quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pagar sem saber se pode usar, ou a corrida mais lenta de sempre?

Geralmente, uma das tarefas mais complicadas que o comum dos emblemas tem para resolver nas janelas de transferências é arranjar colocação para os jogadores excedentários em condições favoráveis para os seus cofres. Normalmente, os clubes dão-se por satisfeitos se conseguirem vendê-los recuperando a totalidade ou a maior parte do investimento. Não sendo isso possível, e se não estiverem dispostos a assumir o prejuízo de uma venda por um valor bastante inferior ao da compra, então tentam emprestá-lo a um clube que fique responsável por todos os encargos salariais e, eventualmente, até pague uma determinada verba por essa cedência temporária. No entanto, são muitos os casos em que nem isso se consegue. Surgem então as últimas alternativas: emprestam o jogador, mas continuando a suportar parte ou a totalidade do salário; ou encostam-no e colocam-no na equipa B, na equipa de reservas, ou a treinar à parte.

Conseguir vender um excedentário por mais do triplo do seu valor de mercado é algo que, definitivamente, apenas está ao alcance de clubes com relacionamentos muito privilegiados com gente que não tenha grande amor ao dinheiro. É nesta categoria que, segundo o que nos vai sendo transmitido pela comunicação social, se encaixa a venda de Talisca ao Wolverhampton. Temos, portanto, um clube da 2ª divisão inglesa que está interessado no jogador e, sem ligar a qualquer critério racional de avaliação de um atleta, está disposto a estourar 25 milhões de euros por um jogador que não vale sequer um terço desse montante.


Um luxo que os novos donos do clube inglês parecem muito desejosos de assegurar, mas ainda assim, um luxo que parece ser cobiçado... por muitos outros. Isto porque, mesmo que falhe a transferência de Talisca para o Wolves...


... os 25 milhões de euros que o Benfica quer receber não estarão em risco. É que, segundo o jornal A Bola, existem mais clubes interessados no jogador.

Ou seja, na eventualidade de falhar a inscrição em Inglaterra, e não estando em causa os 25 milhões e havendo outros clubes interessados, só pode significar que estamos perante um de dois cenários:

1) O Wolves não pode inscrever o jogador, mas compra-o na mesma por 25 milhões, cedendo-o depois a outro clube de outro país; para além de ser estranho que um clube queime tanto dinheiro num jogador que não pode usar de imediato, este cenário tem o twist adicional de o Wolves não ter forma de saber se conseguirá algum dia inscrever o jogador; ou seja, se por acaso não correr extraordinariamente bem a vida a Talisca na barriga de aluguer, isso significa que não será convocado para a seleção brasileira; e não sendo convocado para a seleção, continuará a não cumprir os requisitos para ser inscrito em Inglaterra. Em vez de reforçarem a equipa para o objetivo imediato de regressar à Premier League, preferem pagar 25 milhões por um jogador que não podem usar, e sem sequer saberem se algum dia poderão tirar proveito desportivo dele. Wow.

2) Existem clubes endinheirados de outros países dispostos a pagar os 25 milhões que o Benfica quer pelo jogador. Clubes esses, que não são chineses (Talisca já rejeitou ir para a China) e que estão dispostos a esperar pela conclusão do processo em Inglaterra. A corrida mais lenta de sempre por um jogador tão caro. Duplo wow.

Tudo isto é tão extraordinário, que nem a expressão negócio da China lhe faz justiça. Mas tem mesmo que ser assim, porque segundo rezam as lendas, ainda há mais 100 mendilhões em vendas para realizar. Só mesmo um Midas para concretizar uma coisa destas.