sexta-feira, 27 de julho de 2018

O falhanço da contratação de Badelj

Vale a pena ouvir o que disse Pedro Sousa sobre a forma como o Sporting deixou fugir Badelj para a Lazio. Sendo verdade que transferências a custo zero é coisa que não existe - por causa dos chorudos prémios de assinatura, comissões e salários inflacionados que jogadores livres com mercado implicam -, esta era um daqueles negócios que nunca poderia deixar de ser feito.

A contratação do croata resolveria aquela que é, de longe, a maior lacuna do plantel. Quando estamos a duas semanas do arranque da época e sujeitos a ir a jogo com Petrovic no onze titular, não podemos, de forma alguma, deixar fugir um jogador como este por causa de falta de acordo na duração do contrato. A decisão ganha contornos ainda mais bizarros quando nos apercebemos que, aparentemente, parece haver abertura da SAD para pagar um salário obsceno (face à valia desportiva) a Battaglia e para negociar com o Braga a contratação de Vukcevic - um jogador muito inferior que acabará certamente por sair bem mais caro do que Badelj.

Quem entenda a lógica de quem está ao comando da SAD, que me explique... porque isto é demasiado mau para ser verdade.


P.S.: espero também que não seja verdade que existam pressões de dentro da administração da SAD para que se aceite a proposta do Atlético por Gelson Martins.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

Um mês de Cintra

Na sequência da destituição de Bruno de Carvalho e restantes elementos do Conselho Diretivo, um dos primeiros atos da Comissão de Gestão nomeada por Jaime Marta Soares e presidida por Artur Torres Pereira foi a indigitação de Sousa Cintra como representante do clube na SAD, precisamente em substituição de Bruno de Carvalho. Fez esta semana um mês que se deu essa substituição, pelo que me parece um momento oportuno para fazer uma avaliação provisória do trabalho que tem sido desenvolvido por Sousa Cintra e sua equipa.

Peguei em alguns tópicos que acho serem merecedores de análise (é possível que me tenha esquecido de alguns) e organizei-os por importância/desempenho.



1. Reinstauração de um clima de normalidade

Creio que toda a gente estará de acordo que seria impossível governar o clube e SAD caso se mantivesse a instabilidade que se viveu antes da destituição de Bruno de Carvalho. Obviamente que o afastamento do ex-presidente, por si só, resolvia parte do problema, mas não seria suficiente caso a nova direção não fizesse por devolver a serenidade e confiança possível aos adeptos. Por isso acho que Sousa Cintra teve um papel importante quando, na sua declaração inicial, prometer uma equipa "fortíssima" para lutar pelo título - tudo bem que Cintra se limitou a ser igual a Cintra (a recuperar o otimismo ingénuo que caracterizou o seu estilo de presidência nos anos 80/90), mas era fundamental sacudir o fatalismo profundo que o pesadelo dos meses anteriores incutiu na mente coletiva sportinguista. Não se pode, no entanto, abusar da procura da normalidade ao ponto de se cair na passividade - algo que, no lamaçal do futebol português, pode ser a morte do artista.


2. Regresso de Bruno Fernandes e Bas Dost

É certo que vai haver um ambiente estranho quando estes dois jogadores regressarem a Alvalade e que algumas pessoas nunca lhes perdoarão a rescisão, mas do ponto de vista desportivo esta foi a melhor solução possível para o Sporting. Bruno Fernandes afirmou que o seu salário não foi alterado, o que é algo que, simbolicamente, é muito importante para um bom relacionamento com os adeptos. Dost, de todos, era dos que teria mais razões para querer sair. Voltou, supostamente, com um ajuste salarial pouco significativo. Diga-se o que se disser, Sousa Cintra esteve muito bem ao conseguir recuperar dois jogadores fundamentais que nos tornam automaticamente muito mais competitivos, ainda que esse muito bem possa mudar, para pior ou para melhor, em função dos prémios de assinatura e comissões que o Sporting possa ter (ou não) pago a jogadores e empresários.


3. Gestão das rescisões

Um dos meus principais receios com a entrada da CG - ainda mais quando se assistiu a uma aproximação súbita de Jorge Mendes - era que cedêssemos às pretensões dos jogadores que rescindiram face a ofertas pouco mais que simbólicas. Ainda que o negócio William não seja famoso (já lá vamos), é bom ver que, apesar de haver abertura por parte do clube para negociar uma via não litigiosa, não andemos a aceitar esmolas ou entulho de que os clubes interessados se querem ver livres.


4. Contratação de Nani

Não sendo seguramene o mesmo jogador que regressou em 2014 e muito menos aquele que deslumbrava no Manchester United, Nani pode ser uma peça bastante útil para José Peseiro e, não menos importante, poderá ser uma referência de balneário capaz influenciar positivamente o grupo de trabalho - havendo vontade para isso. Ter vindo a custo zero torna a operação bastante interessante, ainda que se esteja por saber quanto se gastou em comissões e prémio de assinatura.


5. Troca de treinador

Ainda que entenda os motivos que levaram à dispensa de Mihajlovic (caro para o currículo apresentado e com um contrato longo), não aceito que se diga que ficámos a ganhar com a troca. Peseiro é um treinador que tem fracassado em todos os sítios por onde tem passado e que dificilmente terá pulso para segurar um balneário com personalidades muito fortes caso as coisas comecem a correr mal. A única coisa boa na vinda de Peseiro é que o contrato é de apenas uma época. Espero poder engolir as minhas palavras em maio, mas... não me parece que isso vá acontecer.


6. Aproximação a Jorge Mendes

Foi-nos vendido por Sousa Cintra que Jorge Mendes estava disponível para nos ajudar, apesar de toda a gente saber que o empresário é um especialista em ajudar-se apenas a si próprio, e que, para além disso, fez os possíveis para que vários jogadores rescindissem com o clube. Saldo das ajudas até ao momento: arranjou-nos um treinador fraco e levou-nos de forma litigiosa Rui Patrício, Podence e Gelson Martins. Não me parece que estejamos a sair por cima deste relacionamento, ainda que pudesse ser pior: ao que parece, livrámo-nos de receber um guarda-redes de que não precisamos.


7. Informação aos sócios

Até agora, o nível da informação prestada aos sócios e adeptos tem sido péssimo. O que vamos sabendo resume-se ao que sai da boca de Sousa Cintra em apresentações de jogadores ou em exclusivos à CMTV, e aos comunicados para a CMVM. De resto, parece um clube que se governa apenas para si próprio. Certo dia tínhamos a equipa B inscrita no Campeonato de Portugal, um par de dias mais tarde tínhamos desistido da equipa B. Explicações aos sócios? Nada. É apenas um exemplo entre vários em que não há qualquer informação transmitida aos sportinguistas, como os percalços na calendarização da pré-época, a colocação de jogadores excedentários, o cancelamento da Gala Honoris, e por aí fora.


8. Venda de William Carvalho

Caso corra muito bem a vida de William em Sevilha, pode ser que o Sporting consiga receber os 4 milhões dos objetivos (quais são, mesmo?) e o Bétis acione a compra de 20% do passe por 10 milhões, será um bom negócio. Até lá, considerando que só estão garantidos 16 milhões e que estamos a falar de um campeão da Europa, titularíssimo do Sporting e da seleção nacional, é um mau negócio para o Sporting. O facto de ser uma ajuda importante para os problemas de tesouraria atenua um pouco a má decisão que foi tomada.


9. Problemas com o planeamento da pré-época

Vários jogos adiados ou com alteração de adversário. Pouquíssimos jogos contra adversários competitivos. Neste momento temos um único jogo marcado até ao arranque do campeonato. Revela desorganização e desleixo que poderá sair-nos muito caro no arranque do campeonato: vamos defrontar o Benfica na 3ª jornada com metade dos minutos de competição.


10. Venda de Piccini

É certo que chegou barato, mas 8 milhões por 90% do passe de um jogador que fez uma boa época acaba por saber a pouco. Tinha de ser vendido - já que a posição no plantel está bem preenchida por outros dois jogadores -, mas parece-me que se desistiu demasiado cedo de conseguir um negócio mais favorável.


11. Levantamento da cláusula de confidencialidade de Jorge Jesus

Continuo a não ver o que ganha o Sporting com isto, nem o que Jesus fez para merecer esta borla de Sousa Cintra.


12. Proximidade excessiva à CMTV

Tanto quanto me apercebi, Sousa Cintra ainda não pôs os pés na Sporting TV desde que foi nomeado presidente da SAD. Ao invés, permitiu uma proximidade assustadora com Tânia Laranjo e a CMTV, que tanto mal fizeram ao Sporting nos últimos anos. Já deu para perceber que isso permite "comprar" peças mais favoráveis, mas será sol de muito pouca duração. Não dá para entender esta estratégia.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A inação da CG no caso Bruma

Depois dos dois meses e meio de enorme instabilidade que o clube viveu entre o jogo de Madrid e a AG de destituição, compreendo que uma das principais preocupações da Comissão de Gestão de Artur Torres Pereira e do Conselho de Administração da SAD liderado por Sousa Cintra (que, para efeitos de simplificação, designarei de "CG" daqui para a frente) seja a reinstauração de um clima de normalidade no Sporting, tanto na sua atividade corrente, como no relacionamento com outros players do mundo do futebol. Compreendo também que queiram evitar meter-se em conflitos que considerem poder condicionar a atuação da direção que será eleita a 8 de setembro.

No entanto, isso não dispensa a CG de ignorar por completo o que se vai passando ao seu redor, e muito menos a dispensa de defender os interesses do Sporting quando isso se impõe. O silêncio absoluto dos dirigentes do Sporting e da própria Sporting TV (com exceção de um breve mas incisivo comentário de Rui Calafate no final do programa Sporting Especial de segunda-feira, que poderão ver mais abaixo) é, a todos os títulos, incompreensível, face aos fortíssimos indícios de que o Benfica violou o regulamento de transferências da FIFA para tentar desviar um dos jogadores mais promissores que tínhamos em 2013, numa manobra de extremo oportunismo levada a cabo num momento em que o clube atravessava uma crise desportiva e financeira gravíssima.

Não estou a dizer que a CG deve seguir a estratégia belicista de Bruno de Carvalho de atacar tudo o que mexe. Muito pelo contrário, está mais que visto que um dos grandes erros do ex-presidente foi não ter tido capacidade escolher de forma inteligente as guerras em que se metia. Mas a função de quem lidera um clube do Sporting também não é vencer concursos de popularidade nem ser cortejado pela imprensa sensacionalista. Reconheço coisas muito boas na atuação da equipa de Sousa Cintra (farei em breve um balanço deste primeiro mês em funções), mas a ausência de reação em relação ao caso Bruma não é admissível.

É um assunto suficientemente importante (a enorme quantidade de visitas nos últimos dois dias ao post do caso Bruma deixa-me completamente seguro de que é um tema que o universo sportinguista considera muito relevante) para não poder ser ignorado pela CG - por tudo o que representou na altura e pelas implicações dos novos dados -, mesmo considerando o seu mandato transitório.

A CG não foi eleita, mas foi nomeada pelo representante dos sócios para defender os interesses do clube e, como tal, não pode descartar a obrigação de sujar as mãos em assuntos desta natureza. Façam o vosso trabalho, por favor.

terça-feira, 24 de julho de 2018

O caso Bruma na imprensa de hoje



Alguns jornais fizeram hoje referência aos emails do blogue Mercado do Benfica que demonstram que o Benfica participou ativamente no processo de rescisão de Bruma do Sporting com o objetivo final de contratar o jovem extremo.

Segundo os artigos dos jornais, o Benfica alega que os emails são falsos e Catió Baldé nega que o Benfica alguma vez tenha estado envolvido no processo. Sobre isto, creio que a teoria de cabala e falsificação cai por terra perante a quantidade de documentação que existem nos emails, a que se pode ainda juntar os metadados dos ficheiros. Não é propriamente verosímil que alguém se dê ao trabalho de perder centenas de horas a fabricar conversas e ficheiros elaboradíssimos para a eventualidade de algum curioso descobri-los perdidos no meio de 10 gigabytes de informação.

Creio que o Sporting se deveria também pronunciar sobre esta questão.

Deixo de seguida os artigos publicados.

Record

Correio da Manhã

O Jogo


Recordando as palavras de Bebiano Gomes a 11 de julho de 2013

A 11 de julho de 2013, o mesmo dia em que Bruma rompeu com o Sporting, Bebiano Gomes foi entrevistado na TVI, onde apresentou os argumentos que levaram a essa tomada de posição do jogador.

Como recordar é viver, vale a pena ver este pequeno vídeo e conferir o que disse Bebiano Gomes sobre o interesse de outros clubes portugueses em Bruma:

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(via canal de YouTube Not Alone)


"Já houve algum contrato exploratório que seja com os representantes de Bruma para um outro clube em Portugal?"

"Não, neste momento não.", respondeu o advogado.

Sabemos agora que não foi bem assim, considerando que o Benfica já trabalhava com Bebiano Gomes há pelo menos quatro dias antes da data desta entrevista.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Caso Bruma: Benfica esteve por trás da tentativa de rescisão

Recapitulando o caso Bruma

No dia 11 de julho de 2013, o futebol português assistiu ao nascimento de uma novela que dominou a atualidade durante várias semanas, quando o jogador Armindo Tué Na Bangna, conhecido por Bruma, decidiu considerar inválido o contrato que o ligava ao Sporting até ao final de junho de 2014. O jogador não compareceu ao seu primeiro dia de treinos após as férias, desapareceu do país e iniciou um processo que visava a confirmação da sua libertação do clube, de forma a poder assinar de imediato por quem bem entendesse. Foi também nessa altura que foram elevados ao estatuto de figuras públicas o seu tutor e empresário, Catió Baldé, e o advogado Bebiano Gomes, que se desdobraram em declarações e acusações ao Sporting - que iam desde coação verbal até tentativa de rapto. 

Imagem retirada do blogue Mister do Café
O assunto dominou as capas de jornais, mas as aspirações do jogador e seus representantes acabaram por sofrer um duro revés no dia 23 de agosto, data em que a Comissão Arbitral Paritária decidiu, por unanimidade, que o contrato que ligava Bruma ao Sporting ainda era válido por mais um ano. Entre a reintegração no plantel e a negociação com outro clube, o Sporting e o jogador optaram pela segunda hipótese, chegando a acordo no dia 1 de setembro com os turcos do Galatasaray por 10 milhões de euros, podendo receber ainda mais 3 milhões pelo cumprimento de objetivos e 25% de uma mais-valia futura, e tendo o Sporting pago 800.000 euros de comissão pela venda. Entre o valor fixo da transferência, o cumprimento dos objetivos variáveis e a mais-valia, o jogador acabaria por render cerca de 14 milhões de euros ao Sporting.

Para a história ficou o mau aconselhamento feito ao jogador por Catió Baldé e Bebiano Gomes, que, perante a possibilidade de receberem uma maquia elevada pela colocação de um jogador livre e de enorme potencial, relegaram para segundo plano os interesses desportivos do jogador - que tinha todas as condições para ser uma peça fundamental da equipa principal do Sporting. 

O que nunca se chegou a saber foi onde tencionavam Baldé e Bebiano colocar Bruma caso lhes fosse dada razão no diferendo com o Sporting, e se houve apoio ativo de algum clube para que se concretizasse a quebra de vínculo com o Sporting. Houve notícias que falavam do interesse do Porto - que na altura estava de relações cortadas com o Sporting -, mas nada de concreto se apurou. Certezas nunca houve... até à semana passada.

O blogue Mercado de Benfica disponibilizou, no passado dia 18, o arquivo de emails de Paulo Gonçalves, onde estão incluídas mensagens que mostram, de forma inequívoca, aquilo que realmente se passou: foi o Benfica que esteve a manobrar nos bastidores de forma a roubar Bruma ao Sporting.


O que se passou nos bastidores

A rutura entre Bruma e o Sporting aconteceu a 11 de julho, mas o primeiro registo de envolvimento benfiquista no processo surge vários dias antes. A 7 de julho de 2013, ou seja, quatro dias antes, Paulo Gonçalves recebe o esboço da Notificação Judicial que Bebiano Gomes estava a preparar para formalizar a desvinculação do jogador.


Miguel Lopes Lourenço usa aqui uma conta pessoal mas era, na altura, advogado do escritório Correia, Seara, Caldas, Simões e Associados, que, como se poderá ver já a seguir, assessorou o Benfica neste processo.

Apenas dois dias depois, a 9 de julho, Célia Falé - que trabalha no gabinete jurídico do Benfica - envia um mail a Paulo Gonçalves com o primeiro esboço do contrato a apresentar a Bruma.


Minutos mais tarde, Paulo Gonçalves reencaminhou o documento para os advogados Miguel Lopes Lourenço e José Seixas, desta vez usando as contas do escritório Correia, Seara, Caldas, Simões e Associados, com um texto que não deixa dúvidas quanto ao que estava aqui em causa.


Vou deixar a análise ao conteúdo do contrato mais para a frente. 

No dia seguinte, 10 de julho, ou seja, um dia antes da rutura entre Bruma e o Sporting, Paulo Gonçalves volta a enviar um mail aos advogados que o auxiliavam neste processo. O plano, como se pode ver, passava pela celebração do contrato entre o Benfica e Bruma logo no dia seguinte.


Existem outros mails trocados durante esse mesmo dia sobre o assunto, incluindo um que continha uma versão revista do contrato a oferecer a Bruma. Ainda a 10 de julho, um mail enviado a Paulo Gonçalves permite perceber que o escritório de advogados contratado pelo Benfica participou também na redação de um documento a assinar por Bruma que, supostamente, atestaria a boa-fé do Benfica em todo este processo. Imagine-se se houvesse má-fé...


Em paralelo às questões burocráticas de desvinculação e assinatura do novo contrato, a agência de viagens parceira do Benfica preparava a saída do país de Bruma e respetiva entourage, com a marcação de uma viagem para o Dubai entre 12 e 17 de julho:



Há dois pormenores que vale a pena ressalvar relativamente a esta viagem. O primeiro é que a data de regresso prevista era 17 de julho porque...

Cláusula do esboço de contrato apresentado pelo Benfica a Bruma

... estava previsto que o contrato com o Benfica se iniciasse no dia 18.

O segundo é relativo a um dos nomes referidos na reserva: Isidoro Gimenez. Trata-se de um empresário muito chegado a Paulo Gonçalves que participaria, dois anos mais tarde, numa outra negociata que ficou conhecida pelos piores motivos: a transferência de Francisco Vera do Rubio Ñu para o Benfica, da qual houve suspeitas, da parte das autoridades paraguaias, da existência dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão fiscal (LINK).

Tudo isto, convém relembrar, aconteceu antes da rutura definitiva entre Bruma e o Sporting.

Nos dias seguintes houve mais trocas de emails entre Paulo Gonçalves e os advogados sobre a elaboração de documentação no âmbito da desvinculação, incluindo a ação a interpor na Comissão Arbitral Paritária. Também existem registos de contactos diretos entre Bebiano Gomes e Paulo Gonçalves, a acertar pormenores relativamente ao processo.


Os indícios já são suficientemente claros, mas creio que deixa de haver quaisquer dúvidas de que havia uma colaboração assumida entre os representantes de Bruma e os representantes do Benfica quando se observa que a solicitadora contratada para notificar o Sporting... enviou a fatura pelos seus serviços para Bebiano Gomes e para os assessores do Benfica. Perante a receção da fatura, advogado do Benfica perguntou a Paulo Gonçalves quem deveria assumir o pagamento desses custos - se o Benfica ou Bruma. Uma dúvida que apenas se coloca por estarem todos a trabalhar em conjunto para o mesmo fim.



Os contornos do negócio

Os emails disponibilizados pelo blogue Mercado de Benfica também nos permitem saber exatamente quais os contornos do negócio que levaria Bruma a assinar com o clube encarnado.

Num dos mails trocados entre Paulo Gonçalves e Célia Falé, a 10 de julho, é enviado um esboço de contrato entre Bruma e o Benfica que teria a duração de 6 épocas, válido entre julho de 2013 e junho de 2019, em que o jogador auferiria um vencimento bruto crescente - começando em 1,2 milhões nas duas primeiras épocas e subindo progressivamente até aos 2 milhões na última época, com a possibilidade de receber mais 400.000 euros por objetivos em cada temporada - e uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros. Bruma iria receber, portanto, um total de 8,9 milhões distribuídos ao longo de 6 anos, aos quais se poderiam somar mais 2,4 milhões caso todos os objetivos fossem cumpridos. Não há referência ao pagamento de qualquer prémio de assinatura para o jogador.

Nada mau para um jogador de 18 anos mas, ainda assim, não é propriamente o contrato de uma vida. O verdadeiro jackpot estava reservado para os intermediários (carregar na imagem para ampliar):


O Benfica pagaria a Isidoro Gimenez o valor de 6 milhões de euros no prazo de 30 dias. Na eventualidade de uma transferência de Bruma para outro clube durante a vigência deste contrato, o Benfica deveria pagar mais 5 milhões a Isidoro Gimenez (perfazendo então um total de 11 milhões). Para além disso, Isidoro ficaria ainda 50% das mais-valias acima de 11 milhões.

E então Catió Baldé e Bebiano Gomes? Ficariam a chuchar no dedo?

Obviamente que não. No mesmo email em que este contrato é enviado, existem outros dois anexos:


Este contrato foi assinado por uma tal de Royal Capital (cujo endereço fiscal é o mesmo da Premier Football Advisors de Isidoro Gimenez) e Catió Baldé, e estipula que Catió Baldé teria a receber dessa empresa o valor de 5 milhões de euros no prazo de 30 dias, e mais 5 milhões na eventualidade de uma futura transferência. Quanto a Bebiano Gomes...


... teria a receber 1 milhão de euros no prazo de 30 dias após a assinatura de Bruma pelo Benfica.

Ou seja, a presença de Isidoro Gimenez parece ser a de mera ponte para evitar a associação direta de Catió Baldé e Bebiano Gomes ao Benfica. Recapitulemos: no prazo de 30 dias após a assinatura, o Benfica pagaria 6 milhões a Isidoro Gimenez, que por sua vez entregaria 5 milhões a Catió Baldé e 1 milhão a Bebiano Gomes. Os 5 milhões a receber numa futura transferência de Bruma que seriam pagos a Isidoro Gimenez, seriam depois entregues na totalidade a Catió Baldé. Não havendo outro qualquer contrato por revelar, conclui-se que Isidoro Gimenez ficaria "apenas" com 50% das mais-valias acima de 11 milhões de euros de uma futura transferência.

Nada mau para um par de meses de trabalho. Infelizmente para eles, a novela não teve o desfecho que pretendiam e os 800.000 euros que o Sporting pagou de comissões na venda ao Galatasaray devem ter servido de fraco consolo em comparação com os 10 milhões que Catió poderia ter encaixado caso o negócio com o Benfica se tivesse concretizado. 


Implicações

O arquivo de emails de Paulo Gonçalves não permite perceber se alguma vez os contratos chegaram a ser assinados pelas diferentes partes, nem a partir de que momento o Benfica desistiu de contratar Bruma.

No entanto, fica perfeitamente claro que o Benfica contactou os representantes do jogador à revelia do Sporting e participou ativamente na tentativa de desvinculação de um atleta que tinha um contrato válido, em óbvia violação do artigo 18 do regulamento de transferências da FIFA.

Como tal, o Sporting pode e deve fazer queixa do sucedido junto das entidades competentes. O Benfica tem de ser punido pelo que fez.


Uma curiosidade adicional

Para além de recorrer ao escritório Correia, Seara, Caldas, Simões e Associados, o Benfica teve também o apoio de um especialista em direito desportivo: Lúcio Correia. Não se percebe se o fez na qualidade de subcontratado ou por amor à causa, já que não é referido em momento algum o valor de honorários a pagar nem de forma explícita que é um apoio gratuito.

Parecer enviado por Lúcio Correia a Paulo Gonçalves a 9 de julho

Envio de Nótula Jurídica que foi anexada ao processo pelos representantes do jogador

Envio de informação de Paulo Gonçalves a Lúcio Correia sobre o caso Bruma

Pelos termos utilizados ("agradeço penhoradamente o teu empenho e dedicação neste assunto", "caso que pretendo acompanhar até ao fim"), diria que Lúcio Correia não agiu como prestador de serviços contratado pelo Benfica ou pelos representantes de Bruma - é apenas a minha opinião perante os dados disponíveis, não havendo nada que a corrobore inequivocamente.

De qualquer forma, não deixa de ser preocupante que uma pessoa que ajudou o Benfica de forma tão empenhada num processo de desvinculação de um jogador do Sporting seja agora a pessoa que, sozinha, está a decidir na CAP a justa causa das recentes rescisões dos sete atletas do Sporting.


Perante o "empenho" revelado por Lúcio Correia no caso Bruma, a mim parece-me que existem conflitos de interesses complicados de ignorar.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

A cláusula de confidencialidade

O Jornal Económico avançou esta manhã que Sousa Cintra terá aceitado, a pedido de Jorge Jesus, anular a cláusula de confidencialidade assinada entre o Sporting e o treinador aquando da sua rescisão.



Não vejo qual é o interesse do Sporting em anular esta cláusula. Se por acaso existiram irregularidades de qualquer tipo de que o treinador tenha conhecimento sobre a gestão de Bruno de Carvalho, não há nada que o impeça de as denunciar ao atual presidente da SAD - pois a cláusula de confidencialidade não é entre Jesus e Bruno de Carvalho, é entre Jesus e o Sporting.

Jesus pode dizer tudo o que quiser aos atuais responsáveis do Sporting, seja a denúncia de irregularidades ou de comportamentos menos corretos do anterior presidente. O que não pode é dizer tudo o que quiser à Comunicação Social, e nesse sentido isso significa que, caso Sousa Cintra aceda à anulação desta cláusula, estará apenas a incentivar a que se continue com a lavagem de roupa suja de assuntos do clube na praça pública. O que ganha o Sporting com isso, exatamente? Só será bom para o ego de Jesus que, assim, poderá sacudir as responsabilidades do fracasso desportivo que foi a sua passagem pelo Sporting - apesar de todas as condições que lhe foram proporcionadas para levar a cabo o seu trabalho com sucesso.

Só compreenderei a anulação da cláusula caso, como contrapartida, Jesus aceite contratar Petrovic e Alan Ruiz pelos mesmos 10 milhões que teria de pagar caso quebrasse o silêncio. Afinal, quem dá 4 milhões para levar Carrillo por empréstimo, não se importará de abrir um pouco mais os cordões à bolsa para levar em definitivo alguns dos craques que impingiu ao clube...

Prós e contras das oito candidaturas

Numa altura em que já se apresentaram oito candidaturas à presidência do Sporting, deixo aqui a minha opinião geral sobre cada uma delas em função do que nos tem sido dado a conhecer.



BRUNO DE CARVALHO

Prós:
  • De todos os candidatos, é o único com experiência no cargo;
  • Conhecimento total de todos os dossiers;
  • Base de apoiantes fiel e mobilizada;
  • Estará como peixe na água nos debates. 

Contras:
  • É quase certo que será suspenso e que não se poderá candidatar à presidência do clube;
  • Elevadíssima taxa de rejeição por causa dos motivos que levaram à sua destituição e também pela reação aos resultados da AG;
  • Margem de crescimento nula, dificilmente recuperará qualquer um dos 71% de votos que o destituíram;
  • Carlos Vieira poderá desviar uma boa parte dos 29% de votos que se opuseram à destituição;
  • Continua a ser um alvo preferencial da Comunicação Social e os inimigos que foi criando não pouparão munições para a sua descredibilização.

Chave para a vitória: Para ter alguma hipótese de vencer, é fundamental que apareçam mais candidaturas fortes que dividam os votos dos seus opositores (e que não existam desistências ou fusões nas principais listas já conhecidas).



CARLOS VIEIRA

Prós:
  • Conhecimento profundo de muitos dossiers fundamentais;
  • Competência demonstrada na pasta financeira;
  • É, de todos os candidatos conhecidos até ao momento, a alternativa mais natural para quem pretende que haja continuidade do trabalho feito e que não queira votar em Bruno de Carvalho.

Contras:
  • Probabilidade elevada de ser suspenso;
  • Imagem desgastada por ter acompanhado Bruno Carvalho até à destituição;
  • Vai ter má imprensa durante a campanha, e é bem possível que seja o alvo preferencial de Bruno de Carvalho.

Chave para a vitória: Precisa de convencer os sportinguistas de que pode ser um líder tão competente como o foi enquanto responsável pelas finanças.



DIAS FERREIRA

Prós:
  • É visto como um senador do clube, e eventualmente poderá ter algum apoio dos sócios da sua faixa etária;
  • Pelo feitio, pode ser que consiga atrair alguns votos de protesto.

Contras:
  • Campanha praticamente inexistente;
  • Não apresentou lista nem programa;
  • Tendo passado como dirigente, dificilmente será visto como uma solução de futuro.

Chave para a vitória: É preciso que rebente uma pandemia que afete apenas cidadãos com menos de 65 anos que os impossibilite de votar no dia 8 de setembro.




FERNANDO TAVARES PEREIRA

Prós:
  • ...

Contras:
  • É uma figura desconhecida para a esmagadora maioria dos sportinguistas;
  • Campanha praticamente inexistente.

Chave para a vitória: ...



FREDERICO VARANDAS

Prós:
  • Percurso de enorme competência como diretor clínico;
  • Foi o primeiro a avançar, e o único a apresentar-se como alternativa antes da Assembleia Geral de destituição;
  • Conseguiu um quase monopólio dos apoios dos sportinguistas mais conhecidos, ao ponto de nenhum outro candidato se atrever a formar comissões de honra.

Contras:
  • Tem-se revelado um mau orador, o que dificulta imenso uma transmissão eficaz da sua mensagem e das suas ideias;
  • A escolha de Rogério Alves para PMAG, conhecendo-se a sua posição sobre assuntos muito delicados como a questão da presidência da SAD, poderá levantar dúvidas sobre o modelo de governação do clube e SAD que será aplicado em caso de vitória;
  • Apoios tão abrangentes poderão ser difíceis de controlar, mesmo (e principalmente) durante a campanha, sendo que nomes como o de Luís Duque afastam automaticamente um grande número de sócios.

Chave para a vitória: Precisa de convencer os sportinguistas de que pode ser um bom líder, capaz de gerir os muitos interesses que reuniu à sua volta, e que tem competências técnicas suficientemente abrangentes para poder ser um bom presidente. Precisa de ir bem preparado para os debates, pois vai ser o alvo número um a abater para a maior parte dos candidatos.



JOÃO BENEDITO

Prós:
  • É uma das principais figuras do clube das últimas duas décadas, com uma carreira absolutamente fantástica;
  • Lista composta por outros ex-atletas do clube com um passado de glória, o que é refrescante;
  • Carismático e bom orador.

Contras:
  • Ainda não se percebeu exatamente quais são os apoios da candidatura.

Chave para a vitória: Terá de ter muito critério na escolha das pessoas que o rodearão. À semelhança de Frederico Varandas, terá de demonstrar que tem os conhecimentos técnicos necessários para poder ser um bom presidente.



PEDRO MADEIRA RODRIGUES

Prós:
  • Parece ter aprendido com os erros cometidos na campanha de 2017;
  • O facto de ter concorrido em 2017 dá-lhe uma certa legitimidade adicional em relação a outras candidaturas.

Contras:
  • Será muito complicado inverter a imagem geral que deixou em 2017;
  • Algumas das ideias que apresenta não são exequíveis (formar uma equipa de basquetebol ao nível das equipas gregas) nem oportunas (como o anúncio de Ranieri, considerando que o campeonato já estará em andamento à data das eleições), pelo que são puramente demagógicas.

Chave para a vitória: Não vejo como poderá ganhar ou sequer ter uma votação expressiva. Pode, no entanto, fazendo uma boa campanha, garantir um melhor posicionamento para futuras eleições. É o máximo a que pode ambicionar.



ZEFERINO BOAL

Prós:
  • ...

Contras:
  • Não sendo um desconhecido, as intervenções feitas ao longo dos últimos anos não lhe conferem grande credibilidade junto da maior parte dos sportinguistas;
  • Desconhece-se a lista e apoios.

Chave para a vitória: ...

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A candidatura de João Benedito

João Benedito fez, no final desta manhã, a apresentação da sua candidatura à presidência do Sporting. O antigo capitão da equipa de futsal do Sporting anunciou três nomes que o acompanharão: Carlos Pereira, Ricardo Andorinho e Pedro Miguel Moura. Referiu também que, caso vença as eleições, será presidente do clube e presidente da SAD, que o diretor desportivo para o futebol será um antigo atleta que foi campeão pelo clube e com enorme experiência nacional e internacional. Quando questionado sobre a continuidade de José Peseiro, João Benedito respondeu que conta com todos os treinadores que estão neste momento ao serviço do clube: Peseiro, Nuno Dias, Hugo Canela, Hugo Silva, Paulo Freitas e Nuno Cristóvão.

O programa da candidatura pode ser lido aqui: LINK.

Quem não viu, pode assistir à apresentação nos vídeos abaixo. O discurso divide-se pelo 1º (houve alguns problemas com a instalação sonora nos momentos iniciais) e pelo 2º vídeo, e as respostas aos jornalistas estão no 3º vídeo.







Para quando uma decisão, senhores?

Ontem na SIC Notícias, após a entrevista de Bruno de Carvalho, realizou-se um debate sobre a situação atual do Sporting com a presença de Diogo Orvalho, Eduardo Garcia e Rui Calafate. Finalmente, vi ser debatido um dos temas que mais me incomodam de momento: o prolongamento indefinido da suspensão de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira, numa altura em que o prazo limite para a entrega de candidaturas se aproxima a passos largos.

Recomendo que comecem por ver o vídeo seguinte, e depois irei desenvolver este tema.


Bruno de Carvalho, Carlos Vieira e os restantes elementos dos órgãos sociais que se mantiveram em funções até à AG de destituição foram suspensos pela Comissão de Fiscalização liderada por Henrique Monteiro no dia 13 de junho. Já se passaram 37 dias desde essa data. Entretanto, iniciou-se um processo eleitoral e é do conhecimento geral que essas pessoas têm a intenção de se recandidatar. O problema é que, a apenas 19 dias do limite de entrega das assinaturas que permitem a oficialização das respetivas candidaturas, ainda não sabem se efetivamente poderão avançar. E, pior, ninguém dos atuais órgãos sociais avança com uma data para a tomada e divulgação da decisão.

Isto, na minha opinião, é uma situação muito grave que deveria merecer outro tipo de tratamento por parte da Comissão de Fiscalização - enquanto órgão que decidiu suspender os sócios em causa e que tomará a decisão final - e também da MAG - enquanto representante de TODOS os sócios. Goste-se ou não, a verdade é que existe um conjunto considerável de sócios que se revê nas candidaturas de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira e que, neste momento, não só não sabem se poderão votar nessas listas, como nem sequer sabem se há necessidade ou não de constituir uma lista alternativa, sem elementos suspensos, que defenda as mesmas ideias / linha de atuação e se possa apresentar a eleições. 

Esta situação de limbo não é aceitável porque poderá inquinar o processo eleitoral e colocar em causa a legitimidade de quem as vencer. E não é aceitável que a Comissão de Fiscalização e a MAG se refugiem em tecnicalidades processuais para justificar uma demora intolerável na tomada de decisão. 

A falta de bom senso fica bem patente nas incongruências das justificações de Diogo Orvalho para o prolongar da situação. Começou por dizer:
"não se gere o Sporting com base no facilitismo. Gere-se o Sporting na base dos estatutos e dos regulamentos aprovados que os sócios legítima e democraticamente aprovaram em Assembleia Geral; os prazos legais existem e são para cumprir"

Mas logo a seguir acrescentou: 
"o principal atraso deve-se aos próprios sócios visados no processo disciplinar, porque apresentaram a resposta à nota de culpa dois dias após o prazo legal de que dispunham" 

Das duas, uma: ou os regulamentos e os prazos que os sócios legítima e democraticamente aprovaram em Assembleia Geral são para se cumprir - e isso tem de ser válido para todos, doa a quem doer -, ou reconhece-se a situação excecional que atravessamos e agiliza-se tudo o que puder ser agilizado, com o máximo de isenção e competência. Mas na prática não se vê nem uma coisa nem outra: quase que parece que estão interessados em deixar correr os processos disciplinares tanto tempo quanto possível. Independentemente das causas que se possam alegar, não há desculpas para ainda haver esta incerteza em relação à possibilidade de os sócios em causa se poderem ou não candidatar. A Comissão de Fiscalização tem assim tantos assuntos importantes em mãos para se ocupar?

O que me parece certo é que não está a haver, por parte dos órgãos sociais, um tratamento responsável da situação. Esta incerteza sobre se é quando a decisão será tomada - independentemente do sentido dessa decisão - não protege os interesses do Sporting e isso, a meu ver, apenas pode ser lido de duas formas: ou os elementos desta Comissão de Fiscalização não têm a consciência do mal que este impasse pode fazer ao clube... ou então andam a brincar às estratégias eleitorais para condicionar a criação de listas que representem esta parcela não desprezável dos sócios do Sporting.

Ilibe-se, suspenda-se ou expulse-se, mas há que concluir estes processos de imediato. Para quando uma decisão, senhores?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O plantel

Ao fim de um par de semanas de trabalho e de um estágio que nos permitiu observar os jogadores (as contratações, e os que já cá estavam num novo contexto) a pôr em prática as ideias de José Peseiro, creio que já se pode fazer um balanço provisório da qualidade do plantel colocado à disposição do treinador. Vou separar a análise por posição. 

A itálico estão os jogadores de quem se diz serem considerados transferíveis ou dispensáveis.


Substituir Rui Patrício seria sempre um problema bicudo para o Sporting, mas a contratação de Viviano parece ser, até ver, uma excelente solução considerando o investimento feito. O italiano impressionou nas suas primeiras atuações, mostrando inclusivamente ser um upgrade relativamente a Patrício ao nível do controlo da profundidade - que, como se sabe, era o ponto fraco do nosso antigo guarda-redes. A amostra de jogos é ainda muito pequena, ainda é cedo para perceber qual será a consistência de Viviano ao longo da época, mas para já estou perfeitamente tranquilo em relação à baliza. A notícia de hoje d' A Bola ("Viviano ainda pode sair devido a excesso de peso e pouco empenho") só faz sentido na ótica mendesiana de arranjar espaço para nos impingir André Moreira.


Mais do que lateral, Piccini é um central que joga encostado à linha. Defensivamente é de topo, mas ofensivamente é muito curto para a maior parte dos jogos que o Sporting faz. Na época passada foi complementado por Ristovski, que apesar de ter maior apetência ofensiva, também nunca foi capaz de ser um lateral disruptivo no ataque. Bruno Gaspar poderá ser esse lateral. É provável, no entanto, que Piccini seja transferido. Mesmo que isso aconteça, acho que ficaremos melhor servidos de laterais direitos para consumo interno.


Não acredito que Coentrão regresse, nem sequer sei se seria bom se voltasse considerando o salário e a condição física. Já se percebeu que Acuña é curto para extremo (ainda mais em 4-3-3), mas pode dar um lateral bastante competente. Assim, não vejo que seja necessário investir nesta posição, há outras lacunas bem mais urgentes. Manteria Lumor no plantel para ir desenvolvendo, e cederia Jefferson e Jonathan à melhor oferta.


Mantendo Coates e Mathieu, continuaremos a ter uma das melhores duplas de centrais de que me lembro. Esta época haverá, no entanto, mais alternativas, de qualidade suficiente para 3ªs e 4ªs opções (na época passada chegámos a usar William e Petrovic como centrais).


Está mais que provado que Petrovic é curtíssimo para o que precisamos. Palhinha poderá vir a ser o que precisamos, mas precisa de tempo e minutos de jogo. Esta posição é, claramente, uma das duas que necessitam de ser reforçadas urgentemente. Um eventual regresso de Battaglia poderia resolver satisfatoriamente a lacuna existente.


Há fartura em quantidade (e ainda há Bruno Fernandes e Geraldes, que poderão desenrascar como box-to-box), dúvidas em relação à qualidade. Conseguirá Wendel afirmar-se como "a" solução? Para já, Peseiro tem colocado o brasileiro a jogar mais adiantado, o que não se compreende. Conseguirá Misic ser alternativa? Para já, Peseiro tem colocado o croata a jogar mais recuado, o que também não o ajuda.


Já tínhamos o melhor jogador da liga, e agora juntamos dois jogadores de grande qualidade. Nani Aqui há fartura.


É verdade que não há Gelson, um abre-latas de que iremos sentir muita falta em certos jogos contra adversários muito fechados, mas parece-me que estamos melhor servidos agora do que na época passada. Mas há muito mais alternativas. Matheus e Raphinha têm condições para se afirmar como jogadores muito influentes, com o bónus de gostarem de aparecer em zonas de finalização. E ainda se pode juntar Nani, que pode jogar em qualquer uma das alas.


O horror. O drama. Não basta uma contratação, precisamos de duas de grande qualidade.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

A candidatura de Carlos Vieira

Carlos Vieira apresentou ontem, ao final da tarde, a sua candidatura à presidência do Sporting. Confirma-se, portanto, a cisão entre os elementos do Conselho Diretivo que permaneceram em funções até à sua destituição na AG do passado mês.

Gostei do discurso de lançamento da candidatura e de algumas das ideias propostas. Para quem não viu, pode fazê-lo aqui:



Sempre apreciei o trabalho discreto mas competente de Carlos Vieira ao longo dos cinco anos em que esteve no Sporting. Se, em abril ou até mesmo logo após os acontecimentos da Academia, Carlos Vieira se tivesse afastado - ao invés de ter permanecido ao lado de Bruno de Carvalho até ao fim -, seria um candidato que eu apoiaria sem reservas. No entanto, ter decidido ir até ao fim com Bruno de Carvalho - recusando sair ou aceitando sequer a hipótese de marcação de eleições para uma data conveniente - poderá ser-lhe prejudicial aos olhos dos sportinguistas. Pelo menos, aos meus olhos, foi prejudicial. É certo que essa sua decisão pode ser vista como demonstração de lealdade - que é uma qualidade importante -, mas também se pode alegar que essa lealdade para com o presidente era devida em primeiro lugar ao Sporting.

Ainda assim, será um nome forte que terá de ser levado a sério. Há, no entanto, um grande problema e um grande desafio que terá de ultrapassar: está neste momento suspenso e não é nada certo que possa vir de facto a concorrer; e, no caso de poder concorrer, terá de ser muito convincente de que tem capacidade para sair da sombra de Bruno de Carvalho e ser o líder de que o Sporting necessita. 

Há ainda a teoria de que poderá estar em conluio com Bruno de Carvalho para colocar o ex-presidente na SAD caso ganhe as eleições. Isso não faz qualquer sentido, por dois motivos:
  • se Bruno de Carvalho for suspenso, então Carlos Vieira também será suspenso;
  • Bruno de Carvalho e Carlos Vieira, estando em conluio, não teriam nada a ganhar em apresentar duas listas que dividirão a sua base de apoio; nas eleições do Sporting não há hipóteses de formar coligações ou geringonças, ganha a lista que tiver mais votos, mesmo que sem maioria absoluta; logo, concorrendo os dois em separado, terão inevitavelmente menos hipóteses de conseguirem ser a lista mais votada.

Fazendo um curto comentário às propostas apresentadas por Carlos Vieira, destaco pela positiva a construção de uma nova Academia para o futebol na região de Lisboa. Havendo meios financeiros, acho muito importante que isso aconteça: o isolamento de Alcochete e a distância para Lisboa prejudica o recrutamento de jogadores jovens e o acompanhamento dos jogos das equipas jovens e de futebol feminino pelos sportinguistas. É uma reforma estruturante que deverá ser levada a sério pelo futuro presidente, seja ele quem for. Pela negativa, não percebo a necessidade de distribuição de dividendos. A SAD tem demasiados desafios pela frente para estar preocupada em ver-se livre de parte dos poucos lucros que vai conseguindo ter. Percebo que é um piscar de olho aos acionistas, mas eu, enquanto sócio, não gosto da ideia.

Fiquemos agora à espera do programa, da lista... e da decisão do CFD sobre a suspensão do antigo CD.

A venda de William

No princípio da noite de ontem, multiplicaram-se as notícias de que William Carvalho assinou pelo Bétis, havendo também um acordo de verbas entre o clube espanhol e o Sporting para que a transferência se concretize de forma não litigiosa. O montante do negócio ainda não é oficialmente conhecido, mas ao longo da noite foram sendo reportadas versões diferentes: 17 milhões + 8 variáveis, 15 milhões + 10 variáveis, e 20 milhões + 10 variáveis.

Recordo que já saíram notícias semelhantes sobre um acordo por Gelson Martins com o Atlético Madrid que, até ver, não se concretizou oficialmente, o que significa que convém não tirar já juízos definitivos sobre a atuação da atual administração no eventual negócio de William Carvalho.

Mas se estes números se vierem a confirmar, a direção liderada por Sousa Cintra deverá revelar aos sportinguistas quais são os objetivos que têm de ser cumpridos para que o Sporting receba a componente variável do acordo. 

Vou pegar nos 17+8M, por não ser nem a proposta mais favorável nem a proposta mais desfavorável: entre 17 e 25 milhões existe uma diferença substancial que separa um mau negócio (que não se deveria fazer) e um bom negócio (considerando as atuais circunstâncias). 

É claro que há um ano nunca imaginaríamos que William pudesse ser negociado por estes valores, mas a realidade alterou-se muito de lá para cá, e é com a realidade atual que esta CG tem de trabalhar. Isso, no entanto, não dispensa a CG de prestar contas aos sócios pelas suas decisões. Não será possível perceber se, confirmando-se estes números, estamos perante um bom ou um mau negócio sem conhecermos exatamente o que foi acordado pelos dois clubes. Sei que não é habitual revelar os detalhes da componente variável das transferências, mas neste caso, por uma questão de transparência, é fundamental que isso seja feito. Os sócios têm o direito de saber.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

De regresso a casa



O Sporting anunciou ontem a contratação de Nani para as próxima duas épocas, com mais uma de opção. O clube comunicou à CMVM que o jogador veio a custo zero, com o Valência a ficar com direito a 40% de uma futura venda. Não foi estabelecida uma cláusula de rescisão, o que demonstra que o jogador e o clube tencionam cumprir o contrato na totalidade.

Nani tem 31 anos (faz 32 em novembro) e vem de uma época pouco positiva em Itália, onde teve uma utilização escassa na Lazio. Não tem tido sorte com as lesões - no ano civil de 2017, enquanto esteve no Valência e em Itália, contraiu uma lesão no joelho e várias lesões musculares que o afastaram cerca de cinco meses dos relvados. Está longe do seu auge e veremos até que ponto conseguirá estar ao nível da excelente primeira metade da época que realizou na sua última passagem pelo Sporting.

Apesar disto e não sabendo detalhes do salário que virá auferir, parece-me, no entanto, um bom reforço para o Sporting: tem seguramente valor mais que suficiente para ser um desequilibrador no futebol português, vem preencher uma posição que necessitava de alternativas, e, sobretudo, acho importante existir no plantel uma referência da formação depois das rescisões de jogadores como Patrício, William ou Gelson.

Bem-vindo de volta a casa, Nani!