terça-feira, 4 de dezembro de 2018

"Every game is a test", mas há games que são testes mais exigentes do que outros

"Every game is a test": foi desta forma sóbria que Marcel Keizer respondeu na flash interview à questão sobre se considerava o jogo de ontem o primeiro teste a sério à sua equipa. É verdade que cada jogo é um teste e muitas vezes os dissabores surgem quando menos se espera, mas não se pode colocar em causa que esta deslocação a Vila do Conde era visto por muita gente - yours truly incluído - como um desafio muito sério à adaptação das ideias de jogo de Keizer ao cinismo do futebol português.

E o veredicto final em relação a este teste não deixa dúvidas: foi superado, de forma muito satisfatória. Não só voltámos a ver a equipa criativa e veloz na procura do golo que passeou em Baku, mas também nos foi apresentado um Sporting inteligente e pragmático na altura de gerir o resultado e o esforço - algo inevitável apenas quatro dias depois de um jogo europeu que nos obrigou a uma deslocação aos confins do continente.




Primeira parte com nota artística - foi uma bela forma de dar continuidade à excelente exibição contra o Qarabag. A primeira parte contra o Rio Ave apresentou novamente um Sporting a jogar simples, rápido e de forma objetiva, com uma circulação de bola dinâmica capaz de gerar espaços e de chegar com facilidade à área adversária. Bruno Fernandes foi o homem do jogo, mas há também que dar o devido destaque ao excelente supporting cast que o rodeou: o entendimento entre si e Gudelj, Wendel, Acuña, Nani e Dost parece cada vez melhor. Vantagem no marcador logo a abrir, excelente reação ao golo do empate com um domínio que nos colocou de nov na frente e que só afrouxaria aos 40', com bastantes ocasiões para marcar pelo meio.

Segunda parte pragmática - tendo o Rio Ave a obrigação de assumir maior despesa na procura do golo do empate e havendo o desgaste acumulado pós-Qarabag, o Sporting soube adaptar-se às circunstâncias e teve capacidade para gerir o resultado. Houve alguns arrepios, é certo - com Renan a mostrar serviço -, mas até acabou por dar direito à ampliação da vantagem. Com o 3-1 feito, houve capacidade para congelar o jogo nos minutos finais.

O golo de Jovane - foi de bola corrida, mas mais pareceu uma bola parada sem barreira. Com o esférico imobilizado, saiu um remate espontâneo ao ângulo, tão imprevisível quanto indefensável, que fechou o resultado da melhor forma possível. Um golaço de um jogador que continua a corresponder da melhor forma sempre que sai do banco.

100 - o jogo de 100 de Dost foi assinalado com uma referência nas costas da camisola do holandês... e com mais um golo. Nem podia ser de outra forma.

As substituições - Keizer esteve bem em tirar Acuña, já que tudo indicava que a tolerância de Xistra estava esgotada e o segundo amarelo estava apenas a uma falta de distância. Esteve bem também ao tirar Diaby, que estava a passar ao lado do jogo, para lançar o joker Jovane. E esteve bem ao tirar o desgastado Wendel para colocar Bruno César, de forma a procurar manter o controlo do meio-campo. Considerando o pouco tempo de trabalho com estes jogadores e a falta de contacto com as particularidades do futebol português, é animador ver o treinador a fazer uma leitura tão acertada do que o jogo estava a dar e dos riscos que se apresentavam.



Sustos - houve na primeira parte um par de sustos evitáveis em que Renan facilitou a jogar com os pés, que seriam compensados por três intervenções preciosas do guarda-redes na segunda parte que evitaram golos do Rio Ave que pareciam certos.

Ineficácia - foram imensas as oportunidades de golo criadas durante a primeira parte, suficientes para deixar o jogo resolvido ao intervalo: Mathieu, Coates, Dost e Diaby tiveram condições para finalizar melhor, e Bruno Fernandes obrigou Leo Jardim a grande intervenção. Felizmente esses golos falhados acabaram por não fazer falta.



MVP - Bruno Fernandes

Nota artística - 4

Arbitragem - Não se justificam os protestos dos jogadores do Rio Ave no primeiro golo, pois houve Gudelj sofreu uma carga e a falta foi marcada a uma distância aceitável. O lance de Mathieu com Vinicius era de avaliação muito complicada, e compreende-se que árbitro e VAR tenham deixado seguir. Xistra mostrou muitos cartões mas foi coerente na exibição de cartões, ainda que se possa dizer que Acuña teve sorte por não ter visto o segundo amarelo no final da primeira parte.



Estreia auspiciosa de Keizer no campeonato, com mais uma vitória convincente a fechar uma sequência de três jogos disputados fora de Alvalade. Seguem-se agora, previsivelmente, duas estreias num jogo só: a primeira partida em casa, e o primeiro adversário da I Liga (Aves) que estacionará o autocarro e apostará ofensivamente apenas no aproveitamento de eventuais erros dos nossos jogadores. Uma coisa é certa: com este arranque, este treinador e o futebol que trouxe merecem um estádio cheio para o receber.