domingo, 28 de janeiro de 2018

Vontade, capacidade, VAR e sangue frio

Não foi uma final fácil de ver. A forma como entrámos em jogo, a sofrer cedo e a ser dominados por um adversário teoricamente inferior, fez-me reviver durante cerca de 80 minutos a final da Taça que perdemos com a Académica em 2011/12. Não é fácil esquecer o impacto profundo que essa derrota teve, funcionando como uma espécie de preâmbulo daquela que viria a ser um dos momentos mais negros da história do clube.

A primeira parte foi terrível, inadmissível, mas felizmente a equipa regressou para a segunda parte com consciência daquilo que estava em jogo. Houve vontade, capacidade, VAR e sangue frio nos penáltis para evitar o descalabro e erguer aquele que se espera que seja o primeiro troféu de vários a levantar esta época.



A importância de ganhar títulos - a Taça da Liga é a quarta competição do calendário nacional e deve ser encarada como tal. O Sporting geriu-a bem na fase de grupos - rodando completamente a equipa nas duas primeiras jornadas e aproveitando a 3ª jornada para dar competição a titulares numa altura de pausa de Natal / fim de ano -, e uma vez na final four, fez tudo para a ganhar. E ganhar era importante, por vários motivos: para todos os efeitos é um título conquistado, que interrompe um jejum de cerca de dois anos e meio; e pode moralizar a equipa para o que resta da temporada, da mesma forma que um eventual fracasso poderia ter um impacto psicológico negativo para o resto da temporada.

A importância do VAR - é tão simples quanto isto: sem VAR, é muito provável que não teríamos conseguido ganhar o troféu: Rui Costa teria transformado o penálti em pontapé de canto caso não pudesse ter consultado as imagens. É precisamente por causa disto que houve resistência de tantos à sua implementação.

A atitude na segunda parte - desde o momento em que o árbitro deu ordem de reinicío da partida após o intervalo, o Sporting foi para cima do adversário e encostou-o às cordas. Nem sempre de forma totalmente esclarecida, mas com velocidade, agressividade e sentimento (natural) de urgência em chegar à baliza de Trigueira. Tudo aquilo que não houve na primeira parte.

Nervos de aço - no momento das decisões, todos os jogadores chamados a bater os penáltis mantiveram o sangue frio e converteram-nos de forma irrepreensível. Uma palavra de apreço em particular para Coates e William, que, depois de terem falhado contra o Porto, desta vez, não perdoaram. Fico contente em particular por William, que nunca se esconde nestes momentos, e merecia a alegria que teve.

A primeira parte do V. Setúbal - excelente exibição da equipa de José Couceiro, que conseguiu anular por completo a construção de jogo do Sporting e dispôs de várias excelentes ocasiões para marcar.



Karma -  não é todos os dias que um erro de arbitragem contra uma equipa acaba por ter um impacto tão determinante no desfecho de um jogo a favor da equipa prejudicada. No lance do penálti, Podstawski devia ter visto o cartão vermelho, mas Rui Costa, incompreensivelmente, mostrou-lhe apenas um cartão amarelo. Em vez de o Sporting jogar o último quarto de hora em vantagem numérica, o jovem médio pôde continuar em campo... mas acabaria por ter a infelicidade de ser o único jogador a falhar no desempate por penáltis.

A exibição da primeira parte - é inadmissível em qualquer jogo do campeonato, ainda mais inadmissível numa final, ver o Sporting a jogar de forma tão incapaz e displicente. Incapaz na construção, não arranjando forma de assentar jogo no meio-campo do Setúbal, e displicente em demasiados momentos que o adversário aproveitou para criar boas ocasiões de golo - e marcando, inclusivamente, num desses momentos. As alterações que Jesus fez no onze não servem de atenuante. Independentemente de quem seja titular, os jogos são para começar a ser ganhos desde o início. Fosse para o campeonato, e estaríamos mais uma vez a lamentar dois pontos perdidos. Que sirva de (mais um) aviso para os jogos que se seguem.



Até ontem, estávamos envolvidos em quatro competições. A partir de agora sobram três, mas com um troféu já assegurado para o museu. Festeje-se durante a noite, descanse-se no domingo, e volte-se ao trabalho na segunda, que na quarta há um jogo ainda mais importante para ganhar.