segunda-feira, 8 de maio de 2017

Facada nas costas

(via @ManuelReis)

Foi assim que Alvalade se apresentou para receber o penúltimo jogo da época. De uma época em que o número de desilusões foi muito superior às alegrias proporcionadas, sem qualquer objetivo por que lutar desde janeiro. Não há outro clube em Portugal capaz de registar uma assistência deste nível (os poucos lugares vazios que se podiam observar justificam-se com os detentores de Gamebox que não puderam ir ao jogo) nas mesmas condições.

Há cerca de um ano, com o terceiro lugar garantido, o Porto também realizou um jogo em casa às 11h45, contra o Boavista. O aspeto das bancadas era este:



O ambiente em Alvalade não podia ser melhor à partida para o jogo de ontem com o Belenenses. Muitos sportinguistas aproveitaram para levar as famílias que, num cenário mais descontraído, emprestaram à bancada um colorido e sonoridade diferentes do habitual. Era um final de manhã perfeito para a propagação do sportinguismo. Infelizmente, a equipa de futebol correspondeu a esta demonstração de amor ao clube com uma exibição inadmissível, desperdiçando-se assim uma onda positiva gerada a partir das bancadas que, bem aproveitada por quem estava no relvado, poderia ser transportada - mesmo que apenas parcialmente - para a época seguinte.

Não sei como explicar esta exibição, mas dispenso justificações que envolvam questões técnico-táticas ou a ausência de jogadores por lesão e castigo. Aquilo que aconteceu ontem não poderia ter sucedido, mesmo que o Sporting se apresentasse em campo com a equipa B.

Neste momento, estou mais inclinado para pensar que a origem do problema está na forma como os jogadores, habituados a viver numa redoma e a serem tratados como semideuses, não fazem um esforço para perceber aquilo que está em causa para os adeptos que os apoiam incansavelmente. Estou mais inclinado para pensar que a falta de futebol a que assistimos é uma consequência lógica dos inúmeros equívocos e teimosias de Jorge Jesus, incapaz de dar a mão à palmatória e explorar outro tipo de alternativas a partir do momento em que a época ficou perdida. Mas como a responsabilidade tem de partir sempre de cima, estou também inclinado para relembrar que os dirigentes, presidente incluído, têm de perceber que a determinação e paixão podem fazer muito pelo clube, mas só até certo ponto. Foi graças a eles que chegámos a um patamar em que já podemos exigir mais do que isso, mas é obrigatório que se reinventem e encontrem soluções que façam da estrutura (e não me refiro apenas ao futebol) algo que permita às respetivas equipas serem mais do que a soma das partes.

Foi uma facada nas costas. A mim, e às dezenas de milhares de pessoas que foram ontem ao estádio. Os três pontos são irrecuperáveis, mas acabam por ser o menos importante. Pior foi terem perdido a confiança de muitos sportinguistas como eu. Sinto que houve uma ligação que se quebrou com a falta de respeito que demonstraram este domingo.

Essa quebra de ligação não é irreversível, mas não é com pedidos de desculpas inúteis que a vão remendar. Só dependem de vós próprios para um dia a recuperarem, mas vão ter que transpirar e trabalhar muito e bem para o conseguirem.