segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Do ridículo negacionismo

Novo texto do 3295C.




A manchete de ontem do jornal A Bola é do mais absoluto ridículo que se pode encontrar. Provavelmente, acreditam na Travessa da Queimada, que o assunto fica assim fechado, parecendo demonstrar com 'factos' um assunto que nem sequer merece o epíteto de polémica porque, dúvidas, só mesmo na mente dos mais mal-intencionados.

A primeira falta de noção do ridículo é logo o título das páginas centrais (não o da 1.ª página) que mostra, em grandes capitulares, que Bruno de Carvalho não tem razão. Esta obsessão pelo nome/figura do Presidente do Sporting começa a roçar o doentio. Esta questão já vem muito antes de Bruno de Carvalho, sequer, existir. O mesmo jornalista que fez a 'pesquisa' para demonstrar os seus argumentos como 'factos' deve ter passado, com toda a certeza, os olhos em vários escritos (publicados ainda antes do actual Presidente do Sporting), que davam conta da questão aqui em causa. Esta não é uma afirmação de Bruno de Carvalho sobre o verdadeiro palmarés leonino. Ridícula é também esta obsessão por Bruno de Carvalho. Já Jaime Pires* (anos 1970 e 1980) e Jorge Vieira** (nas décadas anteriores) já se referiam ao assunto, contabilizando títulos que desde há algum tempo tentam subtrair, não apenas ao Sporting, mas a todos os outros emblemas que, independentemente da dinâmica da prova, indubitavelmente apurava o campeão nacional. O jornalismo desportivo não nasceu na Travessa da Queimada. Qualquer dia, podem até dizer que são o jornal mais antigo desportivo português em actividade, se quiserem ignorar igualmente a história do Jornal Sporting.

Um dos argumentos apresentados como 'facto' para apresentar a Taça de Portugal como sucessora do Campeonato de Portugal foi as placas gravadas dos vencedores no troféu. Portanto, de acordo com as centrais do jornal A Bola, os campeões consagrados de 1921/1922 até 1934 – ano da primeira edição da liga experimental – andaram nas páginas dos jornais e reconhecidos pelo país inteiro como campeões mas, o que não sabiam, é que não era título nenhum de campeão e sim da Taça de Portugal, que só viria a nascer 13 anos depois. Não há campeões nacionais de futebol antes das ligas experimentais de 1934. Quer dizer, houve, mas foi só naquela altura. Depois de 1934, tudo o que ficou para trás não conta.

Com argumentos como este, das placas gravadas, se faz bom jornalismo de investigação, fazendo tábua rasa do que Henrique Parreirão escreveu em 1989 no livro que já foi referido aqui neste blogue, comemorativo das bodas de diamante da FPF. Este, sim, com trabalho de procura em actas da FPF e com as conclusões já (igualmente) descritas na peça da edição desta semana do Jornal Sporting.

O facto da Taça de Portugal ser apresentada como a sucessora dos Campeonatos de Portugal tem, única e exclusivamente a ver com o facto das duas competições se disputarem da mesma forma. Apenas isso. O exemplo da Taça dos Clubes Campeões Europeus versus Liga dos Campeões é perfeito: De Taça passou a Liga, o formato foi, inclusivamente, completamente modificado, mas o título é o mesmo.

Até eu começo a sentir-me ridículo a tentar justificar o que parece não ter a mínima dúvida. Ser contra a sonegação de quatro títulos de campeão ao Sporting é também dizer negar a teoria que querem plantar no futebol português que, campeões nacionais, só houve a partir de 1934, com o arranque de umas ligas experimentais (1.ª e 2.ª divisões).

Negacionistas há-os em todo o lado. Das alterações climáticas, imagine-se, que chegam até a Presidente dos Estados Unidos da América. O que não quer dizer que tenham razão. Razão têm os Sportinguistas para estarem à espera de festejar o seu 23.º título de campeão da sua história. O resto é puro e ridículo negacionismo.

VIVA O SPORTING!

* Antigo jornalista, que também colaborou com o Jornal Sporting
** Antigo capitão e atleta do Sporting (entre 1911 e 1931), prémio fair-play da UEFA, que morreu como sócio n.º1 do Clube (LINK)