quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A anti-candidatura de Madeira Rodrigues


Sou o primeiro a admitir que não é fácil a um candidato à presidência de um clube conseguir montar uma campanha eleitoral eficaz contra um presidente em exercício - a não ser que o clube esteja à beira da ruína ou tenha desempenhos sistemáticos abaixo do exigível. Não há muito por onde possa tentar marcar a diferença aos dirigentes atuais: ou baseia a sua candidatura na exploração dos objetivos que a direção em exercício não conseguiu atingir, ou, em alternativa, pode apresentar uma visão estratégica completamente distinta para o clube.

Pedro Madeira Rodrigues optou pela primeira abordagem. Espremendo o pouco sumo que existe nas suas intervenções, percebe-se que nada de verdadeiramente disruptivo se poderá esperar da sua liderança caso vença. Promete rigor orçamental - que tem sido uma das bandeiras da atual direção* -, promete contratações cirúrgicas - há alguém que diga que vai contratar em quantidade na esperança que alguns deles se aproveitem? -, promete uma aposta crescente na formação - o que faz parte da cultura do Sporting - e promete mudanças nos nomes que compõem a estrutura de futebol. 

* Os custos com o futebol têm subido substancialmente nas últimas duas épocas, é verdade, mas o fundamental para o rigor orçamental é que existam receitas que sustentem esse aumento - e essas receitas têm sido encontradas.

Nada neste discurso é novo, em teoria todos concordarão que são ideias que fazem sentido, mas não há nada que nos inspire um certo nível de confiança em como Madeira Rodrigues terá capacidade para as concretizar com sucesso - para já só há a palavra do próprio candidato, claro. Madeira Rodrigues, ao optar por esta estratégia, deveria ter-se rodeado imediatamente de nomes sonantes - coisa que, até ao momento, ainda não fez: não sabemos quem será o seu diretor desportivo, não sabemos quem será o seu treinador, não sabemos quem trará para fortalecer a estrutura do futebol e das modalidades. 

Nunca seria fácil, a um pretendente a presidente meio desconhecido, arranjar profissionais com currículo acima de qualquer suspeita que se comprometessem com a sua candidatura - mas havia um lado positivo nesta dificuldade: era uma excelente oportunidade para demonstrar capacidades importantes para quem ambiciona conduzir os destinos de um clube como o Sporting. Acredito que tenha tentado, mas, ao não ser bem sucedido, continua sem dar algo a que a generalidade dos sócios se possa agarrar no dia das eleições.

Nem sequer tem concretizado alguma das ideias mais distintivas do seu programa. Quer comprar a Academia, mas não diz qual será a poupança que isso representará para o Sporting, nem quem são ou qual o papel dos investidores de que fala. Fala na construção de um velódromo e de um Yacht Club, sem especificar qual será o tipo de proveito, desportivo ou financeiro, que se retirará dessas infra-estruturas. Sugere a existência de um centro de estágios no norte do país, mas não refere custos, forma de utilização e aproveitamento, ou do tipo de parceria que está a pensar.

Em vez de desenvolver as suas ideias, as ações de campanha mais recentes têm consistido principalmente em atacar o caráter do atual presidente - seja pelas palavras do próprio Madeira Rodrigues, de elementos da sua lista, de apoiantes notáveis, de opiniões de jornalistas, ou de testemunhos semi-anónimos recolhidos nas redes sociais - alguns dos quais nem sequer são sportinguistas. Em comum a todos eles só há uma coisa: o ódio a Bruno de Carvalho.

Depois de espremido o programa eleitoral e as primeiras entrevistas de charme de Madeira Rodrigues, sobra pouco mais do que uma candidatura anti. Esta estratégia não é nova, mas tem dois problemas: é destrutiva - o que nada de bom trará para o clube -, e está mais que provado de que um perfil oposto ao de Bruno de Carvalho não é garantia de absolutamente nada - basta lembrar o que fizeram os presidentes que o antecederam. Sem querer entrar nas qualidades/defeitos das figuras em causa, querem perfil mais diferente de Bruno de Carvalho do que o de Filipe Soares Franco, por exemplo?

Uma candidatura deve apontar o que será o caminho depois da eleição, no caso de ser bem sucedida, e não deve ter como fim a saída do atual presidente. A única coisa que realmente interessa é o que acontecerá depois de isso suceder. A candidatura de Madeira Rodrigues, até agora, parece resumir-se a ser uma espécie de anti-candidatura. Anti-candidato ou candidato anti, take your pick.

Madeira Rodrigues tem tempo para corrigir o rumo da campanha nos 20 dias que faltam até às eleições. Tem, inclusivamente, um debate (desconheço se existirão mais) onde poderá demonstrar que ambiciona algo mais que não seja apenas o afastamento de Bruno de Carvalho, para dar sinais de que tem condições para ser um bom presidente. Está na altura de mostrar que tem efetivamente ideias (mas ideias práticas, concretas, viáveis e lógicas, e não os chavões que todos usam quando falam do futuro) que possam ajudar o clube a crescer e a triunfar em todas as frentes. O Sporting agradece.