quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Sportingmarkt

O Sporting tem tido um mês de janeiro bastante movimentado em termos de contratações, vendas e dispensas. A dois dias do fim da janela de transferências, a situação de entradas e saídas é a seguinte:

Entradas

Aquisições: Luis Phellype, Doumbia, Matheus Nunes, Ilori, Plata, Borja (?), Neto (?)

Regresso de empréstimo: Geraldes


Saídas

Vendas: Marcelo, Demiral, Acuña (?)

Dispensa: Bruno César

Empréstimo: Viviano, Lumor, Gauld, Misic, Alan Ruiz, Mané

Cancelamento de empréstimo: Sturaro



Vou organizar os comentários que tenho a fazer em cinco pontos:


1. Redução da folha salarial 

Para além da óbvia necessidade de reforçar as posições mais carenciadas, havia uma outra prioridade para esta janela de transferências: limpar a folha salarial de jogadores que pouco ou nenhum valor desportivo acrescentam ao plantel. Sousa Cintra fez um trabalho desastroso ao nível da definição do orçamento do futebol para a época. Mesmo sabendo que não iria ter receitas da Liga dos Campeões, não fez o obrigatório ajuste dos níveis salariais do plantel. Tirando Seydou Doumbia, não conseguiu desfazer-se de nenhum peso morto e o resultado está à vista: não só ficámos com um plantel desequilibrado e carregado de jogadores inúteis, como também conseguiu a proeza de aumentar (!) a massa salarial total dos jogadores em relação a 2017/18, com todas as consequências que isso tem ao nível da tesouraria.

Como tal, temos de ver como positivas as movimentações ao nível da dispensa de jogadores, que permitem trazer um pouco mais de equilíbrio às contas anuais. Diria que falta apenas arranjar colocação para Castaignos.


2. Scouting em ação

Uma das bandeiras da candidatura de Frederico Varandas foi a constituição de um gabinete de scouting capaz de melhorar a capacidade de contratação do clube. Esta janela de transferências é o primeiro grande teste para esta direção ao nível das movimentações de mercado, e parece-me seguro dizer que já se vê o dedo do departamento de scouting numa percentagem elevada das aquisições efetuadas. 

O Sporting contratou três jogadores relativamente desconhecidos em mercados pouco óbvios. Idrissa Doumbia é um médio com características muito interessantes: fisicamente muito possante e hábil com a bola nos pés, pode dar o músculo de que o nosso meio-campo necessita sem comprometer as ideias de jogo de Marcel Keizer. Cristian Borja é um lateral que foi nomeado para o XI ideal da liga mexicana em várias publicações daquele país. Gonzalo Plata, com apenas 18 anos, é visto como um jogador de grande potencial, veloz, com um pé esquerdo muito interessante. São contratações de pouco risco financeiro - a atual situação de tesouraria não permite grandes investimentos - com elevada margem de valorização, mas de algum risco desportivo quanto aos objetivos imediatos do Sporting. Veremos durante os próximos meses se estas apostas foram ou não certeiras.


3. Dança de laterais esquerdos

Parece-me evidente que o Sporting tem necessidade de fazer um encaixe significativo com vendas para ter condições para se reforçar e para fazer face às necessidades de tesouraria até ao final da época. Dos jogadores com mais mercado, suponho que Acuña fosse visto como aquele cuja falta seria menos sentida em caso de transferência.  

Ainda não são conhecidos os montantes exatos, mas fala-se num negócio que totaliza 20 milhões, dos quais 2 a 4 milhões serão por objetivos. Se esses valores variáveis forem alcançáveis, parece-me uma venda bastante razoável para um lateral com a idade, qualidades e defeitos de Acuña. 

O principal problema é o futuro imediato: como correrá a substituiçao de Acuña? Jefferson não é fiável e Borja terá que fazer o seu percurso de adaptação a um futebol bem diferente do que está habituado. É uma movimentação de risco, e teremos de esperar para ver se esta dança de laterais terá ou não consequências para o cumprimento dos objetivos que temos nas competições em que estamos envolvidos.


4. Polémica à italiana

Passaram três treinadores, mas Viviano saiu sem ter realizado um único minuto em jogos oficiais. É um mistério que fica por esclarecer, mas, perante a sua não utilização, impunha-se a cedência do guarda-redes italiano devido ao elevado salário que aufere. 

Sturaro foi um movimento de mercado irresponsável que poucas pessoas terão compreendido. Não cabe na cabeça de ninguém que se contrate por empréstimo alguém que não se sabe bem quando ficará disponível para ser utilizado. Como não poderia deixar de ser, tinha de ser devolvido à procedência. A Juventus assumiu os salários de Sturaro durante o período de lesão, mas não foi anunciado publicamente se houve algum valor pago pelo Sporting à Juventus pela cedência do atleta. Fica por saber, portanto, se esta brincadeira implicou alguma despesa para o Sporting.


5. A doação de Demiral aos turcos

Demiral era visto como um central muito promissor e não era difícil adivinhar que as condições do empréstimo fechado por Sousa Cintra ao Alanyaspor tinham tudo para correr mal ao Sporting. O jovem central impôs-se com facilidade e, em apenas cinco meses, foi chamado à seleção principal e acabou transferido para Itália, permitindo ao clube turco duplicar o valor investido. 

Foi um péssimo negócio para o Sporting, mas também há que dizer que o próprio clube podia ter gerido de forma bastante mais competente o desenvolvimento de Demiral nos dois anos em que andou por Alcochete.