terça-feira, 1 de novembro de 2016

O negócio Emirates

Agora que o relatório e contas anual do Benfica é conhecido, já se consegue ter uma ideia mais exata daquilo que representa o negócio entre o clube e a Emirates.

Na altura em que se celebrou o contrato, o clube não revelou publicamente os valores do negócio, mas não tardaram a surgir notícias em todos os órgãos de comunicação social que apontavam para verbas entre os 8 e os 10 milhões de euros. Um negócio fabuloso que, segundo essas mesmas notícias, representava um aumento para o dobro em relação ao que a PT pagava até então.


Segundo essas notícias, o contrato anterior com a PT rondaria os 4 milhões de euros anuais, enquanto que o da Emirates valeria 8 milhões anuais, com a possibilidade de chegar aos 10 milhões se determinados objetivos fossem atingidos.

No entanto, à medida que a época foi decorrendo e os resultados trimestrais foram sendo divulgados, não houve qualquer confirmação de que o negócio era, do ponto de vista financeiro, assim tão fabuloso - pois os valores de patrocínios e publicidade da SAD mantiveram-se nivelados com os dos da época anterior.

O R&C anual do Benfica, que foi finalmente divulgado no final da noite de ontem, dissipa todas as dúvidas.


Não sei quais eram os objetivos estabelecidos para o Benfica ter direito ao prémio variável, mas presumo que terão sido cumpridos - pelo menos se fossem realistas. A equipa sagrou-se campeã nacional e conseguiu chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. No entanto, como se pode ver pela diferença para a época anterior, não há nada que indicie que a Emirates tenha oferecido o dobro do que a PT pagava antes. É certo que o R&C não discrimina quanto paga cada patrocinador, mas sabe-se que, durante a época de 2015/16, não houve nenhuma outra atualização ou perda significativa de patrocínios. Pelo contrário: foram anunciados novos patrocínios. Como tal, pode-se concluir que o negócio da Emirates, no que a valores fixos diz respeito, é, na melhor das hipóteses, marginalmente superior ao da PT. Ou seja, muito, muito longe de chegar sequer aos 8 milhões, e Ainda menos aos 10 milhões.

Outra conclusão que se pode retirar é que os rumores de valores que saltaram para a praça pública não foram mais do que um produto de propaganda benfiquista. O Benfica nunca os confirmou oficialmente, é certo, mas também nunca os desmentiu. E sabemos bem como funciona o mundo das aparências. Mais importante do que passar os valores verdadeiros, o Benfica tentou aproveitar-se da notícia para marcar uma diferença de atratividade em relação aos rivais que, afinal, não correspondia à realidade. A marca Benfica é, de facto, mais atrativa do que a de Sporting e Porto - não há como negá-lo, pois foi a única que, na altura, conseguiu vender o patrocínio das camisolas separadamente do contrato de direitos televisivos -, mas não tão superior como se tentou fazer crer. É completamente diferente anunciar um novo contrato que paga sensivelmente o mesmo que o anterior, do que anunciar um contrato que vale o dobro.

Para além disso, à luz dos valores que agora sabemos terem sido acordados, as receitas conjuntas que o Benfica conseguiu pelos direitos televisivos e patrocínio das camisolas não são, numa média anual, superiores às negociadas por Sporting e Porto com a NOS e Meo. Quando terminar o atual contrato com a Emirates, logo se verá se o Benfica conseguirá, efetivamente, avançar para um nível superior em relação aos rivais - mas, pelo sim, pelo não, é melhor não confiar a 100% nas notícias que sairão na altura, e esperar pela divulgação dos relatórios e contas seguintes.