quarta-feira, 18 de maio de 2016

Jesus abre a porta?

Havendo a conjugação certa de uma série de fatores, não acho que seja impossível que Jorge Jesus possa abandonar o Sporting para ir para o Porto, como tanto se tem falado nos últimos tempos. Custa-me ainda menos a acreditar que o Porto esteja interessadíssimo na sua contratação, e que tenha já, inclusivamente, entrado em contacto com o treinador ou com os seus representantes para uma eventual transferência.

Não nos vamos iludir: a questão do sportinguismo de Jesus é irrelevante para o caso. É, acima de tudo, um profissional do futebol que tem os seus objetivos de carreira, e que procurará sempre os melhores projetos e contratos que conseguir arranjar. A questão da forma como foi recebido e acarinhado pelos adeptos em Alvalade poderá ter o seu peso, claro, mas será sempre um fator secundário no momento de tomar uma decisão.

O facto de Jorge Jesus não se deixar influenciar pelo coração ao ditar o rumo da sua carreira tem, portanto, um risco associado: havendo alguém a acenar com um projeto mais aliciante e pondo na mesa os 10 milhões para a rescisão, o Sporting não poderá fazer nada para o segurar. Por outro lado, o facto de Jorge Jesus não se deixar influenciar pelo coração ao ditar o rumo da sua carreira é, também, uma garantia para o Sporting, pois não há neste momento muitos clubes na Europa que poderão apresentar, em simultâneo, melhor contrato e melhor projeto capazes de convencer Jorge Jesus. E não acredito que, neste momento, o Porto faça parte desse grupo restrito.

Jesus ficou a dois pontos de ser campeão no Sporting. Assumindo que a maior parte dos jogadores-chave do atual plantel se manterá (não acredito que saiam mais do que dois titulares) e que chegarão reforços para as posições mais carenciadas, terá ainda melhores hipóteses de vencer na próxima época. Optando por mudar-se para o Porto, teria outro tipo de problemas que não encontraria no Sporting: um plantel mais necessitado de reforços, contas mais desequilibradas que obrigarão a vender vários jogadores titulares (e ainda sem a certeza de ter Champions na próxima época), e uma estrutura dividida que não lhe garante a autonomia com que gosta de trabalhar.

Até acredito que o Porto tenha capacidade para reunir as larguíssimas dezenas de milhões de euros de que necessitaria para arranjar um contrato e um projeto suficientemente aliciantes para tirar Jesus do Sporting. Para tal, seria necessário que a Meo antecipasse uma larga fatia das receitas do contrato que começa em 2018, ou que aparecesse algum investidor abastado. Mas não vejo o que Jesus tem a ganhar em sair para o Porto. Saindo agora, não teria mais garantias de sucesso do que tem no Sporting (o poder mora noutro lado). E tendo o azar de as coisas lhe correrem mal no Dragão, ficaria com as portas dos grandes todas fechadas. Em contrapartida, mantendo-se no Sporting, correndo as coisas bem ou mal nos anos que se seguirão, a opção Porto manter-se-á sempre em aberto.

Daí achar que aquilo que O Jogo noticiou ontem...


... não faz grande sentido. Aliás, os argumentos utilizados roçam o absurdo.

Dizem que o técnico não aceita perder João Mário, mas falamos de Jesus, o mesmo treinador que, durante 6 anos, viu Vieira retirar-lhe os seus melhores jogadores em quase todas as janelas de transferências. E dizem que o treinador está desiludido com a passividade no ataque às contratações, usando no interior do jornal (isto é mesmo verdade) os exemplos de Sá e Marega (!!!). Quanto à comunicação, não me parece que só por si seja um deal-breaker.

Quando vi a primeira página de ontem do jornal O Jogo, tive imediatamente que abrir a janela para deixar sair a imensa poeira de carvão que se levantou. Nada de novo: desde que Jesus assinou pelo Sporting, o passatempo preferido da imprensa e comentadores tem sido inventar motivos de discórdia entre treinador e presidente. Vale a pena relembrar o primeiro carvão a ser metido há pouco menos de um ano: Jesus ia vetar a presença de Bruno de Carvalho no banco de suplentes. Olhando agora à distância, tem a sua graça, não tem?

Neste momento, mantenho todos os cenários em aberto: que Jesus está mesmo interessado em ir para o Porto, que Jesus está a usar o interesse do Porto para renegociar as suas condições com o Sporting, que Jesus está satisfeito em Alvalade e totalmente focado no nosso projeto. Não conheço as suas motivações, mas confio que a decisão que tomará para o seu futuro imediato terá uma base maioritariamente racional. E, nesse sentido, parece-me que o cenário mais provável é aquele em que Jesus continua como treinador do Sporting em 2016/17.