quinta-feira, 19 de abril de 2018

No Jamor!

O Sporting garantiu a presença na final da Taça de Portugal numa partida particularmente complicada de descrever. Não foi um apuramento alcançado com brilhantismo, já que a exibição foi medíocre durante grande parte do jogo, mas, por outro lado, também não foi um apuramento injusto, considerando o que se passou a partir do momento que o Sporting passou a dominar as operações em campo. 

O Porto trouxe para Alvalade uma lição bem estudada e conseguiu, durante muito tempo, reduzir o jogo do Sporting a "joguinho". Felizmente, o Sporting soube (e bem) aproveitar os erros do adversário para, num esforço final, igualar a eliminatória e levá-la para um terreno onde se tem sentido muito confortável ao longo da época: o desempate por penáltis.




No Jamor! - depois da eliminação da Liga Europa e de se ter colocado numa situação em que a vitória no campeonato é pouco mais do que uma miragem, a vitória na Taça de Portugal é aquilo que separa uma época fracassada de uma época que poderá ser considerada positiva. Obviamente que nada está ganho e que o Aves é um adversário que deve ser respeitado - caso contrário sujeitamo-nos a uma surpresa muito desagradável -, mas não se pode relativizar a importância do apuramento que foi ontem conseguido contra um Porto moralizado pela posição privilegiada que ocupa para se sagrar campeão nacional e que partia para esta segunda mão da eliminatória em vantagem, e à distância de apenas um golo marcado para assegurar a presença na final. Mas no momento da decisão, os jogadores tiveram huevos, souberam aproveitar os erros dos adversários e fizeram aquilo que precisava de ser feito. Não foi um jogo bonito, mas ninguém se lembrará da qualidade da exibição quando, a 20 de maio, se der o pontapé de saída da final da Taça no Jamor.

O período em que o jogo virou - avaliando a estratégia que os dois treinadores montaram para a partida, não há quaisquer dúvidas de que Sérgio Conceição levou a melhor sobre Jorge Jesus: ao abdicar de um avançado para reforçar o miolo, conseguiu controlar quase por completo as tentativas de construção do Sporting, que só através de uma ou outra iniciativa individual de Gelson conseguiu abanar a organização portista. É verdade que isso levou também a que o Porto acabasse por criar pouquíssimas ocasiões de perigo, mas era algo com que podiam viver bem, pois o 0-0 era um resultado que lhes servia. Até que veio o período em que o jogo virou, a cerca de quinze minutos dos noventa, devido às substituições operadas pelos dois treinadores: não tanto pelo que Jesus fez - foi obrigado a meter Ristovski por causa da lesão de Piccini, que correu bem, pois a ala direita ganhou muito mais dinamismo, e lançou um Montero que pouco acrescentou no tempo regulamentar -, mas sobretudo pelas (más) alterações de Sérgio Conceição. Ao trocar Soares por Aboubakar perdeu por completo o ataque - o camaronês entrou muito mal e foi presa facílima para os centrais do Sporting - e ao tirar Octávio e Óliver perdeu o meio-campo. Pior, o facto de ter queimado as três substituições com o resultado em 0-0 acabou por lhe retirar margem de manobra para reagir a um eventual golo sofrido. O Sporting ficou por cima, fisicamente e psicologicamente, mesmo numa situação em que, teoricamente, tinha menos margem para errar do que o Porto. É claro que Sérgio Conceição (que para mim, ganhando o campeonato, será indiscutivelmente o treinador do ano) não podia prever o erro de Marcano, mas não devia ter queimado a terceira substituição e abdicar da hipótese de lançar Marega para explorar o contra-ataque. Com o desgaste acumulado, a velocidade do maliano seria uma arma muito difícil de conter. Ao Porto continuava a bastar conseguir um golo no prolongamento para resolver a eliminatória, mas as substituições retiraram por completo a capacidade de o procurar. 

Esforço e dedicação no prolongamento - por incrível que pareça, sabendo-se do desgaste acumulado pela disputa sucessiva de jogos de 3 em 3 ou de 4 em 4 dias, o Sporting conseguiu impor-se fisicamente ao Porto no prolongamento. Creio que a rede montada por Conceição e a pressão que os seus jogadores impuseram sobre o Sporting acabaram por ter consequências físicas que se começaram a notar a partir dos 70, 75 minutos de jogo - um pouco à semelhança do que já tinha acontecido no Sporting - Porto para o campeonato. De qualquer forma, isso não retira mérito aos nossos jogadores, pois não ficou gota de suor por transpirar nem reserva de energia por gastar. O esforço e a dedicação foram máximos e levaram-nos aos penáltis, onde a comprovada competência da equipa fez o resto.

3 em 3 - quando uma equipa vence três eliminatórias (duas na Taça da Liga e uma na Taça de Portugal) nos penáltis, não se pode falar em sorte. Rui Patrício desta vez não defendeu nenhuma bola, mas ao nível da marcação os jogadores chamados a bater estiveram irrepreensíveis. Lotaria, não. Isto é competência.



Jamor, aí vamos nós!