segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O holandês matador e o bom futebol que saiu de maca

Não era fácil imaginar que após uma entrada tão boa do Sporting, pressionante, dinâmica, e com um sentido prático bastante superior ao que tem sido hábito, e que culminou num 2-0 ainda antes de o relógio ter atingido a marca dos 20 minutos, que acabássemos a partida a defender uma vantagem marginal. Verdade seja dita, existiram dois fatores bem fortes para esta quebra: a saída de Adrien por lesão - felizmente, está tudo bem com o capitão - que parece ter levado o bom futebol consigo para fora de campo; e as sequelas psicológicas dos maus resultados recentes, que levam jogadores e público a esperar o pior quando o resultado está em aberto. A primeira tem de se resolver com trabalho (e talento), a segunda só se resolve com resultados.



O matador Dost - mais dois golos marcados nas duas únicas oportunidades que teve, foi o principal responsável pela vitória. Os dois golos eram fáceis de marcar? Sim, mas sabemos bem que o que há mais por aí é quem seja capaz de falhar situações aparentemente tão simples como esta, e há também que valorizar a inteligência nas movimentações. O holandês, sem ter tido oportunidade de converter penáltis, ascendeu à primeira posição da tabela dos melhores marcadores, com a excelente média de um golo marcado a cada 100 minutos jogados.

Finalmente, Alan Ruiz - logo no primeiro minuto de jogo, perdeu uma bola de forma desnecessária no meio-campo do Sporting que proporcionaria uma boa situação de ataque ao Feirense, e ouviu os primeiros assobios da bancada. Aos 38', perdeu outra bola de forma igualmente desnecessária, mas aí já ninguém reclamou. É que, entre uma e outra perda de bola, foi um dos principais dinamizadores da equipa, sendo responsável por dois passes mortíferos que eram meio golo (Dost aproveitou o seu, Gelson não) e um remate de meia-distância que não ficou longe de abanar as redes por uma terceira vez. Desapareceu na segunda parte, mas isso não foi um mal exclusivo do argentino. Foi a sua melhor partida desde que chegou a Alvalade.



Capazes do melhor e do pior - Joel Campbell e Bruno César merecem destaque positivo pelo magnífico trabalho que fizeram no primeiro golo. O extremo fez um jogo muito esforçado, nota-se uma preocupação cada vez maior em participar nas tarefas defensivas, e teve belas iniciativas em que conseguiu criar espaços no ataque. O problema é que, no momento de decidir, tanto é capaz de fazer uma assistência como fazer um remate ou um passe disparatados. Bruno César fez um jogo globalmente positivo, concentrado defensivamente e participando frequentemente nas tarefas ofensivas, mas ficou ligado ao golo do Feirense: era o brasileiro que marcava Platiny, mas distraíu-se uma fração de segundo a reclamar fora-de-jogo, o que foi suficiente para o adversário lhe fugir.

A arbitragem - a equipa de arbitragem cometeu dois pequenos erros em lances que, mais tarde, dariam um dos golos do Sporting e o golo do Feirense: Alan Ruiz estava marginalmente adiantado (por um pé) quando recebe a bola - a jogada prosseguiria, com o argentino a parar, rodopiar e iniciar o movimento interior que estaria na origem do segundo golo do Sporting; assinalou ao contrário um lançamento lateral junto à área do Sporting, e, na sequência desse lançamento, o Feirense marcou. Para além disso, houve um fora-de-jogo mal assinalado num lance em que Gelson apareceria isolado na cara do guarda-redes.


A ausência do capitão - numa exibição coletiva que variou entre o muito bom e o muito mau, é fácil encontrar o momento que serviu de fronteira entre esses dois estados: a saída de Adrien, por lesão. Elias entrou para o seu lugar, mas não conseguiu manter o nível do meio-campo. Não que Adrien estivesse a fazer um grande jogo, bem entendido. Mas o brasileiro não conseguiu garantir duas "pequenas" coisas que Adrien assegurava: preocupação em dar linhas de passe no início da construção; e, conforme Jesus referiu na conferência de imprensa, a tal reação à perda. Elias não deu nem uma coisa nem outra, mas seria injusto colocar-lhe toda a responsabilidade pela péssima segunda parte, já que ninguém mais se "ofereceu" para ajudar a fazer esquecer a ausência do capitão.

Apetência para dar tiros nos pés - o passe disparatado de Beto para um adversário à entrada da área; o falhanço de Bryan Ruiz, que, isolado, decidiu fazer uma espécie de chapéu ao guarda-redes e não acertou na baliza; a perda de bola de Gelson, já nos descontos, que tentou driblar quando podia ter segurado a bola ou passado para um companheiro livre, e que originou um contra-ataque do Feirense, parado em falta por Elias, que lhe valeu o segundo amarelo. Três exemplos de situações que, bem resolvidas - e era facílimo resolver melhor -, podiam ter garantido uma vitória mais folgada ou, no mínimo, com menos calafrios. 



Nota-se bem a intranquilidade que vai na cabeça dos jogadores, fruto de tudo aquilo que tem acontecido. Esperemos que esta vitória ajude a estabilizar emocionalmente a equipa, agora que vai começar um ciclo terrível: nos próximos seis jogos, o Sporting joga 5 fora, incluindo deslocações ao Marítimo, Chaves (2x) e Porto.