segunda-feira, 9 de abril de 2018

Um domingo em 4 atos

1. O comunicado da tarde

Bruno de Carvalho publicou novo comunicado na sua página de Facebook, desta vez em nome da direção do clube e da administração da SAD. Fez vários esclarecimentos sobre o que se terá passado nestes últimos dias, acusando os jogadores de não terem cumprido aquilo que teria ficado entendido para resolução do problema entre as duas partes e relembrando que estes não são exemplo nenhum em matéria de amor ao clube. Reafirmou que os jogadores continuam a estar sob alçada disciplinar, mas que revogou a suspensão por achar que isso não serviria os interesses do clube.

Em relação ao que foi escrito e à forma como foi escrito, não tenho grande coisa a apontar, e acredito que, na generalidade, corresponderá à verdade dos factos.

Mas tenho dois problemas em relação a isto. O primeiro é que esta marcha-atrás confirma a intempestividade e precipitação da primeira decisão, que eram mais que óbvias aos olhos da maior parte dos sportinguistas. O segundo problema é o timing escolhido, a apenas um par de horas de um jogo que já teria ingredientes suficientes para ser de enorme tensão. A única lógica que encontro na decisão de publicar o comunicado tão em cima da hora do jogo (e não imediatamente a seguir ao jogo, por exemplo) é ter sido uma tentativa de puxar os sócios e adeptos para o seu lado no momento em que as bancadas se decidissem pronunciar sobre o que se tem passado.

Uma observação ainda para o último parágrafo: 
"Quanto à Direcção do Clube e da SAD, continuaremos com o mesmo Esforço, Dedicação e Devoção a gerir estas instituições e a lutar pela verdade desportiva, que deve voltar a ser o foco de todos nós. Pois são casos como os vouchers, os e-mails, o E-toupeira ou os jogos para perder que nos podem também afastar do caminho da Glória que traçámos e pela qual trabalhamos diariamente, 24 horas, para conquistar."

Teria sido bom que Bruno de Carvalho tivesse isso em mente quando decidiu sair da primeira das duas AG's realizadas esse ano e exigir 75% de aprovação para a AG seguinte, e antes de escrever o post pós-Madrid. A não ser que surjam novos desenvolvimentos, há-de tardar que o foco volte a estar novamente centrado nos e-mails. Nas próximas semanas (e arrisco dizer meses) o tema principal será a instabilidade no Sporting. O presidente deu essa borla à comunicação social, que, como bem sabemos, não a desperdiçará.


2. Os apupos e os pedidos de demissão

Não apupei Bruno de Carvalho porque, apesar de tudo o que tem acontecido ao longo dos últimos dias, não me esqueço de tudo o que fez pelo clube desde que assumiu o cargo. No entanto, não critico quem o tenha feito porque, para todos os efeitos, é legítimo que os sócios e adeptos utilizem um dos poucos momentos que têm para expressar de forma direta a sua insatisfação.

Em relação aos pedidos de demissão que se ouviram, a conversa é diferente, porque o estádio não é o local apropriado. Quem quiser a destituição dos órgãos sociais deve agir em conformidade, organizando-se para recolher as assinaturas necessárias para convocar uma AG para o efeito. Tão simples quanto isso. E depois todos os sócios interessados decidirão.


3. Os jogadores

Aplaudi e apoiei os jogadores na mesma medida que aplaudi em qualquer outro jogo. Achando que foram injustiçados com um post totalmente desadequado, mereciam o apoio das bancadas - mas como devem ter sempre, incluindo os Bryans, os Rúbens e os restantes patinhos feios que são alvo de assobios fáceis noutras ocasiões -, e não mais do que isso. Era só o que faltava que não fossem a jogo e que não dessem o litro. 

Foram a jogo, deram o litro e ganharam o jogo confortavelmente. Souberam lidar com a pressão. Fizeram por merecer o nosso apoio.

Agora, fazer dos jogadores heróis por causa desta crise? Isso é que não. Estão de orgulho ferido pelo que o presidente lhes disse e estão espicaçados por isso? Tenho pena que não se sintam espicaçados de igual forma quando lhes anulam golos limpos - como ainda ontem aconteceu -, que não façam comunicados conjuntos quando os árbitros ou as instâncias disciplinares escolhem um deles para dar o exemplo enquando vão poupando outros jogadores de outros clubes em situações idênticas, ou quando se viram espoliados de um campeonato em 2015/16 da forma que todos sabemos. Aí a sua visibilidade poderia ser bastante útil para o clube (vejam o que tem feito Casillas, por exemplo), e aí, sim, seria uma demonstração de grande brio e vontade de ajudar o clube. Mas infelizmente, nesses momentos, suponho que tenham ficado sempre sem bateria nos telemóveis.

Atenção, reforço: nada contra os jogadores, pelo contrário. Mas se acham que serão os jogadores os principais defensores do clube em tudo o que estiver ao seu alcance... é melhor pensarem duas vezes. Gostaria de ter visto esta mesma solidariedade em prol dos interesses do Sporting noutras ocasiões e não apenas quando se sentem atacados pelo presidente.


4. A conferência de imprensa de Bruno de Carvalho

Mais uma vez, demonstrou que não tem medo de dar a cara nos momentos complicados. E duvido que tenha havido momento mais complicado do que este desde que é presidente. No entanto... será que foi útil fazê-lo?

Disse duas coisas importantes e o resto foi uma total perda de tempo. O seu e o de quem o ficou a ouvir. 

Primeira coisa importante: disse que não se vai demitir.

Segunda coisa importante: não percebe a importância que as pessoas estão a dar ao post pós-Madrid. 

Em relação à primeira, está no seu direito e, em certa medida, era expectável. Em relação à segunda, é assustador que Bruno de Carvalho se recuse a (ou não consiga) perceber a dimensão do erro que cometeu, e perceber também que esta faceta da sua personalidade está a atropelar todas as suas qualidades e que, mais cedo ou mais tarde (provavelmente mais cedo do que mais tarde), causará a sua queda da presidência. Nas condições atuais, no estado atual em que o presidente se parece encontrar, nenhum sportinguista consegue prever quando provocará a próxima grande crise, e são muito poucos aqueles que conseguirão conviver com essa instabilidade. Eu não consigo. E é trágico que assim seja, e que isso possa vir a suceder, considerando toda a obra feita, todos os obstáculos que teve de superar para tornar o Sporting um clube competitivo e (sim, mesmo que os rivais o neguem escarnecendo) temido. É trágico porque dificilmente voltaremos a ter um presidente com o mesmo nível de dedicação e determinação, e com uma visão tão certa daquilo que o Grande deve ser.

Que desperdício.