sábado, 3 de março de 2018

Finito

O Sporting ficou ontem afastado pela luta pelo primeiro lugar no campeonato após a derrota no Dragão. No entanto, não foi por causa da derrota no Dragão que ficámos afastados da luta pelo primeiro lugar. Colocámo-nos a jeito para sermos afastados ontem quando perdemos na Amoreira e quando empatámos em Setúbal e em Moreira de Cónegos. O futebol português atual é assim: não se podem perder pontos contra adversários da segunda metade da tabela. Ou melhor, o Sporting não pode perder pontos contra adversários da segunda metade da tabela porque não tem a mesma folga para errar que os rivais. Os motivos que me levam a escrever esta última frase são diversos, mas não é este o momento para os detalhar.

O Sporting fez ontem o seu melhor jogo da época contra os rivais, e não merecia ter saído derrotado do Dragão. Não só não foi inferior ao Porto, como teve a agravante de, mais uma vez, ter de jogar num campo inclinado: fez metade das faltas do Porto e acabou com os mesmos amarelos; Doumbia foi travado em falta na área, Soares Dias viu a repetição, mas aparentemente acha normal que um defesa trave um avançado com a canela sem tocar na bola; e o árbitro pareceu ainda ter pressa em acabar o jogo, dando apenas cinco minutos de descontos que se consumiram maioritariamente com interrupções. Caricato, também, o facto de ter havido um elemento do INEM a fazer teatro para tentar que Coentrão fosse expulso. Desde que um apanha-bolas enfiou a bola na baliza em dia de nevoeiro - curiosamente, também num Porto - Sporting - que não se via coisa semelhante.

Quanto ao jogo jogado, as duas equipas dividiram os períodos de domínio entre si. Obviamente que o Sporting esteve mais tempo por cima na segunda parte, já que tinha de procurar o empate. Jesus mexeu bem na equipa. Leão não podia ter entrado de melhor forma, e Rúben Ribeiro teve o seu melhor jogo desde que foi contratado. Inversamente, Sérgio Conceição mexeu mal na equipa: apostou demasiadas fichas para explorar o contra-ataque e desguarneceu o meio-campo, entregando-o ao Sporting e permitindo um domínio territorial que foi mais ameaçador do que esperaria. Da mesma forma que a lesão de Doumbia foi um mal que veio por bem - no sentido estrito de ter levado à entrada de Rafael Leão, que teve um rendimento bastante superior -, também a lesão de Marega permitiu a Conceição reequilibrar o meio-campo com a entrada de Reyes. Ainda assim, acabaria por ser a falta de eficácia na finalização do Sporting a ditar o desfecho de ontem.

Para além dos já referidos Rúben Ribeiro e Rafael Leão, é justo também destacar pela positiva as exibições de Bruno Fernandes, Bryan Ruiz e William Carvalho. Acuña, Coentrão, Battaglia e Doumbia estiveram abaixo das exigências, e Ristovski devia ter feito bem melhor no segundo golo do Porto.

Pouca eficácia concretizadora e momentos fatais de desconcentração defensiva. Foi principalmente por isto que perdemos três pontos ontem e desperdiçámos outros preciosos pontos em ocasiões anteriores, o que demonstra que falta muito de italiano a este Sporting para que essa seja uma abordagem com boas hipóteses de sucesso num campeonato como o português. A maior parte das equipas que defrontamos agradecem um futebol menos intenso, a tranquilidade da equipa em trabalho defensivo em momentos de maior pressão deixa bastante a desejar, e também não temos suficientes finalizadores de qualidade para garantir que um par de oportunidades flagrantes chega para ganhar um jogo. De italiano, na realidade, só isto: o campeonato è finito.