quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Serviços mínimos

Não estando propriamente à espera que, num jogo contra uma equipa de um escalão inferior e alinhando com um onze alternativo que pouco ou nada está rotinado, o Sporting fizesse uma exibição de encher o olho, mas sou obrigado a confessar que as (poucas) expetativas que tinha, conseguiram, mesmo assim, sair defraudadas.

Na primeira parte, a equipa foi incapaz de definir os ritmos de jogo e passou por dificuldades na construção de jogo perante a pressão exercída pelo Famalicão, que conseguiu estabelecer algum domínio territorial e não merecia chegar a perder ao intervalo. Na segunda parte, a entrada de William foi fundamental para o Sporting conseguir controlar um pouco mais os acontecimentos do jogo, poderia ter alargado a vantagem, mas há que dizer que, perto do fim, o Famalicão dispôs de duas oportunidades que poderiam ter levado o jogo para prolongamento. Teria sido um prémio justo para a equipa da casa, é preciso reconhecê-lo.



A estreia de Beto - dos onze jogadores que iniciaram a partida, Beto foi o único que correspondeu totalmente às expetativas. Teve um volume de trabalho considerável, mais em quantidade do que em dificuldade - certamente que mais exigente do que estaria à espera -, mas fez uma exibição muito segura. Deixa os sportinguistas com a certeza de que a posição de guarda-redes está muito bem preenchida.

A entrada de William - perante a incapacidade de Petrovic em pegar na bola, foi visível, desde o primeiro minuto após a sua entrada ao intervalo, a diferença de qualidade que William oferece à organização ofensiva do Sporting. À sua volta, todos os jogadores sobem automaticamente de rendimento.

Alguns pormenores - Paulo Oliveira e Douglas conseguiram um jogo globalmente positivo, apesar de terem revelado dificuldades na primeira fase de construção. Alan Ruiz esteve apagado, mais uma vez, mas conseguiu fazer dois passes para golo. Sem bola é que é pior, pois só conhece dois tipos de ação defensiva: ficar parado, ou correr atrás do adversário e usar o corpo com força excessiva, levando à marcação de faltas desnecessárias. Markovic marcou o golo decisivo, que foi o segundo em dois jogos, mas falta-lhe sentido prático em muitas das suas iniciativas. André teve pouca bola para mostrar o que vale, mas continuo a ter boas sensações em relação ao que poderá oferecer ao Sporting no futuro. Elias fez o passe para o golo de Markovic e revelou, mais uma vez, propensão para causar desequilíbrios em progressão com a bola, sabendo tirar partido dos apoios que os colegas lhe dão.




A exibição - muito pobre. O Sporting até se colocou cedo em vantagem, mas alcançou-a na primeira jogada em que chegou à baliza do Famalicão. Durante os 90 minutos, as oportunidades de golo foram escassas, fruto de falta capacidade de ligação entre os setores e de carências no entrosamento entre jogadores, particularmente visível na capacidade nula que Paulo Oliveira, Douglas e Petrovic tinham em iniciar os lances de ataque. Mas isso não explica tudo. Houve falta de vontade e os níveis de concentração estiveram pelas ruas da amargura. A falta de vontade notou-se na ausência de pressão no meio-campo do Famalicão e na baixa percentagem de bolas divididas ganhas, e os baixos níveis de concentração saltaram à vista no elevadíssimo número de passes mal direcionados, cruzamentos para zonas desertas, e outras bolas perdidas desnecessariamente.

O momento de Jefferson - já ando a dizer isto há algum tempo, mas hoje terá ficado evidente para todos que o brasileiro já não tem condições para jogar no Sporting. É com muita pena que o digo, pois, como os sportinguistas sabem, tem qualidades que poderiam torná-lo muito útil à equipa. O problema é que está metido num profundo abismo psicológico e não parece ter capacidade para sair de lá - e não tem sido por falta de oportunidades. Erros atrás de erros, com bola, sem bola, ou em bolas divididas. O seu corredor é um autêntico passador e todos os adversários percebem que é por ali que devem carregar para ameaçar a baliza do Sporting.

O regresso de Mighty Mota - pode parecer incrível, mas o trabalho de Manuel Mota conseguiu estar num nível inferior à da exibição do Sporting. Dou-lhe o benefício da dúvida num eventual penálti sobre Alan Ruiz, mas não assinalou um penálti (de mão na bola) escandaloso na segunda parte, não expulsou (nem sequer mostrou amarelo) um jogador do Famalicão por um pisão em Alan Ruiz com o jogo parado, e fechou os olhos a uma cotovelada em cheio no nariz de Gelson Martins. Some-se, a esses três erros graves, uma série de faltas claras sobre jogadores do Sporting que ficaram por assinalar. Do outro lado do campo, as coisas correram-lhe melhor: nunca lhe faltou o fôlego para apitar sempre que um jogador da casa caía ao chão, mesmo que as cargas fossem cometidas com a mesma intensidade que as outras que não assinalava a favor do Sporting. Podem ver um vídeo com alguns exemplos aqui: LINK.



Numa noite de serviços mínimos, o fundamental foi alcançado: a vitória e consequente apuramento para a fase seguinte, sem um dispêndio exagerado de esforço físico. Aguardemos agora pelo sorteio, onde seguramente nos calhará uma deslocação ao campo de uma equipa nunca inferior a um V. Guimarães.