sexta-feira, 2 de março de 2018

Antevisão de uma derrota anunciada



OK, já percebemos. Esta noite vamos ao Dragão com o simples objetivo de perder por poucos. A opinião dos especialistas e dos não especialistas parece ser unânime: o Porto é muito mais forte, muito mais equipa, está a praticar um futebol muito superior ao do Sporting, arrasando tudo e todos que aparecem no seu caminho, e estará a jogar na sua casa. O Sporting, por sua vez, tem-se arrastado pelos relvados, naturais ou sintéticos, tapetes de luxo ou batatais, vendo-se grego para superar adversários de fundo da tabela, e, para piorar, desloca-se ao Porto sem as suas duas principais armas ofensivas.

Não sei até que ponto não seria melhor optar pela falta de comparência. Perante a diferença de nível entre as duas equipas, perder administrativamente por 3-0 não parece ser uma perspetiva muito má, e tem o bónus adicional de não nos sujeitarmos a novas lesões. Havendo ou não jogo, o que é certo é que a oficialização do afastamento do Sporting da luta pelo título será festejada por esse país fora. Não fosse o dia seguinte um sábado, e o IPDJ até poderia propor ao Governo que se declarasse o dia 3 de março como feriado nacional para que as celebrações pudessem decorrer pela noite dentro, nas imediações do estádio, nas ruas de norte a sul do país, nas redações dos jornais e nos estúdios de televisão.

Mesmo para alguns sportinguistas haverá motivos de regozijo: a oposição a Bruno de Carvalho poderá voltar a ter assunto que lhe interessa, após uma AG e resultados financeiros semestrais pouco interessantes; os haters de Jesus poderão cobrar finalmente - ao oitavo mês da época e após a conquista de um título - o afastamento de um dos objetivos do clube; os adeptos mais impacientes, aqueles que acharam normal assobiar Rafael Leão no seu 2º jogo pela equipa principal em Alvalade, sentir-se-ão duplamente legitimados para insultar e rebaixar os nossos jogadores - os mesmos que têm lutado invariavelmente até ao último minuto, em circunstâncias adversas causadas por arbitragens inqualificáveis, de cada jogo para alcançarem as vitórias que tanto desejamos. Poderão continuar a utilizá-los como saco de pancada para aliviar a frustração de não ganharmos um campeonato há quase 16 anos, apesar de nenhum deles ser responsável por esse longo período de seca.


Claro que pode haver quem, apesar de tudo, ainda tente lutar contra esta fatalidade. O apoio dos sportinguistas nos jogos fora tem sido incansável e incondicional, e amanhã voltarão a fazê-lo ruidosamente. Mesmo com as baixas no plantel, subirão ao relvado onze jogadores que teimarão em tentar trazer os três pontos para casa. É que se nós queremos ganhar sempre, eles também. Todos temos observado as reações de muitos dos nossos jogadores quando não conseguem o resultado pretendido: as lágrimas de Coentrão, a raiva de Bruno Fernandes e Acuña, a frustração à flor da pele de Mathieu - jogadores que, apesar de terem chegado este ano ao Sporting, percebem perfeitamente o que a conquista de um campeonato significa para nós -, não são reações de quem convive bem com o fracasso e será capaz de dormir tranquilamente nessa noite. Mais logo, quererão ganhar tanto quanto nós, e se --- perdão, QUANDO não o conseguirem, não terá sido por falta de empenho e vontade.

A todos aqueles que já ditaram o desfecho de logo, peço-vos apenas que não levem a mal se o Sporting cometer o desrespeito supremo de entrar em campo com a ambição de ganhar o jogo. Escusam de se indignar, pois a derrota que anunciaram será castigo suficiente. Ninguém estará a tentar tirar-vos a razão, pois é evidente que ir ao Dragão para ganhar será um exercício da mais pura ingenuidade: se por acaso o Sporting tivesse uma equipa que já tivesse dado provas, esta época, de ser capaz de defrontar algumas das melhores equipas do mundo de olhos nos olhos, se por acaso fosse uma equipa que, esta época, já tivesse conquistado um título em confronto direto com o adversário de logo, então talvez houvesse motivos legítimos para ambicionar a vitória.