quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Cenário hipotético

Recuemos até ao princípio da época de 2013/14. Leonardo Jardim era o treinador do Sporting. Entre os atletas que faziam parte do clube, estava um jovem médio de 20 anos que, na época anterior, tinha dado nas vistas na equipa B. No entanto, Jardim não viu lugar para ele no plantel, acabando por optar por jogadores como William, Adrien, André Martins, Gerson Magrão ou Vítor Silva. 

Esse jovem médio foi reintegrado na equipa B, onde acabou por alguns problemas disciplinares, provavelmente causados por falta de motivação. Sabia que tinha qualidade para outro tipo de desafios.

Entretanto, Gerson Magrão e Vítor Silva não se conseguiram impor na equipa principal, mas nem assim o jovem médio foi promovido à equipa principal. Em janeiro, acabou por ser emprestado a outro clube da I Liga.

A maior parte das pessoas que está a ler estas linhas já deve ter percebido quem é o jovem médio de que estou a falar: João Mário Eduardo. E também conhecem o resto da história. Depois do empréstimo ao V. Setúbal, João Mário regressou ao Sporting, integrando o plantel principal durante duas épocas. Explodiu em 2015/16, tendo Jorge Jesus como treinador. Após duas épocas na equipa principal do Sporting, tornou-se a mais cara transferência de sempre de um jogador português a partir de Portugal. Hoje, ninguém no Inter dá por mal empregados os 40 milhões (que poderão ascender a 45) que pagaram por ele.

Imaginemos agora, recuando novamente a 2013/14, que Bruno de Carvalho, em vez de o emprestar ao V. Setúbal, o tinha vendido ou emprestado com opção de compra. João Mário não regressaria ao Sporting, não contribuiria para a equipa com o seu futebol, e não teria batido o tal recorde de transferências. Ao invés, iria concretizar o seu talento ao serviço de outro emblema.

De quem seria a culpa da oportunidade perdida? De quem decidiu que não tinha lugar no plantel (Leonardo Jardim), ou de quem de quem decidiu vendê-lo prematura e desnecessariamente (Bruno de Carvalho)?

Sabemos bem quem seria considerado o primeiro responsável: Bruno de Carvalho. E, neste caso, com razão. Por mais ou menos discutível que fosse a opção técnica, cabia ao presidente ter uma perspectiva menos imediata de toda a situação. Se confiava no valor do atleta, sabia que iriam haver novas oportunidades para se impor.

Vem isto a propósito de Bernardo Silva. Ontem alinhou num dos melhores jogos da época e, apesar de não ter sido dos jogadores mais influentes em campo, teve uma jogada absolutamente magistral que, caso tivesse terminado em golo, mereceria ser considerado como uma das melhores da época.


(via @olhaoquetedigo)

Inevitavelmente, como acontece sempre que se fala de Bernardo Silva, ressurgiram as críticas a Jorge Jesus. Estamos em 2017, e continuam a acusar o antigo treinador, apesar dos vários exemplos posteriores de jovens da formação do Benfica que foram vendidos sem sequer completarem uma época a jogar com regularidade. Os benfiquistas continuam a criticar Jorge Jesus, como se não existisse na altura uma enorme qualidade no plantel para a sua posição, como se tivesse sido Jesus a dar as rédeas negociais do clube a Jorge Mendes, como se tivesse sido Jesus a despachar o jogador em definitivo à primeira oportunidade, por um valor bastante inferior à cláusula de rescisão. 

Compreende-se: é muito mais cómodo responsabilizar Satã do que a alternativa que sobra.