quarta-feira, 9 de maio de 2018

A suspensão de Rúben Dias, o auto instaurado a Coentrão e a lógica dos sumaríssimos na era do VAR

A suspensão de Rúben Dias

O Conselho de Disciplina decidiu suspender o jovem central benfiquista por dois jogos. A decisão parece-me fazer todo o sentido. Saúde-se, também, a rapidez com que a questão foi julgada - ninguém ganharia nada com mais uma novela à la Slimani.


O auto por flagrante delito instaurado a Fábio Coentrão

Durante o dia de ontem, o Benfica fez uma participação disciplinar contra Rui Patrício, Mathieu, Coates e Coentrão por ocorrências registadas no dérbi. Não sei se por consequência direta dessas queixas, a Comissão de Instrutores da Liga decidiu abrir um auto por flagrante delito a Fábio Coentrão, por supostamente ter agarrado o pescoço de Samaris. Confesso que não me apercebi de nada no estádio nem vi nada de anormal nos resumos e análises ao jogo que vi mais tarde. Acabei por ficar a saber do assunto precisamente através da notícia sobre as queixas do Benfica e por causa desta foto que a acompanhava:


A imagem é bastante sugestiva, mas à boa moda dos frames à Benfica, ajuda a construir uma narrativa que nada tem a ver com o que se passou na realidade. Ontem à noite, a Sport TV+ mostrou as imagens da situação e, como poderão constatar, o frame é bastante enganador:


É absurdo que a Comissão de Instrutores abra um auto de flagrante delito a Coentrão por causa disto. Devem ter tomado essa decisão exclusivamente com base na fotografia que andou a circular. Pior sai a CI desta situação quando vemos que, nesta mesma ocorrência, houve outros jogadores que tiveram um comportamento bastante mais incorreto que Coentrão: Acuña e Salvio encostam a cabeça um no outro, Samaris agarra em Acuña para o separar de Salvio e Acuña responde afastando Samaris com os braços.

Não há aqui qualquer motivo para suspender Fábio Coentrão, tal como não há matéria para suspender Patrício, Coates ou mesmo Mathieu.


A lógica dos sumaríssimos na nova era do VAR


A suspensão de Rúben Dias foi, como seria de esperar, contestada por Rui Pedro Braz. O comentador reconheceu que o central deveria ter sido expulso, mas contornou a questão da justiça da suspensão através de uma questão processual: Braz acha que a Comissão de Instrutores da Liga não deveria ter instaurado um sumaríssimo porque, segundo ele, o VAR avaliou o lance e não encontrou motivos para expulsão. E estendeu o raciocínio para a existência de sumaríssimos na generalidade, defendendo que deixa de fazer sentido a abertura de inquéritos com base em imagens televisivas a partir do momento em que o VAR tem acesso a essas mesmas imagens para avaliar este tipo de situações quando elas acontecem. Aqui fica a argumentação de Braz:






O raciocínio tem uma falha fulcral: não há nada que nos garanta que Hugo Miguel tenha realmente visto o que se passou em campo. Eu, no estádio (estava na central oposta à das imagens televisivas) não vi nada de anormal quando Gelson caiu ao chão - pensei que tivesse sido um contacto normal - faltoso ou não, não interessa para o caso. Parece-me bastante provável que Hugo Miguel e o seu assistente não tenham dado uma segunda visualização por não se terem apercebido da forma como Rúben Dias abordou o lance. Foi uma queda fora da área - pelo que não tinham a preocupação de verificar se era ou não penálti - e o lance prosseguiu, pelo que é possível que se tenham continuado a focar no jogo. Se fosse dentro da área, de certeza que teriam revisto de vários ângulos e que se aperceberiam da entrada de cotovelo do central do Benfica - depois se aconselhariam ou não o árbitro a ver as imagens é outra questão, infelizmente os jogos do Benfica estão repletos de casos destes que o VAR deixa passar.

Os sumaríssimos continuam a fazer todo o sentido, mesmo com VAR. Mas é necessário que haja coerência na sua aplicação, independentemente das queixas dos clubes, da importância dos jogos ou dos emblemas em causa. Infelizmente, esta época, coerência foi coisa que não existiu.

P.S.: Perante a argumentação imperfeita de Braz, o moderador do programa fez o que lhe competia: fez contraditório, com uma questão muito pertinente. Braz (com a ajuda de Luís Aguilar) reagiu a isso como se de uma afronta se tratasse e teve uma atitude inaceitável para com o colega:


Se houvesse justiça, Braz deveria ser confrontado várias vezes por programa, tantas são as argumentações absurdas que faz em nome dos interesses superiores que todos sabemos. É triste que a TVI continue a patrocinar a presença diária de fantoches destes nas suas emissões.