avanço e tendo um calendário teoricamente muito mais simples. Neste momento, é claro que será mais surpreendente se o Benfica não ganhar do que o contrário.

O que é indiscutível é que há muito que o Sporting não chegava a 4 jornadas do fim na discussão do título. Isto significa que a tal aposta rendeu frutos. Houve um elevar da fasquia competitiva do clube, que se deveu tanto a Jorge Jesus com ao aumento do orçamento, agora mais próximo do dos rivais. O aumento do orçamento valeu a pena? Na minha opinião, sim, sem dúvida, quer o Sporting se sagre campeão ou não. Mas isso será tema para ser desenvolvido em outros posts no futuro.