domingo, 27 de novembro de 2016

Uma vitória para acabar com traumas recentes

Depois do afastamento da Liga dos Campeões, e face à desvantagem pontual para o Benfica no campeonato, era absolutamente imperioso que o Sporting saísse do Bessa com os três pontos no bolso. A tarefa era tudo menos fácil: num campo complicado (onde, há um ano, perdemos dois pontos), contra uma equipa muito batalhadora (apesar de muito desfalcada), que tentou desgastar o Sporting, desde o início, através de uma pressão intensa, de forma a tentar tirar proveito da ressaca do esforço dispendido contra o Real Madrid.

Convém não esquecer que o Boavista - que é sobretudo vista como uma equipa de pinos caceteiros -, estava, à partida para esta jornada, na metade de cima da classificação, já não perdia há 5 jogos (quando se deslocou ao Dragão), e é orientada por um bom treinador, Miguel Leal.

O Sporting soube impor-se desde cedo, foi a única equipa que causou perigo, e poderia ter vencido confortavelmente caso a eficácia na finalização tivesse sido superior. O único período de maior preocupação veio com a (incorreta, a meu ver) expulsão de Rúben Semedo, aos 83', mas o Sporting soube, então, adaptar-se às circunstâncias - revelando uma faceta que ainda não tinha demonstrado esta época: soube ser uma equipa cínica, usando, para variar, o antijogo em seu favor.

Uma vitória duplamente importante: pelos pontos conquistados, obviamente, mas também porque a equipa estava a precisar de ganhar um jogo em que fosse obrigada a sofrer até ao fim - para ajudá-la a ultrapassar traumas recentes de golos sofridos ao cair do pano.





A linha avançada, na primeira parte - Jesus optou (finalmente) por colocar Campbell no apoio a Dost, com Bruno César encostado à esquerda e Gelson a semear o caos pela direita. Foi uma aposta ganha, o que não é uma propriamente uma surpresa: estes quatro elementos têm demonstrado ser os melhores da equipa para cada uma destas posições. A mobilidade desta linha complicou as tentativas de marcação do Boavista, e, a partir dos 15 minutos, o domínio sportinguista foi avassalador, sucedendo-se as oportunidades e adivinhando-se o golo, que acabaria, finalmente, por surgir aos 25', após uma grande jogada de Gelson para uma bela finalização de Bas Dost. Já antes Dost tinha atirado ao poste, após bom entendimento com Campbell, e Gelson (que exibição!) tinha falhado o golo, na cara de Agayev, após grande passe de Dost. É verdade que, na segunda parte, o rendimento ofensivo caiu um pouco e as oportunidades foram mais espaçadas - destacando-se mais um grande trabalho de Gelson a servir Bruno César, para um remate à barra -, mas creio que Jesus encontrou finalmente o melhor onze.

Um Adrien para 90+90 minutos - pode-se perceber agora que, até à lesão, estávamos perante um Adrien a 70% da sua capacidade física. A paragem forçada pela lesão contraída em Guimarães permitiu uma intervenção cirúrgica para resolver um outro problema que o impedia de estar a 100% - eram notórias as dificuldades a partir dos 60 minutos, obrigando a uma gestão cuidadosa de esforço -, e, nesta semana, o capitão teve uma prova de fogo, que superou plenamente: foram 90 minutos de intensidade máxima frente ao Real Madrid, e, quatro dias depois, novos 90 minutos de grande qualidade, sobretudo defensiva. Se o Boavista não criou qualquer perigo em lances de contra-ataque, deve-se muito à rapidez com que Adrien cortou muitas dessas iniciativas. Justiça seja feita, ajudou o facto de estar acompanhado por um grande William Carvalho, que também fez uma excelente exibição.

Uma vitória para dar confiança - é evidente que teria sido melhor vencer por 3 ou 4, caso tivéssemos concretizado as ocasiões flagrantes de que dispusemos, mas também estávamos necessitados de ganhar um jogo apertado e em condições adversas, para ajudar a ultrapassar os resultados que deixámos escapar nos últimos minutos contra o Real Madrid (por duas vezes) e V. Guimarães. Perante a contrariadade da expulsão de Semedo, a equipa manteve-se tranquila e lúcida, como se pôde comprovar pela... (avancemos para o próximo ponto)

Excelente gestão dos últimos minutos - depois de Rúben Semedo ter sido expulso, o Sporting praticamente não permitiu que se jogasse mais. Não é bonito de se ver, mas a equipa fez aquilo que tinha a fazer, perante uma vantagem tangencial no marcador e a desvantagem numérica a que ficou sujeita para os últimos dez minutos de jogo. Rúben adiou o mais possível a saída de campo - o suficiente para que Paulo Oliveira pudesse entrar ainda antes da marcação do livre -, tivemos as clássicas câimbras do guarda-redes, demora na reposição da bola em jogo, e aproveitaram-se todas as oportunidades em posse para conduzir a bola para junta das bandeirolas de canto opostas à baliza de Rui Patrício e mantê-la lá tanto tempo quanto possível. Neste departamento, estiveram particularmente bem Marvin Zeegelaar e Bryan Ruiz, que queimaram metade dos cinco minutos de descontos em sucessivos cantos e lançamentos laterais. Fazia falta esta ratice. A repetir sempre que se registarem circunstâncias idênticas.

Last, but not the least - mais atrás, de registar o bom jogo de Coates (o que é um hábito) e de Marvin Zeegelaar. Em relação ao holandês, parece estar a recuperar a confiança perdida. Já tinha feito uma boa exibição contra o Real, e repetiu-a hoje. A insistência de Jesus no holandês parece estar, finalmente, a dar frutos.



"Pôs-se a jeito", o #@$%*& - foi muito ouvido por aí, no rescaldo do jogo com Real Madrid: o João Pereira não fez nada, mas pôs-se a jeito. E já adivinho que, com Rúben Semedo, muita gente volte a ter a mesma opinião - "não acertou no outro, mas já tinha amarelo, pôs-se a jeito". Lamento, mas não estou de acordo. Rúben Semedo entra de forma impetuosa, sim, mas em momento algum coloca em risco a integridade física do adversário, que não estava assim tão próximo. Pôr-se a jeito é quando se faz efetivamente algo que justifique a punição, porque os árbitros estão lá para fazer cumprir as leis. Jogo perigoso, sim, mas apenas isso. Quando um jogador não faz nada que justifique um cartão, não se está a pôr a jeito, está a... jogar. Aos 3', Carlos Santos cortou um ataque mais que prometedor com um pisão perigoso no calcanhar de Gelson (até o descalçou):



Carlos Santos "pôs-se a jeito" para jogar 87 minutos sem margem para se "pôr a jeito" outra vez, mas, para sua felicidade, Fábio Veríssimo não viu aqui qualquer motivo para cartão. Carlos Santos, que, por acaso, acabaria por ver mesmo um amarelo aos 30 minutos. O que aconteceu com Rúben Semedo não foi uma questão de "se pôr a jeito", foi apenas um caso evidente de dualidade de critérios (e existiram vários, durante os 90 minutos).



Missão cumprida, com o bónus adicional de ter valido o segundo lugar isolado, já que, de seguida, o Porto empataria em Belém. O ciclo infernal continua já esta quarta-feira, num jogo em Alvalade - que se prevê quentinho -, para a Taça da Liga, contra o Arouca.