sábado, 9 de setembro de 2017

Viciados no sofrimento

Começa a ser um hábito nos jogos desta Liga: em cinco jornadas, foi a terceira ocasião em que os adeptos sportinguistas correram sérios riscos de falecerem de paragens cardiovasculares graças às incidências dos últimos minutos. "Nada de inédito", poderão dizer - e com razão -, pois já aconteceu no passado o Sporting disputou, num curto espaço de tempo, várias partidas a serem decididas nos últimos minutos. A grande novidade é que, nestas três ocasiões, a estrelinha acabou por cair sempre para o lado do Sporting. 

Sim, são imensamente saborosas estas vitórias - a intensidade com que se passa do sofrimento para a euforia numa fração de segundo -, mas é uma experiência que convém não repetir demasiadas vezes, porque há-de chegar o dia em que a coisa não correrá tão bem.

Foto: Catarina Morais / Kapta +



Vitória arrancada a ferros numa deslocação muito complicada - ganhar assim sabe sempre bem, independentemente do local ou adversário, mas há que sublinhar a dificuldade desta deslocação: nenhum dos nossos rivais passará com facilidade em Vila da Feira, onde os espera um terreno de jogo estreito e com um relvado em más condições - nem imagino como será no inverno -, e um adversário que sabe ocupar bem os espaços e disputa todas as bolas com muita agressividade. Um desfecho importantíssimo, não só pelo facto de permitir que o Sporting continue a sua caminhada 100% vitoriosa, mas também porque poderia ser complicado gerir psicologicamente um empate consentido após estarmos a vencer por 2-0.

Foto: Catarina Morais / Kapta +
A segunda parte - o Sporting chegou ao intervalo sem ter conseguido criar uma única ocasião de golo e com alguma felicidade por não estar a perder, mas o rendimento na segunda parte foi incomparavelmente superior. A equipa entrou forte e não tardou a criar oportunidades de perigo, dominando o adversário e encostando-o à sua área, acabando por marcar numa altura em que já se adivinhava que era apenas uma questão de tempo até às redes balouçarem. Infelizmente, à semelhança do que aconteceu com o Estoril, permitimos que o adversário renascesse numa altura em que tínhamos o jogo na mão - uma bola parada e um contra-ataque após perda infantil de bola de Jonathan no nosso meio-campo foram suficientes para anular uma vantagem confortável. O jogo acabaria por se decidir num último minuto de descontos absolutamente louco: começou com um contra-ataque perigoso do Feirense resolvido por Iuri Medeiros, Rui Patrício sai da área junto à linha de fundo para evitar canto e passa a bola a William que, sem perder tempo, mete a bola na entrada da área onde Dost amorteceu para a entrada de Coates... e penálti. Dost, com enorme frieza, apontou-o e garantiu os três pontos para o Sporting. Uma grande segunda parte que ambas as equipas proporcionaram, em que é justo salientar o devido mérito do Feirense na forma como reentrou no jogo e pela coragem em tentar ainda chegar à vitória.

Destaques individuais - não houve nenhuma exibição de encher o olho, mas alguns jogadores merecem destaque: Coates, o melhor da linha defensiva - Mathieu e Jonathan cometeram erros graves -, marcou o primeiro golo e sofreu o penálti no terceiro; Bruno Fernandes, em dia de aniversário, assinou mais um bonito golo, marcou o canto do primeiro golo, e dispôs de duas das oportunidades mais perigosas do Sporting; William fez um bom jogo no regresso à titularidade; Battaglia desenrascou muito bem o lugar de defesa direito.



Incapacidade em segurar vantagens - Steaua, Estoril e, agora, Feirense: três ocasiões em que o Sporting, estando em vantagem no marcador, não teve capacidade para a gerir. Na Roménia, assim que a equipa congelou o ritmo de jogo, sofreu o golo do empate. Contra o Estoril, depois de uma entrada fortíssima acabámos o jogo em angústia. E ontem, com dois golos de rajada, seria de esperar que o Sporting tivesse resolvido o jogo... mas acabaria por sofrer apenas cinco minutos depois. Será que é apenas fruto do acaso - incidências de jogo impossíveis de controlar - ou é algo que não está a ser devidamente trabalhado? Considerando a quantidade de vezes que perdemos o controlo de jogos que pareciam estar no bolso, estou mais inclinado para a segunda hipótese.

A primeira parte - o Sporting revelou grandes dificuldades para chegar à baliza de Caio durante os primeiros 45 minutos. A lesão de Piccini certamente que complicou as coisas, pois o meio-campo sofreu uma revolução com a substituição: Battaglia foi para lateral direito, Bruno Fernandes baixou para 8, e Alan Ruiz, que entrou para o lugar do italiano, esteve em final de tarde pouco inspirado. Ainda assim, não justifica tão fraca produção na primeira parte. Para ser pior, só faltou ao Feirense aproveitar a ocasião que Mathieu lhes ofereceu de mão beijada. 



MVP: Sebastian Coates

Nota artística (1 a 5): 3

Arbitragem: Artur Soares Dias esteve bem ao assinalar penálti sobre Coates e no tempo de descontos concedido. Não teve, no entanto, um critério disciplinar uniforme, tendo ficado vários amarelos para mostrar a jogadores de ambas as equipas. Logo no princípio do jogo, num lance de bola parada junto à área do Feirense, assinalou uma falta ofensiva de William... mas na repetição deu-me a sensação de que William é que estava a ser agarrado insistentemente pelo adversário, pelo que me parece que ficou penálti por assinalar. 



Vitória fundamental, não tanto pelos pontos em si - ainda há muito campeonato pela frente -, mas mais pelo impacto psicológico negativo que poderia ter o desperdício de uma vantagem de dois golos a anteceder a estreia na Liga dos Campeões.