sexta-feira, 9 de março de 2018

Pragmatismo com pinceladas de génio

Não foi propriamente bonito, mas foi eficaz. O Sporting adiantou-se de forma segura na eliminatória jogando pouco mais do que o estritamente necessário para se impor a um adversário que pareceu ser muito inferior. Partida gerida em velocidade de cruzeiro do princípio ao fim, alternando com alguns esticões que chegavam para desmanchar a defesa adversária. Foi o suficiente para criar três ou quatro excelentes oportunidades para marcar em cada parte. E a verdade é que, apesar dessa abordagem mais pragmática, o jogo acabou por valer bastante a pena por causa das pinceladas de génio que acabaram por ditar a diferença final no marcador.




As pinceladas de génio nos golos - ambos os golos de Montero tiveram pormenores sublimes. No primeiro, toda a jogada é lindíssima, desde a recuperação de bola de Coentrão, o passe em balão de Ruiz, a assistência acrobática de Coentrão (que entretanto se armou em extremo) e a finalização de pura frieza e classe de Montero. No segundo, magnífica a forma como Montero domina a bola após um passe ligeiramente curto de Bruno Fernandes, e depois como a esconde do marcador direto para a enfiar com o pé esquerdo pela nesga de baliza que tinha à disposição. Só por si, valeram o preço do bilhete.




O bom Montero - teve três boas ocasiões para marcar. Na primeira, rematou de posição central à entrada da área à figura do guarda-redes. Nas outras duas, soube colocar a bola de forma perfeita. Ontem tivemos o bom Montero, o matador de classe. Espero agora que contrarie, em Chaves, a minha teoria de que, para cada jogo bom, tem dois ou três em que desaparece.

O resultado - perfeitamente justo, mas mais importante do que ser justo é que permite encarar a segunda mão com tranquilidade. Não está garantida a passagem, obviamente, mas os quartos-de-final estão muito bem encaminhados.

Posso fumar o que vocês estão a fumar? - Coentrão e Mathieu, os fumadores da equipa, aqueles jogadores que temíamos, no início da época, que já não tivessem pedalada para uma época exigente, foram, em determinadas alturas de maior apatia, quem tentou empurrar a equipa para a frente, fosse pegando na bola e conduzindo-a à revelia do ritmo dos restantes companheiros, fosse nos sprints para pressionar o guarda-redes adversário quando este tinha a bola, fosse a aparecer em zona de finalização num contra-ataque rápido. Gostava que contagiassem esta mentalidade competitiva a vários outros elementos do plantel.



Velocidade de cruzeiro, mas não exageremos - percebo que houvesse, entre a equipa, uma consciencialização de que era um jogo de 180 minutos e que estávamos ainda na primeira metade, mas não era preciso exagerar na gestão do ritmo. O Sporting foi sempre superior, mas, fosse por falta de pernas, por falta de vontade, ou por estratégia, criou oportunidades de forma demasiado esporádica. Notava-se que, quando a equipa acelerava, colocava com facilidade a defesa adversária em apuros, mas nunca o fez de forma consistente. Felizmente que o primeiro golo surgiu na melhor altura possível, caso contrário adivinhavam-se uns segundos 45 minutos de nervos. Na segunda parte, depois do 2-0, foi-se gerindo o tempo com bola de forma competente, com exceção de cerca de cinco minutos em que a equipa pareceu deixar-se adormecer - e nos quais o Plzen dispôs das suas duas únicas verdadeiras oportunidades para marcar. Podia ter corrido pior.



Mesmo sabendo que os resultados europeus do Plzen nesta época sugerem uma equipa muito mais confortável a jogar em casa do que fora, o fosso de qualidade entre as duas equipas é por demais evidente. Não acredito que o Sporting não marque pelo menos um golo na segunda mão. Se isso se concretizar, o Plzen terá de marcar quatro golos para nos eliminar, o que me parece muito difícil de acontecer. Encarando o jogo de forma séria - e se não existirem azares de maior -, estaremos certamente nos quartos-de-final da Liga Europa.