terça-feira, 20 de junho de 2017

O Benfica e a reabertura do Apito Dourado: cuidado com o que desejam

Na passada sexta-feira, o Benfica anunciou, através do seu diretor de comunicação, que iria solicitar a reabertura do processo Apito Dourado. Enquanto sportinguista, não vejo qualquer inconveniente nesse desejo, apesar de me parecer - dentro dos meus parcos conhecimentos de direito - que se trata de uma intenção que não tem pernas para andar.

O Apito Dourado foi um dos maiores - se não o maior - escândalos da história do futebol português, e não teve um desfecho apropriado: uma tecnicalidade tornou inúteis as escutas, que eram as provas mais importantes do processo. A justiça desportiva acabou por ir por arrasto da justiça criminal, anulando a pena inicialmente determinada de perda de 6 pontos - absolutamente ridícula para a gravidade dos atos praticados pelo Porto.

No entanto, tenho visto vários portistas a alegar algo que também tem a sua razão de ser: Pinto da Costa, Valentim Loureiro, Pinto de Sousa não foram os únicos a aparecerem nas escutas. Também Vieira foi apanhado, em conversa com Valentim Loureiro, a escolher o árbitro para a meia-final da Taça de Portugal de 2003/04:


Luís Filipe Vieira deu o aval a João "pode ser" Ferreira, e o ex-árbitro da AF Porto foi mesmo nomeado. O Benfica venceria o Belenenses por 3-1, qualificando-se para a final, onde defrontaria o Porto.

O curioso é que, numa entrevista realizada na SIC alguns anos mais tarde, Vieira tomou a iniciativa de contar, pela primeira vez, a história da tal escuta em que se viu envolvido... mas enganou-se no jogo. Vieira meteu a pata na poça e fala de um outro caso, desconhecido até então do grande público, em que fez pressão para alterar uma nomeação:


Vieira ameaçou não comparecer ao jogo se o árbitro nomeado fosse Martins dos Santos. Um receio que se compreende, devido às óbvias ligações que o árbitro tinha com o Porto, mas a ameaça não deixa de ser uma pressão óbvia que acabou por surtir o efeito pretendido, pois o juíz escolhido para dirigir essa final da taça - presume-se que com a benção do agora primeiro-ministro - acabou por ser outro: Lucílio Baptista.


Lucílio Baptista, o tal que não tem nenhuma proximidade ao Benfica, segundo alguns comentadores encartados.


De qualquer forma, voltando ao princípio: será que o Benfica terá realmente interesse em que o processo Apito Dourado seja reaberto? Considerando que entre as meias-finais e a final não decorreram mais de dois meses, e que o presidente benfiquista disse que houve "mais do que um" telefonema, é bem possível que as escutas dessas conversas também existam.

Por mim, força nisso. Investigue-se tudo de novo, ou, na pior das hipóteses, que venha tudo cá para fora...