terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Martins vs Martins


Primeira parte. Rui Patrício pontapeia uma bola para o meio campo. Um jogador do Moreirense salta com Doumbia e amortece-a de cabeça, colocando-a, no entanto, ao alcance de Gelson, que se antecipa a Rúben Lima e passa por ele em velocidade. É derrubado em falta, que corta um lance em que o Sporting ficaria numa situação de 2x1. Jogada de grande perigo cortada de forma dura. O que faz Tiago Martins? Avisa o jogador Rúben Lima que para a próxima leva amarelo. Compare-se isto com o que aconteceu nos lances dos dois amarelos mostrados a Petrovic: uma falta na primeira parte em que derruba um adversário com a coxa no meio-campo do Moreirense, sem que houvesse qualquer perigo ou jogada comprometedora - amarelo forçadíssimo - e uma intervenção sem falta que lhe valeu o segundo amarelo. Pior: mesmo que tivesse havido falta, não era motivo para ver amarelo, pelo que a decisão é duplamente escandalosa.

Semana após semana, vamos assistindo situações em que os rivais vão tendo jogadores sistematicamente poupados de cartões mais que óbvios. Ainda em Paços de Ferreira, viu-se Rúben Dias a ter, com a bola parada, várias ações passíveis da amostragem de cartão, escapando a todas elas de forma olímpica. No Sporting, não há abébias. Tem valido de tudo, incluindo contornar as regras para nos anularem golos limpos. Estando o jogo em aberto, a ordem é para amarelar e expulsar, como já se tinha visto na semana passada com Mathieu. Ontem, estivemos mais meia-hora a jogar em inferioridade numérica e com a obrigação de correr atrás do golo, e, mais uma vez, a vitória a surgir no último suspiro, desta vez pelos pés de Gelson Martins. O outro Martins (Tiago) e o seu quarto árbitro não mereciam tamanha desfeita.




Estrelinha - mais uma vitória a surgir nos descontos através de um golo marcado com um ressalto, em desvantagem numérica, após uma segunda parte exibicionalmente paupérrima, que nos permite ir ao Dragão a depender apenas de nós próprios para reentrarmos na discussão pelo primeiro lugar. Ainda assim, convém relembrar que o Sporting fez o suficiente para ganhar o jogo na primeira parte, com três oportunidades de golo flagrantíssimas desperdiçadas por André Pinto, Bryan Ruiz e Bruno Fernandes.

Leão decisivo - não entrou bem, mas teve uma participação decisiva no segundo golo: recuperação de bola em carrinho, levantando-se e arrancando em direção à área adversária com um drible e aguentando duas cargas de adversários antes de fazer a assistência para Gelson Martins.

Não esquecer São Patrício - é fácil esquecer depois de todas as incidências, mas Rui Patrício fez (mais) uma defesa monumental que manteve o resultado a zeros. Grande época.



A arbitragem - para além da expulsão de Petrovic, para além da dualidade de critérios, para além de uma quantidade considerável de faltas que deixou por assinalar, Tiago Martins ainda conseguiu a proeza de dar apenas 4 minutos de compensação num jogo que teve muitas paragens. Uma prestação inenarrável que esteve muito perto de ter influência no resultado. De positivo, apenas a decisão de anular (bem) o golo do Moreirense, após controlo de bola com o braço por parte de Bilel.  

Qualidade exibicional - mesmo na primeira parte, em que dispusemos de boas oportunidades, para marcar, não se pode dizer que a exibição tenha sido positiva - fio de jogo inexistente e incapacidade para dominar efetivamente a partida, prevalecendo quase sempre o esforço sobre a organização. A segunda parte foi para esquecer, principalmente a partir do momento em que ficámos a jogar com dez. Montero mais uma vez inexistiu, Doumbia foi a imagem da equipa, conseguindo desequilibrar somente em esforço, Bryan Ruiz passou ao lado do jogo (com exceção de uma brilhante assistência para Bryan Ruiz). Com tanta desinspiração na frente, fica muito mais complicado ganhar jogos.

A expulsão de Gelson - compreendo que apenas queria dar força a um grande amigo que passa por um momento muito complicado na sua vida, mas... havia tantas outras formas de o fazer... Atitude irresponsável que nos impede de nos apresentemos na máxima força no Dragão, que será um jogo absolutamente decisivo. De qualquer forma, não merece que coloquem em causa o seu profissionalismo: Gelson Martins tem feito uma época a jogar sempre no limite, sem nunca se poupar ou fugir ao choque - basta lembrar que viu o primeiro amarelo por ter feito de pronto-socorro defensivo no flanco oposto ao seu...



Condicionantes sem fim - há motivos para ficarmos preocupados com as dificuldades recentes em ganhar jogos? Sim, com certeza, são demasiados jogos consecutivos a não conseguirmos assegurar a vitória a tempo e horas. No entanto, convém haver consciência das condicionantes que este grupo de trabalho tem enfrentado: sobrecarga de jogos (10 partidas nos últimos 33 dias); lesões de jogadores importantes (Dost e Gelson); arbitragens constantemente desfavoráveis (que têm ido do simples inclinar de campo até a roubos de igreja - Europa incluído); e, no caso do jogo de ontem, uma síndrome gripal que atacou vários jogadores do plantel, fazendo com que apenas quatro dos habituais titulares (Patrício, Coates, Bruno Fernandes e Gelson) tenham jogado na sua posição normal. É preocupante que o banco tarde a dar a resposta necessária em determinados lugares-chave, mas ontem não havia mesmo condições para a equipa se apresentar com um rendimento próximo do desejável. 

Nota artística: 2

MVP: Gelson Martins



Não consegui festejar a vitória, tal era a revolta por mais uma arbitragem degradante e a preocupação por uma exibição fraquíssima. Mas no final, o que conta, são mesmo os pontos conquistados. Que, neste caso, foram três, e nos mantêm na luta. Veremos durante quanto tempo.