sábado, 9 de junho de 2018

Legitimidade reconhecida ou legitimidade não reconhecida, eis a questão

Na segunda-feira houve uma manifestação organizada por sportinguistas a exigirem a demissão de Bruno de Carvalho e da atual direção. Compareceram centenas de manifestantes e dezenas de jornalistas e até um drone, e tivemos direito a longos diretos da RTP, SIC, TVI e CMTV, que recolheram opiniões e discutiram o descontentamento dos sportinguistas durante horas. Todos os canais que cobrem o assunto marcaram presença e não pouparam meios. Todos os canais? Não, a Sporting TV ignorou totalmente a manifestação. No dia seguinte, a manifestação teve direito a chamada de capa no Público, O Jogo, Jornal de Notícias, A Bola e Record. 

Ontem houve uma manifestação organizada por sportinguistas para declararem o seu apoio a Bruno de Carvalho e à atual direção. Compareceram centenas de manifestantes, mais centena ou menos centena comparativamente à segunda-feira anterior, mas desta vez... diretos, nem vê-los, com exceção da Sporting TV. Hoje, a manifestação não teve direito a uma única chamada de capa dos jornais.

Duas manifestações com centenas de sportinguistas não poderiam ter tido tratamento mais diferente.  A Sporting TV não cumpriu a sua função de manter os sportinguistas informados. Percebe-se o motivo, pois não costuma ser boa ideia morder a mão a quem aprova o pagamento das faturas mensais, mas a verdade é que dar noticia de apenas um dos lados da questão é mais desinformação do que informação. 

A mesma crítica pode ser dirigida a todos os jornais e televisões supostamente independentes. É mais do que evidente que estão a tomar partido por um dos lados da barricada. Estão fazer de Bruno de Carvalho o inimigo público número um e querem-no de fora do Sporting o mais rapidamente possível. O trabalho que têm feito é uma vergonha e isso sim, deveria efetivamente preocupar a opinião pública: quem está disponível para fazer uma caça à bruxa destas quando o tema é futebol, poderá um dia estar disponível para fazer o mesmo em temas muito mais importantes.

O que é que isto tem a ver com a questão da decisão de ontem do tribunal que indeferiu o requerimento da Marta Soares? É que a forma como essa decisão foi noticiada é um bom exemplo de como não podemos confiar em nada do que a comunicação social (Sporting TV incluída) diz ou escreve sobre o tema.


Isto que aparece na capa do Record de hoje é mentira. O tribunal pronunciou-se apenas sobre os pedidos que Marta Soares fez de forma a forçar o CD a providenciar todos os meios considerados necessários para que a AG de dia 23 se realize em condições de segurança. O tribunal indeferiu o requerimento de Marta Soares por considerar que as medidas solicitadas, mesmo que implementadas, não garantem essas condições de segurança. É única e exclusivamente isto que foi decidido. O tribunal não se pronunciou sobre o direito que Marta Soares tem em convocar uma AG, nem se pronunciou sobre se Marta Soares é ou não o legítimo PMAG em funções.

Em relação à situação da legitimidade dos órgãos sociais, o tribunal referiu apenas que, em função da natureza sumária de uma providência cautelar, não há necessidade nem condições para apurar se todos os pressupostos são válidos - incluindo sobre se Marta Soares tem ou não poderes para convocar a AG em causa -, de forma a não comprometer uma decisão que teria obrigatoriamente rápida e atempada sobre o requerimento colocado para garantir as condições de segurança da AG de dia 23. Nunca, em momento algum, se pronuncia sobre o diferendo que existe sobre qual é a MAG efetivamente em funções. Essa questão continua em aberto e, muito provavelmente, acabará por ser decidida nos tribunais... num processo completamente separado daquele cujo resultado foi ontem conhecido.

Todos, na nossa qualidade de adeptos, sócios e cidadãos, temos direito a achar que a razão está de um ou de outro lado. Mas isso não confere a ninguém, e muito menos à comunicação social, o direito de tentar enganar as pessoas dando a entender que foram decididas coisa que simplesmente não foram apreciadas.