terça-feira, 15 de maio de 2018

A montanha pariu um rato (pelo menos para já)

A montanha pariu um rato, pelo menos para já. 

Vamos esquecer-nos por um momento do circo mediático que se gerou no final da tarde de ontem e que se prolongou pela noite dentro. Depois de um jogo vergonhoso que nos privou de um objetivo importantíssimo e em vésperas de um outro também muito importante, é normal que o presidente tenha querido falar com os jogadores e equipa técnica. A reunião decorreu no estádio, em privado, e não no Facebook ou no Instagram. É assim que deve ser. 

Em paralelo a Comunicação Social foi armando a tenda do circo, instalando as bancadas e montando as barraquinhas das pipocas e do algodão doce, enquanto ia prometendo um espetáculo inesquecível. As "notícias" que começaram a circular garantiam que a equipa técnica tinha sido suspensa e que não estaria no Jamor, e que três jogadores (Rui Patrício, William Carvalho e Bruno Fernandes) tinham ameaçado não jogar a final da Taça caso essa suspensão se efetivasse. A Comunicação Social bem pode ter anunciado o Cirque du Soleil, mas os artistas não apareceram. A estrutura acabou por desabar ruidosamente quando, à saída do estádio, Bruno de Carvalho negou a suspensão da equipa técnica e afirmou que a reunião com os jogadores decorrera de forma normal. Acredito que seja verdade, porque até ver não houve nenhuma reação antagónica do lado dos jogadores. 

A um fim de tarde pródigo em especulações sucedeu-se uma noite de discussões assentes em premissas desmentidas oficialmente, o que é uma bela imagem daquilo em que se transformou o jornalismo e o comentário desportivo em Portugal. Lá mais para o final da noite a história foi alterada: de suspensão passou-se para uma transmissão verbal a Jorge Jesus da decisão de que lhe será instaurado um processo disciplinar. Vale o que vale, pela amostra do dia o melhor é mesmo ficarmos todos de pé atrás antes de tomar por certo qualquer notícia sem confirmação de nenhuma das partes diretamente envolvidas.

Comecei o texto com "A montanha pariu um rato, pelo menos para já.". Escrevi "pelo menos para já" porque estou totalmente convencido de que Bruno de Carvalho já não vê Jorge Jesus como a pessoa certa para o banco do Sporting e, como tal, não quererá que o treinador cumpra a última época de contrato com o Sporting. Confirmando-se este cenário, tenho a certeza de que Bruno de Carvalho não terá o mínimo interesse em pagar o último ano de contrato a Jorge Jesus. São 5, 6, 7, 8 ou 9 milhões (dependendo da cartilha) que farão muita falta ao orçamento do Sporting numa época em que não haverá Champions para forrar os cofres da SAD, pelo que não tenho dúvidas de que Bruno de Carvalho usará todas as armas à sua disposição para forçar uma rescisão "amigável" - mesmo que o processo para a alcançar seja tudo menos amigável. O Bruno mais "maluco" (roubando o termo utilizado pelo próprio presidente na recente entrevista ao Expresso) é o Bruno que avança para uma negociação que não aceita perder. Perguntem à banca, perguntem a Marco Silva, perguntem ao Inter e ao Leicester. Acredito que os próximos dias/semana não vão ser bonitos, mas é bem provável que leve a sua avante. A conta bancária do Sporting agradecerá, a reputação do clube se calhar nem tanto. Tranquilidade até o assunto estar encerrado, nem pensar.

Não vou agora entrar em comentários sobre se concordo ou não com a saída do treinador. Enquanto adepto, acho que devo fazê-lo apenas após o próximo domingo. Há uma competição importante para ganhar. Mas percebo que a direção não se possa dar a esse luxo: 2018/19 já está aí ao virar da esquina e terá de ser muito bem preparada para minimizar os efeitos do catastrófico 3º lugar em que ficámos. Vai ser uma espécie de regresso a um passado nada distante: ao contrário dos últimos anos, os nossos adversários vão ter um orçamento bastante superior ao nosso. Todos os milhões vão contar.