segunda-feira, 12 de março de 2018

Vieira contra-ataca

No último sábado, após o final do Benfica - Aves, Luís Filipe Vieira dirigiu-se à sala de imprensa do Estádio da Luz para fazer as suas primeiras declarações sobre os casos judiciais que envolvem o seu clube. Uma declaração que, por um lado, pecava por tardia, mas que, por outro, seria sempre completamente inútil, pois sabia-se à partida que de nada serviria para alterar a perceção dos adeptos que acompanham toda esta situação. A partir do momento em que Vieira e a administração do Benfica afirmaram manter a confiança total em Paulo Gonçalves, quaisquer palavras que pudessem proferir sobre o assunto seriam escusadas.

A decisão da SAD em solidarizar-se com o seu assessor jurídico não foi minimamente surpreendente. As mesmas notícias que, a serem verdadeiras, não deixam qualquer margem de dúvida de que Paulo Gonçalves terá mesmo feito aquilo de que é suspeito - cópias de documentos em segredo de justiça encontrados nas buscas, fotografias que o colocam junto à toupeira numa zona VIP do Estádio da Luz, escutas que confirmam que o mesmo Paulo Gonçalves terá levado a toupeira até Vieira -, também levam a crer que, na melhor das hipóteses, é improvável que Vieira não tivesse conhecimento da natureza das ações de Paulo Gonçalves. Na pior das hipóteses, Vieira poderia não só ter conhecimento da natureza de tais atividades, como também as poderia ter instigado e as conheceria pormenorizadamente. 

Como tal, Vieira não disse nada de novo ou surpreendente no sábado - nem poderia ter dito. Só com muita boa vontade se pode catalogar as suas palavras como esclarecimentos. Nada foi esclarecido, porque não apresentou nenhum dado novo e, estando a falar em causa própria, bizarro seria se admitisse alguma conduta imprópria ou ilegal. Quem quer acreditar na sua inocência e na inocência de Paulo Gonçalves e da SAD, verá nestas palavras a resposta que se impunha. Quem não quer acreditar na sua inocência e na inocência de Paulo Gonçalves e da SAD, não ouviu nada que possa contrariar as suas suspeitas.

Pessoalmente, como acho que os indícios tornados públicos são demasiado concludentes, vi nestas palavras de Vieira uma mera manobra populista e demagógica. Andar a carpir mágoas por causa do estado do segredo de justiça e estar a exigir justiça sem clubite, quando um seu funcionário é suspeito de violar o segredo de justiça e quando é sabido que o seu clube tem por hábito fazer operações de charme à justiça através de uma série de cortesias que se aproveitam precisamente da clubite - como poderão observar nos documentos seguintes -, é um exercício de completa hipocrisia.

Documento Word publicado no blogue Mercado de Benfica, com uma lista de nomes e moradas de juízes (LINK)

Documento carta.juizes, publicado no blogue Mercado de Benfica,
com a minuta da carta enviada aos juízes com o convite para assistirem ao jogo
Benfica - Basileia no camarote presidencial do Estádio da Luz

Documento publicado no blogue Mercado de Benfica, com a lista dos 25 juízes para quem foram enviados convites; 23 aceitaram

Documento publicado no blogue Mercado de Benfica, com a lista dos juízes convidados para o Benfica - Sporting disputado em novembro de 2011

Vieira apelou também à união dos benfiquistas contra os inimigos externos - resta saber se considera a justiça como inimiga -, mandando mais uma série de sound bites à volta da obra feita, como o património construído, os títulos conquistados, o facto de ser o único clube que tem futuro (yeah, right...), e que nunca deixou de pagar aos seus profissionais (Talisca - LINK - e Bernardo Silva - LINK - riram-se).

Vieira defendeu-se ao seu estilo, e passou depois para o ataque, prometendo agir criminalmente contra todos aqueles que mancharem a marca do Benfica, sejam eles administradores (?), jornalistas ou marcas. Curioso que um arguido do processo Lex por corrupção a um juiz esteja tão preocupado com os danos provocados à marca por terceiros, quando ele próprio é, neste momento, o maior fator de ameaça à marca que diz querer defender.

Também aqui será curioso ver como reagirá a classe dos jornalistas e a ERC. Se Bruno de Carvalho foi alvo de críticas públicas imediatas por ter apelado a que não se consumisse determinado jornalismo - sem nunca apelar a algum tipo de condicionamento do trabalho da comunicação social -, o que farão agora que um outro presidente que está a ameaçar jornalistas com ações judiciais se fizerem aquele que é precisamente o seu trabalho?