domingo, 26 de março de 2017

O suspeito do costume

Ganhar por 3-0 à Hungria é um resultado normal, considerando a diferença de valor que existe entre as duas equipas. Anormal foi o empate a 3 que aconteceu no Euro 2016. Curiosamente, o onze inicial não foi assim tão diferente daquele que subiu ontem ao relvado... do meio-campo para a frente. A defesa, essa sim, não tem nada a ver: passámos de um quarteto Vieirinha / Pepe / Ricardo Carvalho / Eliseu para Cédric / Pepe / Fonte / Raphael Guerreiro.

Mas não é justo colocar a diferença de resultado entre um e outro jogo apenas no quarteto defensivo utilizado. Em junho, via-se que toda a equipa estava numa pilha de nervos após os dois impensáveis empates com que abrimos o Europeu. Numa pilha de nervos também estaria - embora não o demonstrasse nas conferências de imprensa - o selecionador, que teimava em não atribuir convictamente a titularidade a vários jogador que a pediam de caras: William, Adrien, João Mário, Fonte, Cédric, Raphael Guerreiro e Renato Sanches, sete jogadores que foram decisivos na fase a eliminar no Europeu, só ganharam realmente esse estatuto depois de tudo o resto ter falhado.

E apesar de a vitória de ontem ter sido clara, convém não esquecer que a Hungria continua a ser um adversário fraco, e que a seleção voltou a jogar pouco. Até ao golo de André Silva - que cruzamento fenomenal de Guerreiro! -, revelávamos as habituais dificuldades na criação de jogadas de ataque. Fernando Santos mostrou, mais uma vez, que é um treinador que só mexe no seu onze em casos de extrema necessidade. Não se entende, por exemplo, como não arranjou forma de encaixar Bernardo Silva no onze - um dos jogadores portugueses, se não o jogador português, a atravessar melhor momento de forma -, preferindo, por exemplo, insistir em André Gomes, que, mais uma vez, pouco acrescentou ao coletivo. Felizmente, a diferença de qualidade individual é enorme e o resultado confortável acabou por ser alcançado através de duas bombas do suspeito do costume, que atingiu ontem os 70 golos marcados ao serviço da seleção.

A partir daí, a equipa pareceu entrar em modo de gestão de esforço e o jogo ficou congelado até final. A caminhada para o mundial continua como estava: Portugal não tem margem para errar nos jogos que faltam. Só se qualificam diretamente os primeiros classificados dos nove grupos, e vão a um play-off os oito melhores segundos, o que significa que teremos de ganhar todos os jogos até final: incluindo a deslocação à Hungria (onde a Suiça já ganhou) em setembro e a decisiva receção aos helvéticos, na última jornada. A nosso favor temos o facto de nos bastar vencer os suiços por um golo - apesar de termos perdido em Basileia por 2-0 -, pois o principal fator de desempate é o goal-average no conjunto de todos os jogos.