sábado, 30 de junho de 2018

As motivações de Cintra

Creio que todos estarão de acordo em como Bruno de Carvalho ofereceu um contrato sobrevalorizado a Mihajlovic. Ainda que esteja longe do valor que era pago a Jorge Jesus, um salário anual de 4 milhões euros brutos é excessivo face ao currículo do sérvio, e apenas se pode explicar pelo fraco poder negocial que o ex-presidente tinha: faltavam poucas semanas para o início da época, a situação de instabilidade extrema era mais que conhecida, e estava a dias de uma AG de destituição. Por todos os motivos e mais algum, Bruno de Carvalho tinha de arranjar rapidamente um treinador - e isso foi bem aproveitado por Mihajlovic.

Compreendo a posição de quem contestou a decisão de Bruno de Carvalho em fechar um compromisso que, com um grau elevado de probabilidade, poderia cair nos braços de uma outra direção. No entanto, uma vez tomada essa decisão, acho ainda mais discutível que Sousa Cintra tenha decidido terminar o contrato com Mihajlovic - ainda por cima utilizando um argumento quase ao nível do fato de Marco Silva -, por dois motivos:
  • A questão do treinador, melhor ou pior, era das poucas que estava tratada - o reforço do plantel era um assunto bem mais urgente;
  • Cintra partiu de um pressuposto errado de que seria relativamente simples arranjar um treinador melhor e mais barato. É que os problemas do plantel mantêm-se, a Comissão de Gestão de que faz parte também está a prazo, e a época está ainda mais próxima de começar - aumentando a urgência da resolução deste tema. O cenário de hoje pode ser bem diferente na cabeça de Sousa Cintra do que era há duas semanas, mas para um observador externo... a situação de incerteza e instabilidade há-de ser muito semelhante.

Se Cintra já tivesse um acordo apalavrado com outro treinador quando decidiu dispensar Mihajlovic, seria uma coisa. Mas sendo verdade o que tem sido reportado pela Comunicação Social, não havia ninguém de reserva pronto a assinar. Cintra anda a multiplicar-se em contactos, a bater a várias portas, mas as respostas não têm sido positivas. Só que o relógio não pára, e a pressão para resolver este problema vai aumentando a cada hora. 

Considerando o tempo que resta é o perfil dos nomes que têm sido referidos na imprensa, começo a simpatizar com uma ideia que rejeitava até há poucos dias, mas que, perante a conjuntura atual, me vai parecendo cada vez mais um mal menor: colocar a equipa na mão de um treinador interino que já faça parte dos quadros do Sporting, sem encargos imediatos, e passar a responsabilidade da contratação do treinador para o próximo presidente.

Cintra ainda tem dois dias pela frente para resolver o problema, mas fica a ideia de que a dispensa de Mihajlovic parece ter sido mal calculada. E isso leva-me a outra questão: considerando que Cintra tem andado a contactar treinadores que exigirão, no mínimo, salários tão elevados como aquele que o sérvio iria auferir, por que razão é que o decidiu mandar embora? Está visto que não é pelo dinheiro, duvido que seja pela duração do contrato (que treinador credenciado aceitará um contrato de um ano sem outro tipo de compensação?), e muito menos pelas suas qualidades técnicas - se há coisa que não podemos esperar de um homem que dispensou Bobby Robson com a equipa em primeiro lugar, é bom senso na avaliação das competências de um treinador. 

Para mim, a resposta é esta: Sousa Cintra mandou embora Mihajlovic porque quer deixar nestes 2 meses a marca que não conseguiu deixar nos anos em que foi presidente. Quer ser recordado como um presidente que fez o Sporting campeão, e sabe que esta é a última oportunidade que tem para o conseguir. 

Se for isso que o está a motivar e que o levou a tomar a decisão que tomou, alguém lhe deveria dizer que não foi para isso que foi nomeado para a Comissão de Gestão e para a SAD.