terça-feira, 13 de setembro de 2016

Reembolsar ou não reembolsar: eis a questão

Ainda sobre a problemática da obrigatoriedade de o Sporting ter que usar uma percentagem significativa das suas vendas para abater a sua dívida bancária, parece-me interessante olhar um pouco para a realidade em que os seus rivais vivem, ou seja, na inexistência de acordos que os forcem a pagar o que devem à banca, à medida que vão registando mais-valias com a venda de jogadores.

O CIES (observatório de futebol) divulgou recentemente um quadro com os clubes que mais receitas geraram através da venda de jogadores, entre 2010 e 2016. Benfica e Porto aparecem no quadro, em 4º e 5º lugar, respetivamente.


Mesmo considerando que muitas dessas vendas foram realizadas em mendilhões, não deixam de ser números impressionantes - com destaque para 2015, ano em que ambos os clubes alcançaram o seu recorde de vendas (€103M o Benfica e €100M o Porto).

Seria de esperar que, perante tamanho nível de receitas, a dependência dos clubes dos empréstimos da banca tendesse a diminuir, certo? Errado.

O Porto, neste período, registou a seguinte evolução:


De assinalar que entre 2014 e 2015, o Porto passou a englobar a empresa detentora do Estádio do Dragão nas suas contas, o que justifica parcialmente o aumento verificado entre esses dois períodos.

Por sua vez, o Benfica registou a seguinte evolução:


Portanto, apesar das dezenas de milhões de vendas faturadas todos os anos, a regra é de crescimento da dívida, e não o oposto. No caso do Benfica há agora uma ténue tendência de redução, que coincidiu com os melhores anos de vendas da sua história. No Porto, há também uma ligeira redução de 2015 para o 3º trimestre de 2016, mas há que perceber qual será o impacto do último trimestre - habitualmente com poucas receitas mas muitos custos - nesta evolução.

Evidentemente que, neste período, ambas as SAD's conquistar vários títulos no futebol, o que é, em última análise, o seu grande objetivo - e não a redução da dívida bancária e obrigacionista -, mas se não conseguiram reembolsar uma parte significativa dos empréstimos aos bancos num período bem largo de vacas gordas, o que acontecerá caso, de um momento para outro, esta bonança de receitas extraordinárias desaparecer?