quarta-feira, 28 de março de 2018

A extinção da equipa B

Ainda não percebi até que ponto a decisão está tomada, mas, ao que tudo indica, o Sporting prepara-se para extinguir a sua equipa B para abraçar a nova competição sub-23 promovida pela FPF. As dúvidas colocadas por Bruno de Carvalho quanto à continuidade do projeto de equipa B do Sporting já são antigas – começaram, pelo menos publicamente, na altura em que os restantes clubes da II Liga tentaram impor uma taxa de inscrição de meio milhão de euros para ser distribuída entre si - e têm-se adensado desde a última reunião de clubes na Liga.

No entanto, não me parece que esta decisão do Sporting seja motivada por questões financeiras. Seria bom que o presidente viesse esclarecer qual a posição do clube em relação a este assunto.

Não estando completamente por dentro das razões que levam o Sporting a considerar a substituição da equipa B por uma equipa sub-23, tal decisão parece-me bastante discutível. A II Liga é uma boa antecâmara de lançamento de jogadores jovens, pois, num ambiente bastante controlado, permite-lhes tomar contacto com uma realidade competitiva que replica algumas das dificuldades que poderão sentir quando chegarem à equipa principal do Sporting.

A transição das camadas de formação para o futebol sénior é um desafio exigente para qualquer jogador. E um dos motivos principais que levam a que exista essa dificuldade é a falta de competitividade nas camadas jovens. O nível de dificuldade das primeiras fases dos vários escalões é muito baixo, e só nas fases finais é que os jogadores têm a oportunidade de ter um calendário preenchido com jogos realmente competitivos. Dependendo do escalão, falamos de um, dois ou três meses de competição a sério no espaço de nove meses. Ou seja, seis, sete ou oito meses são um passeio. E é esse o meu receio em relação à competição sub-23: quantas equipas realmente competitivas existirão? Será um ambiente competitivo mais propício à evolução dos nossos jogadores do que a equipa B? Tenho muitas dúvidas.

Para além das diferenças entre ambas as competições, existe depois uma outra questão importante: apesar de, nos últimos anos, ter havido vários jogadores que passaram pela equipa B e que se conseguiram afirmar na equipa principal (Gelson, Podence e Rafael Leão) e outros com boas hipóteses de o conseguirem a curto/médio prazo (Matheus Pereira, Domingos Duarte e Francisco Geraldes), isso pareceu ser fruto mais do talento dos próprios jogadores do que do trabalho desenvolvido na equipa B. Porque, infelizmente, o nível médio exibicional da equipa B nos últimos anos tem sido uma desilusão, traduzindo-se em duas épocas consecutivas a lutar pela manutenção, quando existem outras equipas B a fazer percursos bastante mais confortáveis (Porto B, Guimarães B e Benfica B). 

Isso, a meu ver, é um indicador de que existe algo que não está a ser bem feito. A qualidade global das últimas fornadas pode justificar parte do insucesso (falo de uma forma genérica, já que todas elas incluem jogadores que poderão chegar longe), mas as contratações feitas também têm tido um aproveitamento muito fraco. Dos jogadores contratados, quantos poderão chegar um dia à equipa principal? Talvez Gelson Dala, Demiral, eventualmente um ou outro jogador que entretanto se consiga destacar.

Não sei quais serão os principais motivos que conduziram a este rendimento tão inconsistente – falta de competência no scouting? capacidade de investimento insuficiente? liderança da academia? -, mas o mais provável é que, não havendo uma reflexão séria e a tomada de medidas corretivas, os problemas existentes na equipa B transitarão para a nova equipa sub-23. Ou seja, continuaremos a ter as mesmas limitações na potenciação do talento desses jogadores para que cumpram aquele que deveria ser o objetivo nº 1 de um escalão de transição no futebol sénior: alimentar a equipa principal.