quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Fake News Clube de Portugal

Depois de uma campanha eleitoral que nos ofereceu demasiados casos de rumores, mentiras e manipulação de informação, os primeiros dias pós-eleições nao têm ficado atrás: têm sido particularmente férteis ao nível das polémicas criadas e alimentadas nas redes sociais sobre a direção que os sócios escolheram no último sábado.

No domingo, dia em que os novos órgãos sociais tomaram posse, estiveram presentes na cerimónia duas ex-funcionárias do Sporting do tempo de Godinho Lopes. Apesar de a tomada de posse ser uma cerimónia aberta ao público, isso foi o suficiente para que muita gente dissesse que essas duas ex-funcionárias estavam de volta ao clube e que isso comprovava que o godinhismo estava de regresso - apesar de não haver qualquer prova que efetivamente sustentasse essa tese.


Outro rumor que circulou na segunda-feira foi a contratação do jornalista Pedro Sousa como novo diretor de comunicação do Sporting. Nunca cheguei a perceber de onde partiu esse boato, mas suspeito que tenha sido uma conclusão que surgiu a partir da comparação dos homens do futebol de Godinho Lopes com os de Frederico Varandas: como havia vários pontos em comum (uns factuais, outros nem tanto) entre as duas estruturas, então alguém terá chegado à conclusão disparatada (ou mal intencionada) de que Pedro Sousa também estaria de volta... e começou-se a falar disso como se de um dado adquirido se tratasse. Devo dizer que aprecio Pedro Sousa como jornalista, mas não vejo qualquer espaço para o seu regresso ao Sporting - considerando o prolongado contencioso que tem com a SAD e, pior, pelo facto de se ter sabido através do processo Lex que houve um pedido de José Veiga a Rui Rangel para agilizar esse processo judicial a favor de Pedro Sousa. A sua entrada afetaria negativamente a confiança de muitos sócios nesta nova direção, pelo que não me parece haver qualquer fundo de verdade nesta possibilidade. O tempo o dirá.

Mas o dia de ontem conseguiu ser ainda mais rico na geração de boatos. Começou com uma interpretação incorreta de uma frase de António Salvador (que podem ver na imagem à esquerda). Houve quem a visse como uma provocação a Varandas e ao Sporting (pelo uso da palavra desertor) e exigisse de imediato uma resposta do clube, quando, na realidade, essa frase de Salvador era dirigida às jogadoras que no defeso trocaram o Braga pelo Benfica.

Continuou com uma outra notícia do jornal O Jogo, que incluiu o nome de Pedro Silveira na lista de elementos dos órgãos sociais em funções. Foi o suficiente para se gerar de imediato um clamor de indignação, apesar de ser fácil verificar que se tratava de uma informação falsa: bastava recordar que Pedro Silveira não esteve presente na tomada de posse ou, em alternativa, consultar a página dos órgão sociais do site do Sporting para desmontar o erro.

Seguiu-se, depois, um boato de que Varandas vai ganhar 30.000 euros mensais como presidente do Sporting. Mais uma vez, algo que é muito improvável e sem qualquer fonte que o suporte, mas nem por isso se deixaram de tocar as sete trombetas do apocalipse.


Depois, foi a revolta pelo facto de Varandas ir nomear Artur Torres Pereira como administrador da SAD, por causa de uma ata de uma AG da SAD - mas que dizia respeito à nomeação de elementos do CG para a SAD em junho. Como é óbvio, mais um rumor sem qualquer ponta de verdade e que nem devia ter chegado a ser tema: Varandas foi o único candidato que, na campanha, indicou detalhadamente a composição do seu Conselho de Administração da SAD e Artur Torres Pereira, evidentemente, nunca foi um desses nomes.

O dia não terminaria sem a partilha em massa de um suposto post de Nélson Pereira em que se defendia acerrimamente a direção anterior... mas que o próprio Nélson Pereira, pouco tempo depois, acabaria por desmentir ser seu.

São coisas que, por si só, não têm grande importância. Mas a verdade é que, em conjunto, têm gerado demasiado ruído ao longo destes dias, alimentados sobretudo por sportinguistas que se recusam a aceitar a legitimidade desta nova direção. Entendo a frustração pelo desenrolar dos acontecimentos, mas não consigo encontrar outra justificação para esta propagação sistemática de mentiras que não seja o intuito de se criar um clima de instabilidade que... não se percebe bem a quem poderá ser útil. Ao Sporting não será de certeza.

Como não é previsível que essa postura mude em breve, resta aos sportinguistas (pelo menos aqueles que estão dispostos a dar o benefício da dúvida à nova direção) serem mais criteriosos na escolha das suas fontes e terem o cuidado de cruzar informações quando surgir alguma revelação que cheire a esturro.

A mim, o que me parece, é que os promotores desta enxurrada de fake news estão a fazer exatamente aquilo que criticavam (e com razão) na campanha negativa levada a cabo pela oposição que, no primeiro mandato de Bruno de Carvalho, foi designada por sportingados. Quanto tempo faltará para começarem a pagar outdoors na segunda circular com imagens de fivelas?