sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Em que país vivem estes cavalheiros?



Primeiro Fernando Gomes, agora Rui Vitória. É triste ver duas das principais figuras do futebol português a fazerem de conta que algo de muito grave não aconteceu já. Há apenas seis meses, um adepto morreu em confrontos com adeptos de outro clube. E se não morreram mais, não foi por falta de tentativa do assassino. A morte deu-se em vésperas de um dérbi, e as reações de algumas das partes envolvidas não poderiam ter sido mais infelizes: enquanto o Benfica tentava colocar o ónus nos adeptos sportinguistas - como se estarem num determinado local a determinada hora servisse de justificação para outra pessoa decidir tirar a vida a alguém -, a FPF fez aquilo que costuma fazer melhor, ou seja, fingir-se de morta. O jogo manteve-se marcado, e a claque responsável pela morte teve oportunidade de gozar ainda mais o prato durante o minuto de silêncio à vítima.

No último fim-de-semana, adeptos do mesmo clube - ainda não percebi se eram ou não organizados - causaram distúrbios nas imediações do estádio do Aves. Há dois meses, em Vila do Conde, adeptos do Rio Ave foram agredidos por adeptos benfiquistas. Na época passada, uma claque do Porto fez uma visita de cortesia ao centro de estágios dos árbitros - e consta que não terá sido para lhes cantarem as janeiras. Há dois anos, em Alvalade, as claques do Benfica atiraram petardos para uma bancada repleta de adeptos sportinguistas, e só por milagre não houve feridos. Há cerca de três anos, dois adeptos do Sporting foram esfaqueados em Guimarães. Há cerca de seis anos, adeptos do Sporting incendiaram uma bancada do Estádio da Luz. Há mais tempo ainda, Pedro Proença foi agredido por adeptos benfiquistas. Como tal, é favor não fazerem de conta que isto se trata de um fenómeno novo, e, já agora, é favor não fazerem de conta que tomaram medidas para evitar que essas situações se repetissem no futuro. E, claro, não esquecendo o assassinato de Rui Mendes no Jamor. Quantos estádios foram interditados por causa destes acontecimentos? Pois...

Não cabe à FPF garantir a segurança pública, mas devia, dentro dos seus limites de atuação, penalizar os clubes cujos adeptos protagonizam episódios de violência. Garantidamente, se os clubes começarem a jogar à porta fechada por causa de atos violentos dos seus adeptos, farão um esforço efetivo para controlá-los bastante melhor. A FPF devia também fazer pressão para que o IPDJ faça cumprir a lei no que diz respeito às claques ilegais - que, não surpreendentemente, são as que mais problemas causam. Fernando Gomes só terá moral para dar sermões sobre violência quando começar efetivamente a fazer algo para punir os responsáveis pelo que tem acontecido.