quarta-feira, 2 de maio de 2018

Uma questão de justiça



Quando a bola rematada por Dennis embateu no bloco benfiquista e dirigiu-se lateralmente para fora de campo, batendo no solo e entregando o sexto título nacional de voleibol da história do Sporting, 24 anos após a última conquista e logo na época de regresso do clube à modalidade, instalou-se a loucura no Pavilhão João Rocha. Dennis e Garrett agarraram-se a quem vinha disparado do banco, Robinho ajoelhou-se junto à rede, Luke Smith atirou-se para o chão, Fidalgo desatou a correr em euforia sem rumo aparente à volta do recinto... e Miguel Maia, o campeoníssimo Miguel Maia, o melhor jogador português de sempre e uma das figuras do tricampeonato entre 1991/92 e 1993/94, que com esta vitória encerra uma carreira impar, correu direto para a bancada para abraçar Bruno de Carvalho, que no início do 5º set tinha descido do camarote para a primeira fila. Juntou-se-lhes de imediato José Pedro Monteiro.

Não é difícil perceber o motivo que levou Miguel Maia a ter esta atitude num momento tão especial como aquele. O Sporting sagrou-se campeão devido ao trabalho de toda a equipa técnica e devido ao esforço hercúleo dos seus atletas nestes cinco jogos de exigência máxima diante de um Benfica com imenso valor e garra, mas não seria justo ignorar um outro facto: não fosse este presidente, as condições que deu à equipa - falem na diferença de orçamentos, se quiserem, mas que outra forma tinha o Sporting de criar um grupo competitivo de forma instantânea contra adversários que andam há décadas nisto? - e a visão que tem para as modalidades, de certeza que não teríamos festejado este título ontem.

O Sporting venceu o seu primeiro campeonato no Pavilhão João Rocha e poderá vencer outro no andebol já no próximo domingo (virtualmente, não matematicamente porque as derrotas valem um ponto e é preciso marcar comparência nos restantes jogos) se vencer o Benfica, atual segundo classificado. Pavilhão João Rocha, um sonho antigo que parecia enterrado e que foi materializado num espaço de tempo que ninguém julgaria possível. Ninguém, com exceção da pessoa que teve a audácia e o engenho para, em tempo de vacas esqueléticas, desencantar as condições necessárias para que este belíssimo pavilhão se tornasse uma realidade: o presidente Bruno de Carvalho.

Independentemente de tudo aquilo que aconteceu no último mês, independentemente de todos os defeitos que lhe possamos apontar na forma como comunica, por mais anticorpos que a sua forma de estar possa causar, independentemente das críticas que lhe fiz muito recentemente... não posso, nenhum sportinguista pode negar-lhe esta justiça: não há ninguém que mereça mais do que ele festejar como festejou a conquista de ontem. Obrigado a todos os jogadores, foram enormes!, obrigado à equipa técnica e a todo o staff, e obrigado à direção e a este presidente por terem acreditado - quando mais ninguém acreditava - que tudo isto poderia ser possível.