quinta-feira, 11 de maio de 2017

A entrevista de Bas Dost à Gazzetta dello Sport

Excelente entrevista de Bas Dost ao suplemento Extratime do jornal italiano Gazzetta dello Sport, publicada esta semana. Vale a pena ler.


(via @captomente)

BAS DOST
Bota de Ouro
"Se não marcar sou o primeiro a criticar-me"

De um rapagão que calça 48 e tem 196 cm de altura espera-se que jogue basquetebol ou vólei. Mas não que seja um ágil e prolífico goleador. Melhor ainda, o melhor marcador da Europa a seguir a Messi. Sim, Bas Dost, 27 anos, de Deventer, 100 mil almas na margem do Rio Ijssel, onde estudou latim um jovem Erasmo de Roterdão, é a surpresa de '16-17, tendo até agora abanado as redes por 31 vezes na liga portuguesa com o Sporting, ficando apenas atrás de Messi na Bota de Ouro.

Podia imaginar no verão que iria lutar pela Bota de Ouro?

Não. No início vinha com a ideia de fazer bem mas não pensava que entraria sequer no top 10 da Bota de Ouro. Tive a sorte de marcar na estreia com o Moreirense, na 4ª jornada, e isso deu-me confiança. Mas depois fui marcando em quase todos os fins-de-semana (na realidade 18 em 29, ndr). Estar quase ao mesmo nível que Messi é incrível. Mas se não marcar sou o primeiro a criticar-me.

No passado teve uma época semelhante na Holanda: melhor marcador com 32 golos, em 2011-12.

Sim, e de facto acabou por me levar para o Wolfsburg na Bundesliga. Na Alemanha não tive qualquer problema, nem azares. Mas ao chegar a Lisboa queria mostrar o que sou capaz de fazer. E o técnico Jorge Jesus convenceu-me, porque me explicou que o Sporting iria jogar com dois extremos nas faixas e um trequartista atrás de mim, pelo que iria ter muitos cruzamentos e assistências. E depois disse-me que devia jogar sempre no interior da área, como ponta-de-lança puro, porque iria aproveitar melhor as minhas qualidades. E assim foi. Se agora marco tanto o "responsável" é ele, Jesus.

Foi por isto que em janeiro não foi para o Tianjin Quanjian de Fabio Cannavaro?

Eu e o clube recusámos a proposta de 40 milhões que fizeram por mim, uma loucura, o Sporting comprou-me no último ano por um quarto desse valor...

Está a pensar em tentar algum campeonato mais desafiante, após a experiência na Alemanha?

Bem, estive na Bundesliga durante 4 épocas, tive altos e baixos no Wolfsburg, marquei 16 golos em 2014-15 (21 na Bundesliga no ano civil de 2015, ndr), mas estava a precisar de outra época assim e de um técnico que acreditasse em mim. Jesus sabe como gosto de jogar e montou à minha volta uma equipa que me ajuda, e esta época devolveu-me a confiança. E não penso deixar o Sporting, quero vencer primeiro o título.

O Sporting não o consegue desde 2002.

Espero vencer no próximo ano. Estou certo que lutaremos para vencer. Se esta equipa não perder elementos no mercado estaremos próximos do nível de Benfica e Porto, mas este ano perdemos demasiados pontos contra clubes mais pequenos, como a derrota com o Rio Ave e os empates com Chaves, Tondela e Nacional.

Diferenças para os campeonatos onde jogou?

Em Portugal as equipas, especialmente as mais pequenas, defendem muito e bem, é difícil marcar, se ganharem apenas por 1-0 já é excelente. Na Bundesliga, por sua vez, são muitas as equipas que nos podem vencer em qualquer jogo, os jogos são mais abertos e disputados, há mais equilíbrio.

De que coisas gosta de Lisboa?

Uma cidade fantástica e um país belíssimo, o clima é sempre quente, tanto sol, venho de Deventer, chuvoso e frio, é um sonho. As pessoas são pacatas, sociáveis, relaxadas, e isso agrada-me muito. Talvez seja o motivo por que marco tanto, sinto-me muito bem e estou feliz.

Na sua juventude na Holanda quais eram os seus modelos?

Amava os grandes avançados, aqueles que marcavam muito. Há uma dezena de anos seguia a Serie A e em especial Hernan Crespo, Pippo Inzaghi, jogadores que, como eu, não tocavam muito na bola, mas tinham uma média de golos incrível. Eles estavam sempre no sítio certo no momento certo: one shot, one goal.

Mas quando era pequeno onde jogava?

Nas camadas jovens do Emmen, o meu primeiro clube, colocavam-me como avançado, mas eu não acreditava que fosse a melhor posição para mim, gostava de jogar mais atrás, ter a bola nos pés, criar assistências. Só depois me foquei em marcar golos. Quem me transformou em ponta-de-lança foi Gertjan Verbeek, hoje no Bochum, o meu treinador em 2009-10 no Heracles Almelo na Holanda (fez 15 golos na Eredivisie nessa época, ndr).

Em 2010 teve uma proposta do Ajax, por que não foi para lá?

Na altura estava nos sub-21, tive o OK do técnico de Amesterdão, mas no fim não houve acordo no preço, pelo que o Ajax desistiu de me contratar.

Em 2008, com 19 anos no Emmen, esteve para ir parar à Finlândia.

Sim, o treinador belga do Emmen, Tom Saintfiet, foi para o RoPS de Rovaniemi, mas eu não queria ir para lá e recusei.

Já por várias vezes marcou múltiplos golos num só jogo: um bis ao Bayern, um poker ao Leverkusen, 3 ao Emmen no derby, bem como 5 ao Excelsior, este ano 4 ao Tondela. Jogo preferido?

Aquele em que marquei 4 golos ao Leverkusen, foi especial. Porque foi fora de casa, vencíamos por 3-0 ao intervalo, eles recuperaram para 2-3, eu marquei o 4-2, depois outra recuperação do Bayer e empataram. Nos minutos de desconto fiz o 5-4. Um jogo irrepetível.

O melhor golo da época?

Creio que o mais útil para a equipa foi aquele que marquei ao Belenenses, fora de casa. Vínhamos de um período difícil (3 derrotas em 4 jogos) e nos descontos o Campbell fez-me uma assistência fantástica, e eu meti-a dentro. Estávamos perto do Natal, um presente perfeito para todos nós.

O Sporting estava escrito no seu destino: o seu primeiro golo na Europa (um bis) foi marcado aos leões pelo Wolfsburg em 19-02-2015.

Sim, mas na 2ª mão em Alvalade sofremos, 0-0, e tivemos sorte, recordo a grande atmosfera, o estádio cheio, um público quente. Mas gosto da maneira de pensar das pessoas daqui: se vencemos tudo é maravilhoso, se perdemos está tudo mal.

A propósito da Europa: final da Champions, quem vence?

Disse antes de começarem as meias-finais que o Real e a Juve são os favoritos. Para a final? Para mim ganha a Juve, é mais forte e merece vencer. Gosto muito de Higuain, mas o meu ídolo é Mandzukic. Cheguei ao Wolfsburg depois dele em 2012 e o Mario estava no Bayern e marcava muito; agora joga na esquerda numa posição nova, mas continua a fazer um trabalho fantástico.

Como o trabalho de Bas, pé número 48, o vice de Messi...