terça-feira, 17 de abril de 2018

"Queremos bons e fortes rivais"

No passado sábado, em visita a Alcácer do Sal, o estadista que lidera os nossos vizinhos da segunda circular fez mais um discurso banhado de descaramento e hipocrisia. No seu estilo habitual, Vieira referiu que quer rivais "bons e fortes", que valorizem as vitórias do Benfica:


A oportunidade destas palavras é uma pequena maravilha, considerando que estamos a falar do presidente que inventou os acordos de cavalheiros que afastam jogadores dos adversários das partidas com o seu clube, como todos nos lembramos das exclusões sucessivas de Miguel Rosa e Deyverson. Uma violação descarada dos regulamentos que continua a ser prática corrente nos jogos do Benfica, olhando para aquilo que tem acontecido nas últimas partidas do campeonato.

Comecemos pelo que se passou na 28ª jornada:


Hurtado

O Benfica recebeu o V. Guimarães em jogo a contar para a 28ª jornada. Os visitantes não utilizaram um dos seus habituais titulares: Paulo Hurtado. O motivo da ausência do peruano foi a suspensão de um jogo que lhe foi aplicada por ter visto o 5º amarelo na partida anterior, ao tirar a camisola ao festejar um golo.


Sendo uma exclusão completamente desnecessária, não deixa de ser uma situação que vai acontecendo nos relvados portugueses com alguma frequência. Podemos lembrar-nos, por exemplo, de uma atitude idêntica de Gelson Martins, que ficou de fora do jogo com o Porto quando retirou a camisola após marcar o golo da vitória contra o Moreirense. 

O que não é tão normal é que Hurtado tenha conseguido, desta forma, ver-se excluído de um jogo com o Benfica... pela segunda vez nesta época. É que já na primeira volta também ficou de fora contra o Benfica porque iria ter um jogo da seleção... seis dias depois.


O V. Guimarães recebeu o Benfica no dia 5 de novembro. Hurtado tinha um jogo no Perú contra a Nova Zelândia no dia 11. Sendo uma partida importante para o apuramento para o mundial, não era propriamente um intervalo de tempo proibitivo que o impedisse de estar presente nas duas partidas. Já vi jogadores a ficarem de fora por chegarem aos clubes em cima da hora após compromissos internacionais disputados dois ou três dias antes. Jogadores a ficarem de fora de um compromisso importante dos seus clubes porque daí a seis dias vão ter um compromisso internacional... já não me parece uma coisa normal.


Amaral

Considerado por muitos o mais importante jogador do V. Setúbal, João Amaral também ficou de fora da receção ao Benfica, referente à 29ª jornada. Neste caso não houve qualquer explicação oficial por parte dos vitorianos, mas as notícias que foram veiculadas revelam um esquema bastante rebuscado.


Sendo uma notícia CM, vale o que vale, mas é factual que João Amaral foi utilizado na 28ª jornada e na 30ª jornada. Na realidade, o jogo com o Benfica foi a primeira e única partida da época em que o jogador não foi utilizado.

A ser verdade que o jogador tem um vínculo com o Benfica, este ainda não pode estar em vigor. O jogador não é emprestado pelo clube encarnado, e, como tal, o Benfica não podia forçar a sua ausência.

O que é facto é que, mais uma vez, o Benfica defrontou uma equipa estranhamente desfalcada.


Victor Andrade

O jogador Victor Andrade já foi atleta do Benfica, que continuam em posse de uma parte dos seus direitos económicos. Estranhamente ou talvez não, Victor Andrade estará de fora na 31ª jornada na receção do Estoril ao Benfica por ter sido expulso quando estava no banco de suplentes. O brasileiro foi titular em Portimão, tendo sido substituído aos 59 minutos. Um quarto de hora depois, foi expulso por protestos.



Não é novidade: na 1ª volta, Victor Andrade foi ininterruptamente titular no Estoril entre a 10ª e 17ª jornada... com exceção da 14ª jornada, quando o Estoril se deslocou à Luz. Nesse jogo, o brasileiro nem sequer foi convocado. Mais uma coincidência daquelas.

Certamente que terão existido outros exemplos idênticos ao longo da época, pois acordos de cavalheiros há muitos. Já nem entro pela legião de jogadores que a estrutura de Vieira contrata para emprestar, sabendo que poderão defrontar os seus rivais diretos mas não o próprio Benfica, nem sequer nos Tondelas da vida que jogam de pé na chapa contra Sporting e Porto mas se comportam que nem carneiros mansos quando jogam contra o Benfica.

É assim a Liga Portuguesa. Não bastam as influências na arbitragem e na disciplina, promiscuidade a rodos com clubes amigos, há também estes expedientes para enfraquecer os adversários. Isto é que é jogar forte em todos os tabuleiros.

E diz Vieira que gosta de adversários fortes. Deixa-me rir...