quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O elemento neutro que não o é, e os elementos neutros que não o deviam ser

O Sporting a um nível paupérrimo. Apesar de tudo, foi o árbitro, e não o adversário, a resolver. Ou seja, a Taça da Liga no seu melhor. Não me ocorre resumir o que se passou hoje de outra forma. Resultado: Sporting fora da competição, depois de ter feito o mínimo dos mínimos para passar. Podia ter-se colocado a salvo dos erros do apito se jogasse um pouco mais? Podia. Mas, desportivamente falando, devia ser obrigado a jogar mais apenas para se colocar a salvo dos erros do apito? Não, porque (supostamente) não é para isso que os árbitros lá estão. Rui Oliveira, mais um internacional prematuro cuidadosamente desenvolvido pelo Benfica Lab, esteve à altura dos pergaminhos da Taça Lucílio Baptista.



A peça à volta da qual se devia construir a equipa - Bas Dost não sabe jogar mal. Mesmo quando tem pouca bola, normalmente sabe o que fazer com ela. Mais uma vez, os colegas não conseguiram servi-lo em condições, mas o holandês não pode ser acusado de idêntica falta de gentileza: assistiu Elias no golo e deixou André na cara de Bruno Varela. Olhando para a falta de resultados práticos do atual sistema de jogo, mastigado e de nula objetividade, parece-me óbvio que a equipa tem que ser construída à volta de Dost e não o oposto. Por exemplo, não vejo o que ganha o Sporting, no atual estado do seu futebol, em exigir a Bas Dost que participe tanto na construção a 40 metros da baliza. Está na altura de Jesus se render às evidências.



Os elementos neutros que não o deviam ser - hesitei em decidir como começar os pontos negativos, se com este, ou com o outro que se segue. Decidi-me por este porque é o único em que estamos efetivamente dependentes de nós próprios. A equipa não jogou nada. É um deserto de ideias. Não houve quem criasse movimentos de rutura. Não houve quem cruzasse com qualidade. Não houve quem fizesse combinações capazes de furar as linhas do V. Setúbal. Não houve quem soubesse finalizar de forma minimamente decente. Não houve quem conseguisse segurar o jogo no final, numa altura em que V. Setúbal já nem sequer tinha forças para pressionar. Foram todos igualmente maus? Não, obviamente, mas quando há vários jogadores em tão má forma, acabam por não facilitar a vida dos restantes. Em relação ao onze inicial, compreendo que Jorge Jesus tenha querido gerir a equipa, mas não é admissível que, depois do investimento feito, haja tão pouco futebol para mostrar.

Foto: Global Imagens / Filipe Amorim
O elemento neutro que não o é - independentemente do que foi referido anteriormente sobre a qualidade de jogo do Sporting, o árbitro está em campo para conduzir o jogo sem interferir no resultado. Devia ser o elemento neutro de uma partida de futebol, participando apenas para garantir o cumprimento das regras. Obviamente que, humanos como são, os árbitros estão sujeitos a errar. O que torna toda esta podridão tão óbvia é que os erros são de tal forma desequilibrados a favor de uns e contra outros, que não é possível que seja uma questão de aleatoriedade. É, evidentemente, uma questão de intencionalidade. Os árbitros prejudicam o Sporting intencionalmente. Como referi, isto não invalida que o Sporting precise de jogar mais à bola, mas o facto é que o Sporting jogou os mínimos para obter um resultado que lhe interessava, e também não legitima que, mais uma vez, seja colocado fora de uma competição por causa de um erro daquele que devia ser um elemento neutro no jogo. É mais do que evidente que a equipa de arbitragem liderada por Rui Oliveira estava apenas à espera de uma oportunidade para fazer o que fez. Depois de vários foras-de-jogo mal assinalados (sempre em prejuízo do Sporting), depois de dois cantos transformados em pontapés de baliza (sempre em prejuízo do Sporting), Rui Oliveira vislumbrou um penálti que não existiu e eliminou o Sporting da Taça da Liga. Há tradições que até ficava mal não serem cumpridas.



Duas questões que não podem ser escamoteadas mutuamente. Primeiro: o Sporting tem a obrigação de jogar muito mais à bola. Segundo, mas não menos importante que o primeiro: a arbitragem foi tomada de assalto pelo Benfica, com um quadro de árbitros criados em aviário, e estamos a caminho de assistir a vergonhas idênticas ao que se viu nos anos 90 e 00 com o Porto. A diferença em relação aos tempos áureos do Porto é que, desta vez, a comunicação social vai tentar branquear tudo, o que acaba por dar um sentido de impunidade superior ao que havia no reinado anterior.